São Paulo, domingo, 29 de fevereiro de 2004

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Para especialistas, falta de políticas para ampliação do mercado interno prejudica combate à desigualdade

Retração pode ameaçar agenda social de Lula

DE NOVA YORK

O desempenho pífio do PIB (Produto Interno Bruto) brasileiro em 2003 vai tornar mais difícil o cumprimento da agenda social do governo Lula e a diminuição do abismo econômico no país.
"Este vai ser um ano difícil para os brasileiros. Há mais de 40 milhões abaixo da linha de pobreza e 15 milhões na miséria absoluta. A redução do PIB faz a situação dessas pessoas ainda pior", disse Vicki Gass, associada sênior de economia do Washington Office on Latin America. A organização estuda questões sociais e econômicas na América Latina.
A retração de 0,2% no indicador, o pior desempenho desde 1992, torna-se ainda mais séria, pois teve como um dos principais componentes o recuo de 3,3% no consumo das famílias. "A queda do consumo é um sinal de que as famílias têm menos dinheiro. A questão é saber o que foi cortado da população: necessidades básicas ou outros itens. De todo modo, é preciso orientar políticas mais voltadas para o crescimento do mercado interno", declarou.
Para Franciso Ferreira, economista do Banco Mundial, as quedas do PIB e do consumo preocupam, mas não são suficientes para avaliar o impacto que geraram no âmbito da desigualdade social.
"Qualquer resultado sobre pobreza em 2003 será prejudicado pelo desempenho do PIB. Mas esses dados, ainda que desagregados, não permitem ver quais as camadas [sociais] que foram mais afetadas", avaliou.
"Com a volta do crescimento, esperamos que haja uma melhora da distribuição primária de salários", afirmou o economista.
Mas, mesmo com prognósticos de crescimento de 3,5%, como projeta a maior parte do mercado, o nó social não será desatado, na avaliação de Gass. "Provavelmente não será o suficiente devido à dimensão da pobreza no país. Além do PIB, há outras questões que precisam ser corrigidas", diz.
No topo da lista de entraves à diminuição das desigualdades socioeconômicas do Washington Office on Latin America está a relação dívida/PIB -hoje situada em torno de 60%.
O centro também credita ao acordo com o FMI (Fundo Monetário Internacional) um peso tão grande quanto o peso da queda do PIB no papel de impedir a diminuição de desigualdades. "O acordo impõe limitações. Manter um superávit primário nesse patamar alto constrange o gasto social. A relação dívida/PIB e o FMI estão ferindo o Brasil", disse Gass.



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