São Paulo, domingo, 29 de março de 2009

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PIB e crédito determinam pessimismo

Para Iedi, retração de 3,6% na economia no quarto trimestre de 2008 foi o estopim para a deterioração das expectativas

Empresários se queixam do custo dos empréstimos e das dificuldades de acesso; consultor sugere prêmio a empresa disposta a investir


DO COLUNISTA DA FOLHA

A restrição ao crédito ainda é o principal fator que explica a forte deterioração das expectativas dos empresários, segundo Josué Gomes da Silva, presidente do Iedi (Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial) e da Coteminas.
Essa preocupação ficou clara na sexta-feira, numa reunião de integrantes do instituto com o ministro da Fazenda, Guido Mantega. Os empresários reclamaram do custo do crédito e das dificuldades de acesso.
"O acesso ao crédito não melhorou, e o custo ainda é muito alto", diz Gomes da Silva.
O economista Júlio Sérgio Gomes de Almeida, consultor do Iedi e ex-secretário de Política Econômica da Fazenda no governo Lula, diz que a piora das expectativas dos empresários se deu a partir do anúncio da queda de 3,6% do PIB (Produto Interno Bruto) no quarto trimestre do ano passado, um número que surpreendeu.
"Esse PIB muito ruim foi o estopim para a deterioração das expectativas", diz Gomes de Almeida. "O empresário vai resistir a investir com uma perspectiva de queda da economia desse tamanho."
A freada dos investimentos foi bastante evidente. Setores voltados para a exportação ou mais dependentes de crédito foram os primeiros a ser atingidos e não há, até agora, sinais claros de recuperação.
Os números do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) já começam a mostrar os sinais da freada. As consultas aos empréstimos do BNDES recuaram 37% em fevereiro, sinal claro de que os empresários preferiram deixar muitos projetos na gaveta até que a situação melhore.
O empresário Horacio Lafer Piva, presidente da Bracelpa (Associação Brasileira de Celulose e Papel), admite que mais da metade dos investimentos para o setor de papel e celulose já foi postergada até que as condições de demanda, preço e crédito estejam mais claras. Os planos eram ambiciosos: US$ 20 bilhões de 2009 a 2015.
"A vocação permanece, mais forte do que nunca, as empresas estão sólidas e com caixa, mas as variáveis não são só nacionais, e sim mundiais. É um setor que, pelo investimento e pelo capital de giro necessários, demanda cuidado extra."
O presidente da Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores), Jackson Schneider, afirma que até agora nenhuma montadora no país anunciou planos de suspensão de investimentos em razão da crise, mas ele admite alguma postergação das obras. A seu ver, como se trata de investimentos de maturação de longo prazo, haverá manutenção dos planos.
Para melhorar o clima, o governo, na opinião de Gomes de Almeida, precisa baixar os juros e adotar medidas de estímulo à economia para incentivar o crédito, como a que anunciou na semana passada, quando ofereceu garantia de até R$ 20 milhões para quem comprar títulos emitidos por bancos de menor porte -se a instituição quebrar ou sofrer intervenção do BC, quem comprou os papéis recebe o dinheiro de volta.
Outra ideia defendida por Gomes de Almeida é o governo oferecer algum tipo de prêmio, um benefício fiscal adicional, por exemplo, a empresas que estiverem dispostas a investir. "Quando há um clima de desânimo, a melhor resposta é criar algum tipo de premiação para incentivar a economia."
(GUILHERME BARROS)


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