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BC estuda medidas para conter crédito
Banco está preocupado com os empréstimos de longo prazo e suspeita de irregularidades nas operações de leasing
Declarações de diretor da instituição, Alvir Hoffmann, assustam platéia formada por executivos de bancos em evento em São Paulo
GUILHERME BARROS
COLUNISTA DA FOLHA
O Banco Central estuda medidas prudenciais para conter o
crescimento do crédito e pode
criar medidas para restringir as
operações de lançamento de
debêntures (títulos emitidos
para captar recursos) das empresas de leasing ligadas a bancos. O Banco Central considera
a possibilidade de que algumas
dessas operações com debêntures sejam irregulares.
A informação foi dada pelo
diretor de fiscalização do BC,
Alvir Hoffmann, em almoço na
segunda-feira, em São Paulo,
para mais de cem executivos de
bancos na posse do novo presidente da ABBI (Associação
Brasileira de Bancos Internacionais), Dewes Rubira.
A cerimônia de transmissão
de cargo da ABBI foi fechada, e
Hoffmann era o principal convidado. Segundo a Folha apurou, o diretor surpreendeu os
executivos presentes com o
teor de suas declarações.
Hoffmann disse que estava
preocupado com o crescimento do crédito no país, principalmente as operações de longo
prazo. Citou, por exemplo, os
financiamentos à compra de
veículos em 84 meses. O problema, segundo Hoffmann, é
que o carro normalmente é trocado antes de o empréstimo
acabar. O diretor do BC também manifestou preocupação
com o crescimento do empréstimo compulsório.
Também chamaram a atenção dos executivos os comentários a respeito das operações de
lançamento de debêntures das
empresas de leasing ligadas aos
bancos. Segundo presentes,
Hoffmann disse que a operação
era "falta grave" e que poderia
até ser considerada crime. Ele
aventou a hipótese de o BC encaminhar a operação a avaliação do Ministério Público.
Já o presidente do BC, Henrique Meirelles, reuniu-se ontem com o presidente da Febraban, Fabio Barbosa, e outros banqueiros para falar de
leasing e disse que via desvirtuamento nas operações dos
bancos nessa área.
Procurado pela Folha ontem, Hoffmann afirmou, por
meio da assessoria do BC, que o
que fez na segunda-feira foi
manifestar "preocupação com
o crédito em prazo longo compatível com a natureza das garantias ou com a estrutura de
funding". Também disse que o
BC "monitora e analisa o mercado o tempo todo, mas não antecipa nenhuma medida prudencial que venha a tomar".
Sobre possíveis irregularidades no leasing (em forte expansão), disse que "recomendou às
instituições que seja bem estudada a adequação legal de novos produtos de captação de
"funding", como debêntures".
As declarações de Hoffmann
assustaram os executivos presentes e geraram rumores no
mercado nos últimos dias de
que o BC pode tomar medidas
para conter o crédito, que atingiu o recorde de R$ 1 trilhão em
abril, ou 36% do PIB. Essas medidas teriam dois objetivos.
O primeiro, evitar que se repita, no Brasil, em algumas modalidades de crédito, como o
consignado e o financiamento
de automóveis, o mesmo que
aconteceu nos EUA com os
empréstimos no mercado
"subprime" (financiamentos
de alto risco), que colapsou. O
outro objetivo seria evitar que
todo o trabalho do BC de redução da pressão da demanda para conter a alta da inflação se
concentre na alta dos juros.
Na semana que vem, o BC se
reúne para decidir a nova taxa
básica de juros da economia, e
as apostas do mercado vão de
uma nova alta de 0,5 a até 1
ponto percentual.
Já há algum tempo se cogita
no governo a possibilidade de o
BC vir a adotar medidas prudenciais para conter o crescimento do crédito. A idéia não é
limitar os prazos dos empréstimos bancários, como defendeu
recentemente o ministro da
Fazenda, Guido Mantega, mas
passar a exigir dos bancos um
índice maior de capitalização
para os empréstimos de mais
longo prazo.
O Banco Central ainda não
definiu o que poderá fazer.
No ano passado, o BC interveio nos limites de exposição
cambial para os bancos, que é
uma medida prudencial. A autoridade monetária passou a
exigir a alocação de capital para
determinados tipos de risco, o
que obrigou as instituições a
diminuírem suas exposições na
área do câmbio. Outras medidas, como o aumento do recolhimento compulsório (dinheiro dos bancos retido pelo BC),
não estão sendo cogitadas porque o compulsório no Brasil já
seria muito alto.
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