São Paulo, quinta-feira, 29 de junho de 2006

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Brasil é o 2º mais caro da América do Sul

Consumo per capita, porém, está abaixo da média, e país caiu da quarta para a sexta posição no ranking do Banco Mundial

Preços estabilizados em níveis altos na época do controle da inflação explicam custo brasileiro mais alto, afirma IBGE


Rubens Cardia - 5.jun.06/Folha Imagem
Consumidores na rua 25 de Março (SP); brasileiro consome abaixo da média da América do Sul


PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO

O Brasil convive com o paradoxo de ser o segundo país mais caro da América do Sul e, ao menos tempo, os brasileiros consumirem abaixo da média da região. Os preços registrados no país em 2005 estavam 14,2% acima da média entre dez países do continente, menores apenas do que no Chile -17,7% superiores à média.
Já o consumo das famílias brasileiras per capita era 9,5% menor do que a média da região, o que coloca o país na sexta posição no ranking -em 1996, era o quarto colocado. Os países com maior consumo per capita são Argentina e Chile. O Brasil fica abaixo ainda de Uruguai, Venezuela e Peru.
Os dados são de pesquisa financiada pelo Banco Mundial, com a participação dos institutos de estatística dos países, que mediu a PPC (Paridade de Poder de Compra), indicador do poder de compra de cada moeda. Ou seja, revela quanto um argentino paga por quilo de arroz em relação ao que gasta um brasileiro, por exemplo.
A PPC é estimada com o objetivo de comparar o PIB dos diversos países sem o problema da variação do dólar em cada região. Por ora, porém, só foram divulgados os dados sobre o consumo doméstico, que corresponde, em média, a dois terços do PIB.

Preços x consumo
Para o presidente do IBGE, Eduardo Nunes, os preços no Brasil são elevados por causa da "herança inflacionária" do passado, já que foram estabilizados num nível alto quando o Brasil conseguiu controlar a inflação em meados da década de 90.
"O controle da inflação não implicou queda dos preços. Implicou manutenção do ritmo de evolução dos preços. Ou seja: os preços se estabilizaram, mas num patamar elevado." Os dados sobre o Brasil foram coletados pelo IBGE. Nunes citou como exemplo o caso das tarifas públicas, que subiram muito na época da estabilização.
Os preços mais altos também explicam o menor consumo do brasileiro, já que o elevado custo dificulta o acesso de parte da população a muitos produtos, segundo o presidente do IBGE. "Quando se faz comparação de consumo, tem que se considerar o nível de preço. O Brasil é o segundo país mais caro. Isso o faz perder posição em relação ao outro país que tem preços menores, onde o acesso aos produtos é facilitado."

Desigualdade
Mais grave talvez, diz, seja o problema da desigualdade no país, que impede um maior consumo de importante parcela da população. "O consumo per capita no Brasil é menor exatamente por conta de termos uma distribuição de renda muito mais concentrada do que nesses dois países [Argentina e Chile]. Se há uma distribuição que deixa de lado uma parcela da população numerosa, isso diminui o consumo global."
Com uma distribuição de renda menos desigual, a Argentina registra consumo per capita 61,3% maior que a média da América do Sul, seguida por Chile (48%) e Uruguai (43,5%), países onde a equidade também é maior do que no Brasil. Os mais baixos foram registrados no Paraguai e na Bolívia -30,2% e 47,2% menores do que a média, respectivamente.
Para Jacob Ryten, consultor do Banco Mundial que coordenou a pesquisa, países maiores tendem a ter consumo per capita mais baixo porque há mais disparidade no padrão de renda da população, com áreas mais pobres e outras mais ricas.


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