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Emergentes ganham mais poder no FMI
Brasil está entre os quatro países mais beneficiados pelo novo sistema de cotas e votação, que custará mais US$ 2 bi ao país
Pacote anunciado pelo diretor-gerente do Fundo prevê revisão do peso
dos países na instituição
de cinco em cinco anos
Eugene Salazar/Efe
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O presidente do FMI, Dominique Strauss-Kahn, anuncia mudanças no Fundo, em Washington |
SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON
O Brasil foi um dos quatro
países mais beneficiados pelo
realinhamento da divisão de
cotas e de votação anunciado
ontem pelo diretor-gerente do
Fundo Monetário Internacional (FMI), Dominique Strauss-Kahn. A medida é resultado direto da pressão exercida nos últimos anos por países-membros para que economias emergentes tenham mais peso e a
instituição recupere parte da
legitimidade perdida.
De acordo com o revelado
ontem à tarde pelo francês, o
Brasil passa a ter uma cota de
1,78% no Fundo, ou 40% a mais
do que antes. Passa a ter também um poder de voto de
1,72%, ou 22% mais do que antes. Só tiveram elevações maiores a China, a Coréia do Sul e a
Índia. São 185 os países-membros da instituição.
Entre as medidas do pacote
anunciado pelo diretor-gerente, a mais importante é a revisão a cada cinco anos da divisão
de cotas e votação, uma das
bandeiras das economias
emergentes que até a manhã de
ontem encontrava resistência
de países desenvolvidos liderados pelos Estados Unidos. Assim, o país que crescer no período terá seu poder de fogo
dentro da instituição aumentado -e vice-versa.
Como as economias que mais
cresceram neste século até agora foram as emergentes, esse é
o bloco que teoricamente mais
ganha com a medida.
Além disso, muda o cálculo e
o peso do PIB (produto interno
bruto) para que o crescimento
de um país seja quantificado,
outra velha reivindicação dos
emergentes. Com 50%, passou
a ser a variável de maior peso
na fórmula, que leva em conta
também itens como reserva de
mercado, abertura da economia e reservas.
Muda ainda qual o PIB será
considerado. Até então, só valia
o medido pela taxa de câmbio
do mercado; agora, será uma
mistura desse e do chamado
PIB de paridade do poder de
compra (PPP, na sigla em inglês), numa proporção de 60%
e 40%, respectivamente.
A vantagem para as economias emergentes é que, numa
crise financeira, a moeda local
geralmente se deprecia e com
isso leva para baixo o valor nominal do PIB tradicional. Já o
chamado PPP é mais estável.
"Sempre achei que mudar é
melhor do que ficar como estava", disse ontem Strauss-Kahn
a jornalistas do mundo inteiro
reunidos na sede do Fundo, em
Washington. "Somos a primeira e única instituição das criadas após a Segunda Guerra
[1939-45] que se mostra capaz
de organizar uma mudança assim."
"É um passo significativo,
sem dúvida, mas é parte de um
processo que tem de continuar", disse à Folha Paulo Nogueira Batista Jr., diretor-executivo do FMI, para quem o
Brasil foi um dos grandes beneficiados. O brasileiro representa no Fundo um grupo de nove
países -além do Brasil, Colômbia, Equador, Guiana, Haiti,
Panamá, República Dominicana, Suriname e Trinidad e Tobago.
Ele cita como exemplo sua
cadeira. Com as mudanças de
ontem, o peso foi de 2,4% para
2,8%, e a posição no poder de
voto, de 21º para 18º. Ainda assim, para o economista e colunista da Folha, ainda há o que
fazer: "Foi um passo na direção
certa, mas não resolve os problemas de governança e de legitimidade da instituição".
Agora, os chamados "governadores", representantes de
cada país na instituição, devem
votar até o final de abril se
aprovam ou não as medidas.
No Brasil, o cargo é ocupado
pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega, que deve votar a
favor (leia texto nesta página).
É preciso que pelo menos
85% dos países-membros estejam de acordo; nos cálculos de
Strauss-Kahn, se a votação fosse hoje, haveria "pouco mais de
86% a favor".
Aprovado o pacote, cada um
dos países-membros leva as
medidas ao seu Legislativo, para que sejam discutidas e aprovadas. Esse processo final pode
levar vários meses.
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