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Especialista prevê queda do dólar em 99
do enviado especial
Quem imagina que a forte turbulência nos mercados cambiais do
planeta está no fim que ouça a previsão de um dos maiores especialistas em economia internacional,
Fred Bergsten.
"Um dos grandes eventos econômicos globais de 1999 tende a ser
um forte declínio na taxa de câmbio do dólar", diz ele.
Bergsten preside o Instituto para
Economia Internacional.
Como é óbvio, pela sua hegemonia como moeda de referência global, uma eventual desvalorização
acentuada do dólar terá conseqüências para todo o planeta.
Para o Brasil, podem ser negativas, se estiver correta outra previsão de Bergsten: o surgimento de
"uma grande variedade de pressões protecionistas nos Estados
Unidos".
Motivo: o déficit das contas externas norte-americanas (US$ 300
bilhões previstos para este ano, ou
3,5% de seu PIB). Era nesse patamar que o déficit dos EUA estava
na metade dos anos 80, época em
que o dólar perdeu mais de 50% de
seu valor ante o marco alemão e o
iene japonês.
Pior: o protecionismo, prevê
Bergsten, se voltará, entre outros
setores, para as indústrias de aço
(o que, aliás, já está ocorrendo),
têxteis e produtos agrícolas -exatamente aqueles em que a desvalorização do real tornaria a produção
brasileira mais competitiva.
Bergsten engrossa o coro pela introdução do que chama de "flexibilidade controlada" do câmbio
entre as três grandes moedas (dólar, marco e iene).
Quer dizer o seguinte: os governos estabeleceriam uma banda de
flutuação para a relação entre elas.
Sempre que o limite máximo ou
mínimo da banda estivesse sendo
violado, interviriam, comprando
ou vendendo, para restabelecer o
equilíbrio.
Bergsten usa um argumento que
serve para o presente regime brasileiro de livre flutuação cambial: "A
flutuação freqüentemente degenera em prolongados desalinhamentos que montam o cenário para novos surtos de instabilidade financeira".
A previsão de turbulência para o
futuro imediato -e talvez para o
não tão imediato- é virtualmente
consensual entre participantes do
29º encontro anual do Fórum Econômico Mundial, no qual Bergsten
apresentará hoje sua previsão sobre o dólar.
Basta dizer que Charles Dallara,
diretor-gerente do Instituto de Finança Internacional, o conglomerado dos grandes bancos planetários, pergunta: "Sobreviveremos a
1999 na economia global? E como o
faremos?".
Resposta (otimista) de Kenneth
Courtis, economista e estrategista-chefe do Deutsche Bank para a
Ásia-Pacífico: "Sobreviveremos
porque o mundo está fazendo um
esforço sem precedentes de reflação da economia".
Reflação é o neologismo que
Courtis criou para contrapor-se
com a deflação, que significa uma
queda generalizada nos preços,
causando forte contração da economia.
O economista do Deutsche Bank
cita, por exemplo, o fato de que, de
outubro para cá, 74 bancos centrais no mundo reduziram seus juros. Ele prevê que virão novas quedas nas taxas e, também, nos impostos, tudo para relançar o crescimento econômico.
Mas, se essa "reflação" não funcionar, os números apresentados
pelo próprio Courtis são assustadores. Dois deles:
1 - Há um excesso de produção
no mundo. Só de automóveis, são
produzidas 60 milhões de unidades, para vendas que não passam
de 44 milhões. O excedente iguala a
produção da Europa Ocidental.
2 - Há, igualmente, excesso de
endividamento. Os 100 principais
bancos dos países mais ricos do
mundo têm empréstimos a mercados emergentes no valor de US$
2,4 trilhões.
Mas seus ativos não passam de
US$ 1,6 trilhão, assim mesmo contando US$ 300 bilhões de bancos
japoneses, que são mais virtuais
que reais.
"Se a Indonésia, a Rússia e o Brasil pagarem apenas US$ 0,65 por
dólar que tomaram emprestado,
haverá uma perda de US$ 800 bilhões para os bancos, ou exatamente a metade de seus ativos",
aterroriza Courtis.
Detalhe: no encontro de 98 do
Fórum, foi Courtis quem previu
que o real desabaria em mais ou
menos seis meses, o que lhe valeu
ser chamado de "palpiteiro" pelo
presidente Fernando Henrique
Cardoso.
(CR)
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