São Paulo, terça-feira, 29 de abril de 2008

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ONU decide elevar ajuda a países pobres

Em reunião emergencial na Suíça, dirigentes anunciam que vão promover distribuição de cupons para troca por alimentos

Secretário-geral da Unctad fez críticas a subsídios concedidos pelos países desenvolvidos, que teriam "distorcido o mercado"


MARCELO NINIO
ENVIADO ESPECIAL A BERNA

A ONU (Organização das Nações Unidas) vai promover a distribuição de cupons alimentares nos países pobres para conter o aumento da fome causado pela disparada nos preços dos produtos agrícolas. Essa foi uma das medidas discutidas ontem pelo primeiro escalão das Nações Unidas, que reuniu-se em Berna, na Suíça, para traçar um plano contra a crise alimentar no mundo.
A Folha conversou com alguns dos chefes das 27 agências da ONU convocados pelo secretário-geral da organização, Ban Ki-moon, que hoje anunciará em entrevista coletiva os resultados da reunião. A prioridade número um é reforçar o caixa do PMA (Programa Mundial de Alimentação), responsável na ONU pela distribuição de comida às populações mais carentes do planeta.
Uma das modalidades de ajuda em estudo é a concessão de subvenções às camadas mais pobres, com a distribuição de cupons que poderão ser trocados por comida, contou à Folha Supachai Panitchpakdi, secretário-geral da Unctad (Conferência da ONU para Comércio e Desenvolvimento).
"Foram discutidos dois tipos de subsídio, um positivo, o outro negativo", disse Supachai. "O positivo é aquele que garante a segurança alimentar dos pobres. O negativo é o concedido pelos países desenvolvidos, que no passado distorceram o mercado ao reduzir os preços e desestimular os agricultores dos países pobres a produzir alimentos."
Os subsídios dos países ricos passaram a ocupar a galeria de motivos para a escalada de preços dos alimentos, que já inclui o alto preço do petróleo, a especulação em torno das matérias-primas, o aumento da demanda em países emergentes, sobretudo na China e na Índia, e a produção de combustíveis. O governo brasileiro tem defendido a tese de que os subsídios agrícolas dos países desenvolvidos são os principais vilões da história.

Combustíveis
Sobre os combustíveis, Supachai disse que o foco da reunião de ontem foi o álcool produzido pelos Estados Unidos a partir do milho, que teve impacto direto na crise alimentar. O álcool brasileiro, feito de cana-de-açúcar, ficou de fora da discussão, afirmou.
A ONU alertou que a crise empurrou mais 100 milhões de pessoas para a pobreza em todo o mundo. De acordo com Margaret Chan, diretora-geral da OMS (Organização Mundial da Saúde), além de aumentar a desnutrição, a crise já ameaçam os programas da agência. "A ajuda alimentar a pacientes com o vírus HIV, por exemplo, pode ficar em risco", diz.
Em Genebra, também na Suíça, o relator da ONU para o Direito à Alimentação, Jean Ziegler, criticou os os esforços da OMC (Organização Mundial do Comércio) para concluir a Rodada Doha de liberalização do comércio mundial.
"A linha de Pascal Lamy [diretor-geral da OMC] é contrária aos interesses dos que morrem de fome, pois são exatamente os pagamentos protecionistas permitem aos camponeses cultivar alimentos", disse Ziegler, que deixa o cargo nesta semana.
Ele voltou a botar a culpa pela crise alimentar nos biocombustíveis, que já chegou a chamar de "crime contra a humanidade". O ataque irritou o presidente Lula, que chamou Ziegler de "palpiteiro".


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