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China toma mercado do Brasil na Argentina
Apesar de Argentina ser parceira do Brasil no Mercosul, indústria brasileira é a que mais perde mercado para chineses
No segmento de têxteis, a relação se inverteu: de uma vantagem de 40% em 2008 agora o Brasil vende 20% menos do que a China
THIAGO GUIMARÃES
DE BUENOS AIRES
DENYSE GODOY
DA REPORTAGEM LOCAL
Enquanto o comércio entre
Brasil e Argentina registra queda brusca desde o início da crise
mundial, com retração de 39%
no primeiro trimestre do ano, a
China amplia sua participação
no mercado vizinho em detrimento das vendas brasileiras.
O chamado desvio de comércio -incremento nas importações de fornecedores externos
ao Mercosul- é uma das principais queixas do empresariado
brasileiro em relação à Argentina, que desde o agravamento da
crise mundial vem ampliando
entraves a importações como
forma de preservar a sua indústria nacional e os empregos.
Como resultado dessa política e da retração mundial, as
vendas do Brasil e da China à
Argentina sofreram queda no
primeiro trimestre do ano -de
45,7% e 25,1%, respectivamente. Mas a China aumentou suas
exportações à Argentina em 8
de 21 setores na comparação
interanual, enquanto o Brasil o
fez em apenas dois.
Os cálculos são da consultora
argentina Abeceb.com, especializada no comércio Brasil-Argentina. Considerando os oito setores em que a China aumentou suas vendas à Argentina em 2009, o Brasil perdeu
mercado em seis: papel, calçados, farmacêuticos, instrumentos fotográficos, óticos, médicos e musicais, brinquedos e
acessórios de vestuário.
"Essa velocidade do crescimento das importações chinesas, que avançam desde 2004,
fez a China ganhar mercados
na Argentina, e o mais afetado
foi o Brasil", diz Mauricio Claveri, analista da Abeceb.com.
Dos 13 setores em que China
e Brasil registraram baixa nas
vendas à Argentina, a queda
brasileira foi superior em oito.
No caso de têxteis e vestuário,
por exemplo, o Brasil vendia
40% a mais do que a China no
primeiro trimestre de 2008, relação que se reverteu neste ano,
com a China vendendo cerca de
20% a mais que o Brasil.
"É preocupante, porque a Argentina faz parte do Mercosul",
afirma o presidente da Abit
(Associação Brasileira da Indústria Têxtil), Aguinaldo Diniz Filho. "É um problema que
a diplomacia brasileira tem que
resolver."
Entraves
O setor têxtil brasileiro tem
131 itens sujeitos a licenças não
automáticas, pelas quais a Argentina administra o que entra
no país. Válidas para todos os
países, essas licenças atingem
14% das vendas brasileiras e
são alvo de críticas por demora
em sua liberação -pelas normas da OMC (Organização
Mundial do Comércio), ela não
pode superar 60 dias.
Ocorre que a Argentina também submete importações chinesas a entraves específicos,
como preços mínimos e processos antidumping. "Com preços competitivos, a China continua a crescer, apesar das restrições", diz Claveri.
A manufatura brasileira de
brinquedos também acusa a
Argentina de utilizar barreiras
informais para restringir a entrada desses itens no seu mercado. "Simplesmente jogam os
pedidos de licença de importação na gaveta e esquecem. Não
dão a menor explicação", diz
Synésio Batista da Costa, presidente da Abrinq (Associação
Brasileira dos Fabricantes de
Brinquedo).
Negociações setoriais
Diante da queda no intercâmbio comercial e acusações
mútuas de protecionismo, os
governos de Brasil e Argentina
promovem há dois meses conversas entre setores privados
visando a acordos de autorrestrição de comércio.
Um desses setores é o de calçados, no qual a fatia brasileira
no mercado argentino caiu de
71% em 2005 para 45% neste
ano. "Como sócios do Mercosul, observamos estupefatos as
importações argentinas da Ásia
alcançarem 2,6 milhões de pares em 2009, ante 2,2 milhões
do Brasil", afirmou Milton Cardoso, da Abicalçados, que oferece 10% de redução nas vendas brasileiras -os argentinos
pedem 20%.
O avanço chinês também é
realidade no mercado brasileiro. Em abril de 2008, o país superou a Argentina como segundo parceiro comercial do Brasil. Em abril deste ano, ultrapassou os EUA e já é o principal
parceiro comercial brasileiro
-12,9% das exportações do
Brasil são para a China.
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