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LUÍS NASSIF
De graça
Recebo e-mails de Romeu Donizete Rufino,
superintendente de Fiscalização Econômico-Financeira
da Aneel (Agência Nacional
de Energia Elétrica), de José
Drumond Saraiva, presidente
em exercício da Eletrobrás, do
Sindicato dos Urbanitários do
Maranhão, com ampla documentação, além da carta da
GP Investimentos ao "Painel
do Leitor" da Folha e do representante da Mt. Baker. Todas sobre a transferência do
controle da Cemar (Central
Energética do Maranhão) para a SVM Participações e Empreendimentos Ltda.
Depois de um processo licitatório conduzido pela Aneel,
a Cemar foi transferida para
a SVM Participações e Empreendimentos Ltda. pelo valor simbólico de R$ 1. A Cemar pertencia à PPL Global,
norte-americana que desistiu,
depois de se afundar em dívidas. A SVM é uma empresa
nacional, mas controlada por
um fundo sediado em um paraíso fiscal norte-americano
(o Brazil Development Equity
Investment), por sua vez controlado por outro fundo, o GP
Capital Partners 2, sediado
em outro paraíso fiscal,
Grand Cayman, e gerido pela
GP Investimentos.
A Cemar está no Maranhão, Estado do presidente do
Senado, José Sarney -que
tem influência política não
apenas na empresa (que já foi
presidida por seu filho) como
na Eletronorte e, agora, na
Eletrobrás. Por sua indicação,
assumiu a presidência da Eletrobrás um ex-presidente da
Cemar.
As duas condições para assumir a Cemar eram renegociar a dívida com o maior credor (a Eletrobrás) e com os
bancos privados e debenturistas. A Eletrobrás aceitou
transformar parte em capitalização e parte a ser paga a
longo prazo, em ato assinado
pelo ministro da Fazenda e
pela ministra de Minas e
Energia. Os bancos e debenturistas aceitaram descontos
que já haviam sido obtidos,
anteriormente, pelo interventor da Aneel na empresa.
A proposta da SVM previa
um aporte de R$ 30 milhões.
Pelos resultados da empresa
em 2003, provavelmente a geração de caixa permitirá bancar o serviço da dívida, os investimentos básicos e devolver aos investidores, já no primeiro ano, os R$ 30 milhões
que investiram na frente.
Há alguma coisa de errado
no processo. A Eletrobrás explica que não cabia a ela definir a licitação, mas apenas
negociar as suas dívidas com
a Cemar. Recusa-se a divulgar as planilhas com as propostas financeiras, mas se coloca à disposição para mostrá-las pessoalmente.
Já a Aneel informa que foram feitas várias exigências à
SVM. Como reinvestir na
companhia créditos de R$ 75
milhões detidos pela antiga
controladora PPL Global, assim como investir R$ 30 milhões na frente e reestruturar
a dívida nos bancos privados.
Ora, isso lá é exigência?
Transfere-se de graça a companhia a outro controlador e
se diz que a "exigência" é o
controlador não embolsar
créditos devidos ao controlador antigo. Também quero.
Sejam lá quais foram as razões, a companhia foi dada de
presente a um grupo privado.
Paro por aqui, para não
cansar os leitores. Na sexta-feira, próxima assembléia da
Cemar, o fato será consumado.
E-mail -
Luisnassif@uol.com.br
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