São Paulo, quinta-feira, 29 de junho de 2006

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BC vê espaço para juro cair a até 14,25%

Autoridade monetária diz, no "Relatório de Inflação", haver espaço para corte de mais um ponto sem que IPCA supere meta

Previsão para o crescimento da economia brasileira neste ano é mantida em 4%; Guido Mantega já chegou a estimar expansão em 4,5%


NEY HAYASHI DA CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O Banco Central já dá como certo o cumprimento da meta de inflação deste ano, mas, contrariando previsões mais positivas feitas dentro do governo, ainda mantém em 4% sua projeção para o crescimento econômico esperado em 2006.
Ontem, o BC divulgou mais um "Relatório de Inflação", documento publicado a cada três meses com previsões para a economia. Segundo o texto, ainda que a Selic (hoje em 15,25% ao ano) seja reduzida para 14,25% até dezembro, a inflação (IPCA) do ano ficaria em 4,3% -abaixo, portanto, da meta de 4,5% fixada pelo governo.
Nesse cenário, de acordo com as estatísticas do BC, a chance de a alta dos preços ficar acima da meta seria de apenas 8%. Já a estimativa de 4% para o crescimento deste ano foi anunciada pela primeira vez em dezembro de 2005 e não foi alterada desde então.
O ministro da Fazenda, Guido Mantega, já chegou a dizer que espera expansão de 4,5%.
O diretor de Política Monetária do BC, Afonso Bevilaqua, disse ontem não ver motivos para mudar a previsão de 4% para o crescimento. "O fato de ela [a projeção] ter sido mantida mostra que o cenário que estava sendo antecipado em dezembro [de 2005], que era de recuperação do nível de atividade, está se concretizando."
Para alguns analistas de mercado, as projeções apresentadas ontem pelo BC indicam que ainda há espaço para mais cortes na taxa Selic nos próximos meses. Na avaliação de Marcelo Salomon, economista-chefe do Unibanco, espera-se que os juros sejam reduzidos em 0,5 ponto percentual na próxima reunião do Copom (Comitê de Política Monetária do BC), marcada para 18 e 19 de julho.
"O cenário para a inflação continua muito positivo, o que mantém a expectativa de pelo menos mais dois cortes na Selic", afirmou o economista, que diz esperar redução de 0,25 ponto percentual na reunião do Copom de agosto.
Já Diego Beleza, gestor de renda fixa da corretora Prosper, disse que o cenário traçado pelo BC para o crescimento econômico indica que os cortes nos juros devem ser um pouco menores -para ele, o Copom reduzirá a taxa Selic em 0,25 ponto em julho.

Cortes pequenos
"Acho que o BC vai preferir cortar mais vezes em 0,25 [ponto] a fazer um corte maior, de 0,50 ponto", disse o analista. Na visão de Beleza, o BC espera que outros fatores vão colaborar para a expansão da economia, o que reduziria a necessidade de redução adicional mais forte na taxa Selic.
De acordo com Bevilaqua, a própria queda dos juros ocorrida de setembro para cá -quando a taxa recuou de 19,75% ao ano para os atuais 15,25%- ainda não foi sentida por completo pela economia, devendo colaborar para o crescimento neste ano e no ano que vem.
Além disso, o BC conta também com o impacto positivo que eventos como o aumento do salário mínimo e os maiores gastos do governo terão sobre o nível de atividade econômica nos próximos meses.
Sobre o rumo dos juros, por sua vez, Bevilaqua afirmou que o fato de as projeções de inflação deste ano estarem abaixo da meta do governo não significa que a taxa Selic está num nível excessivamente elevado. "Só por coincidência, dada a volatilidade que a inflação tem, a alta dos preços seria de 4,5% durante todos esses anos. Não tem como."
As metas para a inflação de 2005, 2006 e 2007 foram fixadas em 4,5%. Hoje, o CMN (Conselho Monetário Nacional) se reúne para estabelecer a meta de 2008.


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