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Bush quer equipes do Fed nas empresas
BC dos EUA pode se tornar "regulador de estabilidade" e ser autorizado a colher informações de qualquer instituição financeira
Proposta revisa papel de
agências regulatórias, que,
dizem especialistas, falharam ao não detectar excessos nos
empréstimos de hipotecas
DO NEW YORK TIMES, EM WASHINGTON
A administração Bush vai
propor, na segunda, que o Congresso confira poderes amplos
ao Federal Reserve (BC dos
EUA) para vigiar a estabilidade
do mercado. Na prática, vai dotar o Fed de equipes de elite para serem enviadas a qualquer
parte do setor financeiro ou
instituição que possa vir a representar um risco ao sistema
financeiro como um todo.
A proposta integra um plano
abrangente de revisão da miscelânea de agências regulatórias dos EUA, que, segundo
muitos especialistas, falhou ao
deixar de tomar nota dos excessos flagrantes nos empréstimos
de hipotecas antes que desencadeassem a calamidade financeira que já está sendo vista como a pior em décadas.
Segundo um resumo fornecido pelo governo, a proposta é
consolidar as agências regulatórias de bancos e títulos, formando um trio de fiscais responsáveis por tudo, de bancos e
corretoras a fundos hedge (altamente especulativos) e firmas de private equity (participações em empresas).
O plano vai expor os bancos
de investimentos e os fundos
hedge de Wall Street a escrutínio maior, mas toma o cuidado
de evitar qualquer chamado
por regulamentação mais rígida. Ele não se propõe a refrear
as práticas que vêm sendo responsabilizadas pelo caos do setor habitacional e de hipotecas,
como o de incluir empréstimos
de alto risco juntamente com
valores mobiliários com a mais
alta classificação.
O plano deve conferir ao Fed
alguma autoridade sobre as firmas de Wall Street, mas só se
práticas de bancos de investimentos ameaçarem o sistema
financeiro como um todo.
Ele não recomenda a imposição de normas mais rígidas aos
mercados grandes e em grande
medida não regulamentados de
hedging e partilha de riscos, como "credit default swaps"
(swaps de crédito), que supostamente deveriam segurar os
credores contra perdas, mas se
converteram em instrumento
especulativo por conta própria.
Algumas mudanças podem
reduzir o poder da SEC (equivalente à CVM). A proposta
fundiria o órgão com a Comissão Reguladora de Operações e
Futuros com Commodities,
que regulamenta futuros de petróleo, grãos e semelhantes negociados na Bolsa. O plano sugere várias áreas que a SEC deveria fiscalizar de maneira mais
leve, por exemplo dando margem de manobra maior às Bolsas de Valores para se auto-regularem e enxugando a aprovação de produtos, permitindo a
aprovação automática de produtos de títulos negociados em
mercados externos.
Modernização
A proposta começou, de fato,
no ano passado como um esforço do secretário do Tesouro,
Henry Paulson, para tornar os
mercados financeiros americanos mais competitivos em relação aos estrangeiros, modernizando o sistema regulatório.
O objetivo era enxugar regras
diferentes e até conflitantes a
bancos comerciais e credores
bancários não hipotecários.
"Não estou sugerindo que a
resposta seja mais regulamentação nem mesmo que uma regulamentação mais eficaz seja
capaz de impedir os períodos
de estresse no mercado financeiro que parecem ocorrer a cada cinco ou dez anos", dirá
Paulson, segundo um rascunho
de um discurso que ele pretende fazer na segunda. "Estou sugerindo que devemos e podemos ter uma estrutura projetada para o mundo em que vivemos -mais flexível."
Quase todos os elementos da
proposta terão que ser aprovados pelo Congresso, onde líderes democratas já redigem projetos de lei para impor supervisão mais rígida sobre os bancos
de investimentos, fundos hedge e o mercado rapidamente
crescente de derivativos como
credit-default swaps.
A proposta de Paulson ecoa
idéias defendidas pelo deputado democrata do Massachusetts Barney Frank, presidente
do Comitê de Serviços Financeiros da Câmara dos Deputados. No entanto, Frank provavelmente vai propor um papel
mais forte para o Fed e defender a sujeição dos bancos de investimentos às mesmas regras
dos bancos comerciais.
Pela proposta a ser apresentada pelo Tesouro, o Fed se tornaria o "regulador de estabilidade do mercado" e seria autorizado a colher informações de
virtualmente qualquer instituição financeira. Representantes
do Fed seriam autorizados a
examinar as práticas e até mesmo a contabilidade de corretoras, fundos hedge, Bolsas de
commodities e outras instituições que possam representar
um risco ao sistema financeiro.
Isso representará uma ampliação significativa da regulação do BC, que até agora tem sido limitada principalmente a
supervisionar os bancos comerciais. No início do mês,
quando o Fed resgatou o Bear
Stearns, quinto maior banco de
investimentos dos EUA, o BC
ressaltou que nunca tinha sido
autorizado a monitorar sua
condição financeira ou reforçar
suas proteções.
Em duas medidas inusitadas,
o Fed orquestrou um casamento forçado entre o Bear Stearns
e o JPMorgan e emprestou US$
29 milhões para impedir o pedido de falência do Bear e a seqüência de moratórias que poderiam ter se seguido. Pela primeira vez desde os anos 1930, o
Fed também autorizou os bancos de investimentos a emprestar centenas de bilhões de dólares no "discount window", programa de emergência para bancos comerciais e outras instituições depositárias.
Mas a proposta de Paulson
não vai se constituir na regulamentação proposta por democratas. Lideranças argumentam que os bancos de investimentos e outras instituições
pouco regulamentadas hoje
competem diretamente com os
bancos comerciais e deveriam
ser sujeitos ao mesmo tipo de
regulamentação que estes.
Em entrevista, Frank disse
que percebeu a necessidade de
regulamentação mais rígida de
firmas de Wall Street depois de
uma reunião com Charles O.
Prince 3, então presidente do
conselho do Citigroup, na qual
perguntou por que o banco
mantivera bilhões de dólares
em "veículos de investimento
estruturado" (SIVs), fora do balanço. Prince disse que o Citigroup teria ficado em desvantagem, porque as firmas de investimentos podem operar com
dívida maior e reservas menores de capital.
O senador democrata Charles E. Schumer, de Nova York,
adota posição semelhante. "Os
bancos comerciais continuam a
ser vigiados estreitamente e
são sujeitos a uma multidão de
regras que visam limitar os riscos sistêmicos, mas muitas outras instituições financeiras
são sujeitas a pouca ou nenhuma regulamentação, apesar de,
sob muitos aspectos, atuarem
como bancos."
Tradução de CLARA ALLAIN
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