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LUÍS NASSIF
A era das trevas
O que está ocorrendo nos EUA na era George W. Bush, e pós-atentados de 11 de
setembro, é mais que uma excentricidade texana e despreparo da equipe que o assessora. Despreparo se corrige; fanatismo, não. As manifestações rotineiramente obtusas da equipe Bush não podem mais ser debitadas só ao amadorismo. Há um fundo doutrinário nelas, ameaçador por partir da equipe
que dirige a maior potência da história.
Seria elucidativo garimpar em publicações internacionais ou por meio dos correspondentes brasileiros o componente religioso por trás da doutrina Bush,
quem é a igreja que o influencia, quais seus princípios e interesses
financeiros.
Recentemente a "Business Week" avançou algumas análises nessa direção, traçando um perfil de Bush, como um personagem basicamente moralista,
um despreparado com aspiração a ser o profeta moral da nova era. Talvez seja mais que isso. Levantar as características de sua igreja poderá ajudar a decifrar o enigma.
Não se pode ainda afirmar que o país esteja ingressando em um novo macartismo. O rabo, a orelha e o latido são de macartismo. Só a intensidade não é,
mas se pode estar em início de
processo. A única esperança é
que, nestes 50 anos, as instituições e os direitos individuais
norte-americanos tenham se
consolidado a ponto de impedir
o avanço da ultradireita, embalada pelos atentados terroristas.
Na coluna de ontem divulguei
as análises de um tal Constantin
Menges, que, em "conference
call" patrocinado pela Prudential Securities, afirmava ter informações de fontes fidedignas
de que Lula estaria preparando
um exército de guerrilheiros, somando MST à Farc da Colômbia, de 80 mil a 100 mil homens
para invadir o Brasil assim que
tomasse posse.
Que existam malucos em toda
parte admite-se. Que um maluco desse naipe seja convidado
para uma "conference call" da
maior seguradora do mundo e
que ninguém ouse aparteá-lo
são outros quinhentos. A versão
do "eixo do mal" começa a ser
repetida, e a ultradireita norte-americana, a ganhar um espaço
inédito nos centros de decisão
nacionais.
Não apenas isso. Desde os
atentados de 11 de setembro foram suprimidos, e ainda não
restabelecidos, diversos direitos
individuais. No meio acadêmico, a doutrina Bush está tentando impor proibição à divulgação de pesquisas científicas. Recentemente houve manifestações de cientistas contrários à
censura. No plano internacional, as manifestações belicosas
de Bush, a falta de limites de
Paul O'Neill, o neoprotecionismo norte-americano demonstram uma lógica férrea. A área
mais moderna e racional de sua
administração não parece ter
força para se contrapor fundamentalmente aos radicais.
A "nova renascença", prevista
anos atrás, em breve poderá ceder lugar a uma nova era das
trevas.
Superávit fiscal
Em recente coluna sobre a estratégia para a dívida pública, a
ser adotada pelo novo governo,
mencionei propostas de banqueiros, de o país acenar com
um superávit primário de 7%
para começar a discutir a redução de juros.
Julguei que tinha ficado claro
que considerava a proposta inexequível, mas não ficou. Fica o
esclarecimento, então, de que
minha posição -manifestada,
aliás, na mesa de debates da
qual participei com o autor da
sugestão, o presidente do BankBoston, Henrique Meirelles- é
que essa sugestão não tem a menor viabilidade.
Lei do Futebol
A aprovação da Lei do Futebol, semanas atrás, além de significar o maior passo em direção à profissionalização do esporte, significa um dos grandes
feitos jornalísticos dos últimos anos. Demonstra que, quando a
mídia se debruça sobre temas relevantes, tem a condição de
transformar a realidade.
O merecimento total é do jornalista Juca Kfouri.
E-mail - lnassif@uol.com.br
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