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ONU decide elevar ajuda a países pobres
Em reunião emergencial na Suíça, dirigentes anunciam que vão promover distribuição de cupons para troca por alimentos
Secretário-geral da Unctad fez críticas a subsídios concedidos pelos países desenvolvidos, que teriam "distorcido o mercado"
MARCELO NINIO
ENVIADO ESPECIAL A BERNA
A ONU (Organização das Nações Unidas) vai promover a
distribuição de cupons alimentares nos países pobres para
conter o aumento da fome causado pela disparada nos preços
dos produtos agrícolas. Essa foi
uma das medidas discutidas
ontem pelo primeiro escalão
das Nações Unidas, que reuniu-se em Berna, na Suíça, para traçar um plano contra a crise alimentar no mundo.
A Folha conversou com alguns dos chefes das 27 agências
da ONU convocados pelo secretário-geral da organização,
Ban Ki-moon, que hoje anunciará em entrevista coletiva os
resultados da reunião. A prioridade número um é reforçar o
caixa do PMA (Programa Mundial de Alimentação), responsável na ONU pela distribuição
de comida às populações mais
carentes do planeta.
Uma das modalidades de ajuda em estudo é a concessão de
subvenções às camadas mais
pobres, com a distribuição de
cupons que poderão ser trocados por comida, contou à Folha Supachai Panitchpakdi, secretário-geral da Unctad (Conferência da ONU para Comércio e Desenvolvimento).
"Foram discutidos dois tipos
de subsídio, um positivo, o outro negativo", disse Supachai.
"O positivo é aquele que garante a segurança alimentar dos
pobres. O negativo é o concedido pelos países desenvolvidos,
que no passado distorceram o
mercado ao reduzir os preços e
desestimular os agricultores
dos países pobres a produzir
alimentos."
Os subsídios dos países ricos
passaram a ocupar a galeria de
motivos para a escalada de preços dos alimentos, que já inclui
o alto preço do petróleo, a especulação em torno das matérias-primas, o aumento da demanda
em países emergentes, sobretudo na China e na Índia, e a
produção de combustíveis. O
governo brasileiro tem defendido a tese de que os subsídios
agrícolas dos países desenvolvidos são os principais vilões da
história.
Combustíveis
Sobre os combustíveis, Supachai disse que o foco da reunião
de ontem foi o álcool produzido
pelos Estados Unidos a partir
do milho, que teve impacto direto na crise alimentar. O álcool brasileiro, feito de cana-de-açúcar, ficou de fora da discussão, afirmou.
A ONU alertou que a crise
empurrou mais 100 milhões de
pessoas para a pobreza em todo
o mundo. De acordo com Margaret Chan, diretora-geral da
OMS (Organização Mundial da
Saúde), além de aumentar a
desnutrição, a crise já ameaçam os programas da agência.
"A ajuda alimentar a pacientes
com o vírus HIV, por exemplo,
pode ficar em risco", diz.
Em Genebra, também na
Suíça, o relator da ONU para o
Direito à Alimentação, Jean
Ziegler, criticou os os esforços
da OMC (Organização Mundial
do Comércio) para concluir a
Rodada Doha de liberalização
do comércio mundial.
"A linha de Pascal Lamy [diretor-geral da OMC] é contrária aos interesses dos que morrem de fome, pois são exatamente os pagamentos protecionistas permitem aos camponeses cultivar alimentos", disse
Ziegler, que deixa o cargo nesta
semana.
Ele voltou a botar a culpa pela crise alimentar nos biocombustíveis, que já chegou a chamar de "crime contra a humanidade". O ataque irritou o presidente Lula, que chamou Ziegler de "palpiteiro".
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