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CURTO-CIRCUITO
Usina binacional aumentará, em dólar, valor da tarifa; distribuidoras repassarão para a conta dos clientes
Consumidor pagará por reajuste de Itaipu
HUMBERTO MEDINA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Os reajustes das tarifas de energia do segundo semestre serão
maiores por causa do dólar. A
moeda norte-americana influencia o preço da energia no Brasil, e
os consumidores vão arcar com
dois aumentos de custo: a desvalorização do real, desde o final de
abril, e o aumento, em dólar, da
tarifa de energia da hidrelétrica de
Itaipu, previsto para agosto.
Pelo acordo entre Brasil e Paraguai, proprietários da usina, 22
distribuidoras de energia das regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste
são obrigadas a comprar energia
de Itaipu. Por ser binacional, a hidrelétrica vende sua energia em
dólar. Dessa forma, toda vez que
há desvalorização do real, a tarifa
de energia no Brasil sobe.
No final de abril, o dólar estava
cotado em cerca de R$ 2,90. Agora, está na casa de R$ 3,10. Essa variação significa aumento de custo,
pago pelo consumidor. No ano
passado, para evitar os efeitos inflacionários do dólar, o governo
"congelou" o reajuste.
No final de agosto, a hidrelétrica
de Itaipu aumentará, em dólar, o
valor de sua tarifa, hoje estabelecido em US$ 16,44 por kW (quilowatt). O reajuste acontece porque
o valor da tarifa de Itaipu está relacionado à correção da sua dívida, em dólar, com o Tesouro Nacional brasileiro. A dívida é corrigida em 7,5% ao ano, mais a taxa
de inflação dos EUA.
Em 2003, Itaipu estabeleceu o
valor da sua tarifa tendo como base uma cotação média de R$ 3,30
por dólar para o ano de 2004.
Mesmo com a desvalorização do
real desde abril, o valor do dólar
ainda está inferior ao que a empresa esperava, o que gera uma
receita menor que a prevista.
Como os custos de Itaipu são
em reais, a empresa precisa elevar
o valor recebido em dólar para cobri-los. Além disso, há correção
de aproximadamente 3,6% da dívida a ser paga, decorrente da inflação dos EUA. "Provavelmente
deverá haver um aumento de tarifa", diz o secretário-executivo do
Ministério de Minas e Energia,
Maurício Tolmasquim, que também é conselheiro de Itaipu.
Segundo ele, o governo ainda
está tentando fazer com que a Eletrobrás, que comercializa a energia de Itaipu, absorva parte do aumento. Essa possibilidade, no entanto, depende de modificações
na forma de cobrança do PIS/Cofins que ainda não foram aprovadas pelo Congresso.
A tarifa atual de Itaipu, de US$
16,44 por kW, é vendida pela Eletrobrás para as distribuidoras de
energia por US$ 17,85 por kW, depois da incidência de impostos e
dos custos para comercialização.
A tarifa cobrada em dólar da
usina de Itaipu serve para pagar a
dívida dos empréstimos tomados
para sua construção. Atualmente,
a dívida é de US$ 18,998 bilhões. O
principal credor é o Tesouro.
Até 1997, no entanto, a dívida de
Itaipu era em reais, estimada em
aproximadamente R$ 16 bilhões.
Naquele ano, havia paridade entre dólar e real, e a correção da dívida na moeda brasileira era mais
forte do que a valorização da divisa dos EUA. Essa situação tornava
a dívida crescente, pois as receitas
de Itaipu eram dolarizadas.
Além disso, havia a inadimplência das distribuidoras brasileiras.
Juntos, os problemas tornavam a
dívida impagável, na visão dos dirigentes que participaram do processo de "dolarização" do débito.
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