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Governo já estuda nova hidrelétrica na Amazônia
Camargo Corrêa tem financiamento para estudo de potencial do rio Tapajós
Ambientalista já prevê novo foco de tensão, como ocorre com a licença ambiental do rio Madeira, uma das prioridades do PAC
JANAÍNA LEITE
DA REPORTAGEM LOCAL
CLAUDIO ANGELO
EDITOR DE CIÊNCIA
Antes mesmo do desfecho do
caso rio Madeira, governo e
empreiteiros já preparam o terreno para uma nova grande hidrelétrica na Amazônia. O próximo alvo é o Tapajós, um dos
últimos grandes rios da região
ainda sem represas planejadas.
A construtora Camargo Corrêa deve concluir ainda neste
semestre o levantamento do
potencial hidráulico do Tapajós e do Jamanxim, seu afluente, na região de Itaituba, Pará.
Para isso, conta com um financiamento de R$ 13,6 milhões da Finep (Financiadora
de Estudos e Projetos), órgão
do Ministério da Ciência e Tecnologia. A primeira parcela do
empréstimo foi liberada em fevereiro.
A empreiteira informou, por
meio de sua assessoria de imprensa, que ainda não há uma
estimativa que possa ser divulgada do potencial de geração de
energia dos dois rios.
Mas estudos anteriores da
Eletronorte, parceira da Camargo Corrêa no empreendimento, identificaram ali, no local conhecido como cachoeira de São Luís, um potencial de 11
mil megawatts (9.000 no Tapajós e 2.000 no Jamanxim). É
quase o dobro da capacidade
instalada somada das polêmicas usinas de Santo Antônio e
Jirau, no rio Madeira (Rondônia). E o equivalente à de Belo
Monte, no rio Xingu.
Uma fonte graduada do setor
elétrico afirma que a hidrelétrica -ou as hidrelétricas, já que
não se sabe ainda qual seria a
melhor forma de aproveitar as
corredeiras do Tapajós- de
São Luís não deve servir como
"plano B" às usinas do Madeira,
uma das mais importantes
obras do PAC (Programa de
Aceleração de Crescimento) e
ainda sem licença ambiental do
Ibama, apesar da forte pressão
do próprio governo.
Mas que o novo projeto será a
"próxima e última" grande hidrelétrica do país, já que potenciais hidráulicos dessa monta já
foram mapeados e esgotados.
Assim como Santo Antônio e
Jirau, a futura obra, se for levada adiante, tem tudo para causar polêmica com o setor ambiental. Os ambientalistas são
contra grandes hidrelétricas
por definição, já que na esteira
dessas obras na Amazônia costumam vir inundações de floresta, surtos de grilagem de terras e desmatamento.
No caso de São Luís, há mais
uma coisa a acrescentar à lista.
O ponto onde o Tapajós forma
suas corredeiras, perto da interseção com a rodovia Transamazônica, é cercado de unidades de conservação, como o
Parque Nacional da Amazônia,
e a Flona (Floresta Nacional de
Itaituba). Além disso, há diversos assentamentos de reforma
agrária na área, palco de conflitos no passado recente entre
madeireiros e Ibama.
"Tem muito pouco espaço fora de unidades de conservação
e assentamentos", diz Roberto
Smeraldi, diretor da ONG Amigos da Terra Amazônia Brasileira. "Você tem um parque nacional, duas áreas de produção
de madeira e uma área de intensa colonização."
Smeraldi reconhece, no entanto, que um dos maiores nós
ambientais do rio Madeira, a
questão dos sedimentos, não se
coloca no rio Tapajós, que é de
águas claras.
O financiamento da Finep à
Camargo Corrêa é reembolsável e funciona da seguinte maneira: se dentro de dois anos
não sair um edital de concorrência para a construção da usina (ou das usinas), a empreiteira paga o governo e banca o custo do estudo até que aconteça a
licitação. No eventual processo
de concorrência, no entanto,
esse custo será transferido ao
vencedor do leilão.
Se for levada a cabo, São Luís
consolidará um plano de ocupação da Amazônia que começou no regime militar com a
Transamazônica. A estrada
cruza três grandes rios (Tocantins, Xingu e Tapajós) em três
pontos onde há grandes quedas
d'água: uma delas, Tucuruí, já
foi construída. A segunda, Belo
Monte, sobre a qual se arrastava disputa com o Ministério
Público, teve recentemente autorização para ter seu estudo de
impacto ambiental. A usina do
Tapajós é a última do trio.
O diretor econômico-financeiro da Eletronorte, Astrogildo Fraguglia Quental, afirmou
que a usina de São Luís tem capacidade para substituir as
obras planejadas para o rio Madeira, cuja entrada em operação é esperada para 2012.
Para ele e outros técnicos do
setor, no entanto, o governo deveria voltar os olhos para Belo
Monte, cuja estimativa de produção média de energia é de
cerca de 5.000 megawatts (embora o potencial instalado seja
de quase 11 mil megawatts, a
grande diferença de vazão do
rio na cheia e na seca reduz a
energia "firme", ou seja, o que a
usina vale de fato, à metade).
"Não tenho dúvidas de que
Belo Monte é muito melhor do
que qualquer uma delas", disse
Quental. "Não só pela proximidade de grandes mercados [cidades do litoral nordestino],
mas pela melhor relação custo-benefício no que diz respeito às
finanças e ao ambiente, pois
haveria menos inundações."
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