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CONFLITO INTERNO
Em conversas reservadas, Lula determina que Meirelles e Mantega evitem trocar críticas em público sobre os juros
Presidente intervém para impedir nova crise
Pablo Martinez - 23.abr.06/Associated Press
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O presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, que negou haver divergências com Mantega |
KENNEDY ALENCAR
SHEILA D'AMORIM
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O presidente Luiz Inácio Lula da
Silva interveio diretamente para
evitar que as desavenças entre o
ministro da Fazenda, Guido Mantega, e o presidente do Banco
Central, Henrique Meirelles, em
torno da trajetória do juros crie
outra crise dentro do governo.
Em conversas reservadas, o presidente determinou que os dois
não troquem críticas públicas a
respeito dos juros, segundo apurou a Folha.
A Mantega o presidente pediu
que não bombardeie a política
monetária de público e que traga
a ele eventuais discordâncias. A
Meirelles, que não pusesse lenha
na fogueira e evitasse criticar, ainda que suavemente, o ministro da
Fazenda.
Meirelles seguiu à risca a determinação e, ontem, em evento em
São Paulo, minimizou as declarações dadas na véspera por Mantega, que não foram consideradas
um ataque ao BC. No entanto,
apesar dos panos quentes do presidente, o episódio foi considerado "um passo atrás" na sintonia
que vinha sendo construída com
muito esforço entre o BC e a Fazenda.
Mantega não foi informado previamente sobre os termos exatos
da ata do Copom (Comitê de Política Monetária que decide a trajetória dos juros), divulgada na última quinta-feira.
Segundo a Folha apurou, isso
era uma prática comum quando
Antonio Palocci Filho estava no
comando do Ministério da Fazenda. Especialmente se estivesse
programada uma participação do
ministro em um evento público,
como o que ocorreu nesta semana. Mantega esteve em reunião
com empresários na Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de
São Paulo) anteontem.
No encontro, marcado para o
mesmo dia da divulgação da ata
do Copom, Mantega deu declarações públicas sobre o processo de
redução dos juros básicos da economia que se chocaram com os
termos usados pelo Copom. Com
isso, houve o primeiro grande
conflito entre a Fazenda e o BC.
Apesar da reação pública de
Meirelles, tentando amenizar as
declarações do ministro, a cúpula
do BC ficou contrariada, avaliando que as afirmações de Mantega
só dificultariam reduções dos juros nas próximas reuniões do Copom e dão conotação política às
decisões do comitê.
Meirelles fez chegar a Lula o seu
desconforto. Lula enquadrou os
dois, segundo disse à Folha um
auxiliar direto do presidente. O
presidente também não gostou da
ata do Copom. Lula gostaria de
uma queda maior dos juros e
sempre fez pressões de bastidor
por isso. No entanto, com a troca
de Palocci por Mantega, em 27 de
março, o presidente reforçou o
cacife do Banco Central.
Lula avalia que Mantega não
tem a mesma credibilidade de Palocci perante o mercado. Daí ter
dado mais poder a Meirelles, que
está se reportando diretamente ao
presidente da República.
Nas palavras de um auxiliar,
"Guido [Mantega] não é o Palocci". Ou seja, deveria ser mais cauteloso ao tratar da política monetária, tema que sempre rendeu
dores de cabeça à equipe econômica. Lula e o próprio Palocci discordaram diversas vezes do BC,
mas nos bastidores. De público,
porém, sempre apoiaram a política monetária.
Como o clima entre Mantega e a
equipe do BC nunca foi de amizade, dentro da equipe econômica,
os discursos públicos do ministro
e de Meirelles são acompanhados
com lupa. Nas últimas semanas, a
avaliação dentro do governo era
que tudo estava caminhando em
clima de sintonia e isso aproximaria os dois. No entanto, o episódio
dessa semana voltou a criar um
clima de constrangimento.
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