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Colombianos compram Cteep em leilão
Proposta para adquirir empresa de energia de São Paulo foi de R$ 1,19 bilhão; ágio sobre preço mínimo ficou em 58%
Dinheiro obtido com privatização da companhia servirá para cobrir parte do rombo da Cesp; negócio
é alvo de críticas
JANAÍNA LEITE
DA REPORTAGEM LOCAL
O governo de São Paulo privatizou ontem a Cteep (Companhia de Transmissão de
Energia Elétrica Paulista). O
controle foi arrematado pela
colombiana ISA1 (Interconexión Eléctrica S.A.), que ofertou R$ 1,193 bilhão pela empresa durante leilão realizado na
Bolsa de Valores de São Paulo.
O lance equivale a ágio de
57,89% sobre o preço mínimo
estabelecido para a venda da
Cteep, de R$ 755,6 milhões.
O objetivo do governo é usar
os recursos para diminuir o
rombo de caixa da Cesp (Companhia de Energética de São
Paulo), cujas dívidas somam
mais de R$ 10 bilhões. "Foi uma
medida não-ideológica, mas
pragmática, para a redução do
tamanho do Estado e o saneamento financeiro da Cesp", disse o secretário paulista de
Energia, Mauro Arce.
Em abril do ano passado, a
Folha revelou que o governo de
São Paulo tinha planos de vender a Cteep e, dessa forma, injetar até R$ 1 bilhão na Cesp. À
ocasião, o então secretário de
Fazenda estadual, Eduardo
Guardia, contestou a informação. "O Estado não pretende
vender as ações da Cteep."
No leilão de ontem, foram
vendidas 31.341.890.064 ações
ordinárias da Cteep em poder
do governo de São Paulo, por
meio de um bloco único. O número corresponde a 50,1% dos
papéis com direito a voto pertencentes ao Estado, ou a 21%
do capital total da empresa.
Mauro Arce confirmou que a
Cesp só será colocada à venda
depois de saneada. "Ela nunca
deixou de estar no programa de
desestatização", disse o secretário. No início deste mês, a
Cesp anunciou um plano para
conseguir cerca de R$ 5 bilhões
em operações de mercado.
Seis participantes, inclusive a
Interconexión, estavam habilitadas para o leilão. Mas houve
só dois lances: o do vencedor,
coordenado pelo Bradesco, e o
do grupo Terna, sediado na Itália, no valor de R$ 1,06 bilhão.
Os demais credenciados -Alusa Engenharia, Brascan Brasil,
Makelle Participações, Pactual
Transmissão e Investimentos- não disputaram.
O diretor de estratégia corporativa internacional da Interconexión, Cesar Ramirez,
informou que pretende pagar
pela Cteep usando recursos
próprios e oriundos do sistema
financeiro. O executivo, porém,
não detalhou quais seriam as
possíveis fontes de financiamento nem o tamanho da fatia
do aporte que virá efetivamente do caixa da Interconexión.
Especialistas do setor de
energia ouvidos pela Folha trabalham com a possibilidade de
os colombianos se associarem
a um grupo local em uma SPE
(sociedade de propósito específico). Poderiam, assim, pedir
dinheiro emprestado ao governo brasileiro para quitar o negócio, via BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento
Econômico e Social). A liquidação financeira está prevista para 19 de julho. Ramirez disse
ainda que a Interconexión fará
novos investimentos em linhas
de transmissão no país. No futuro, complementou ele, a
companhia tende a investir em
transporte de gás.
De acordo com executivos do
setor de energia, os brasileiros
não participaram do leilão porque estão de olho na geração de
energia, ou seja, na Cesp. Para
eles, se o governo de São Paulo
limpar o balanço da empresa,
ela se torna atraente o bastante
para trazer investidores pesos-pesados ao jogo -principalmente grandes empreiteiras.
Críticas
O leilão da Cteep causou críticas de entidades sindicais ligadas aos trabalhadores do setor energético. "A Interconexión pagou quase 60% de ágio;
é a principal prova de que o governo do Estado ignora os números e se desfaz de uma empresa lucrativa", afirmou o presidente licenciado do Sindicato
dos Eletricitários de São Paulo,
Antonio Carlos dos Reis.
A Cteep tem 11.800 km de linhas de transmissão e abriga
em torno de 2.000 funcionários. No primeiro trimestre
deste ano, lucrou R$ 82,8 milhões. Para analistas do mercado financeiro, contudo, o leilão
foi bem-sucedido, pois a oferta
esperada era de mais ou menos
20% sobre o preço mínimo.
"A companhia terá mais facilidade para financiar suas atividades e fazer investimentos",
observou Rosângela Ribeiro, da
ABN Amro Corretora.
O Ministério Público Estadual abriu inquérito civil para
apurar supostos problemas no
leilão. A hipótese é que a venda
da Cteep tenha sido lesiva aos
cofres públicos, pois não foi levado em conta na fixação do
preço mínimo o dinheiro que a
companhia tem em caixa (cerca
de R$ 600 milhões).
Colaborou a Folha Online
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