São Paulo, sexta-feira, 29 de junho de 2007

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VINICIUS TORRES FREIRE

As exportações respiram um pouco

Volume exportado volta a crescer; matérias-primas, bens básicos e combustíveis respondem pela retomada

AS EXPORTAÇÕES voltaram a dar sinal de vida. Em quase todas as categorias de análise, a quantidade de bens exportados pelo país voltou a crescer, comparados os últimos 12 meses com o período anterior, chama a atenção Alexandre Schwartsman, economista-chefe do ABN Amro e colunista desta Folha. Os dados podem estar ligeiramente prejudicados pela greve dos fiscais da Receita em meados do ano passado, mas pouco. O crescimento anual da quantidade de produtos exportados passou de 3% em janeiro para 6,8% em maio.
O crescimento da quantidade de exportações vinha caindo desde maio de 2005, quando ainda corria a 19% ao ano, queimando o resto do combustível do real desvalorizado. A média mensal de crescimento havia sido de uns 17% nos dois primeiros anos do governo Lula (2003-2004), caiu para 15% em 2005 e para 5% em 2006 (enquanto a quantidade de importados cresceu quase 20% no ano passado). O que vinha sustentando o aumento do saldo comercial era o aumento do preço dos produtos.
De onde vem a chiadeira exportadora? Por qualquer critério de análise dos produtos que o país vende ao exterior, aproxima-se de zero o crescimento da quantidade de exportação na categoria das mercadorias mais elaboradas (bens manufaturados em processos industriais mais ou menos complexos), embora quem tenha conseguido manter um pé no mercado internacional compense a perda cambial com preços em alta.
No caso dos bens duráveis (de carros a eletroeletrônicos), houve apenas uma redução das perdas, pois a quantidade de bens exportados dessa categoria ainda encolhe a um ritmo anual de 9%. Mas tais produtos representam apenas 5% do valor da pauta de exportações (embora seus problemas tenham impacto considerável no emprego).
Quase todo o aumento da quantidade exportada veio, como não poderia deixar de ser, de bens intermediários (insumos industriais, grosso modo, 64% da pauta de exportações) e de combustíveis, respectivamente responsáveis por quase dois terços e um terço do aumento de 6,8% do volume de exportação nos últimos 12 meses.
No caso das exportações, esses são os efeitos evidentes da combinação de produtividade brasileira em bens "básicos" e matérias-primas e da alta absurda de preços desses produtos no mercado global, que compensam o câmbio.
Mas, embora estejamos longe do cenário catástrofe pintado quando o dólar caía a R$ 2, há problemas de mais difícil mensuração.
Quantos negócios de exportação se perderam com o câmbio desfavorável? Quanto investimento deixa de ser feito no país, que se torna uma plataforma menos interessante de exportação dado o encarecimento do produto nacional? Sim, ainda há outra perspectiva a complicar a equação, pois certos bens, como máquinas e equipamentos, ficam mais baratos, o que pode vir a aumentar a capacidade produtiva e a produtividade nacional. De resto, a exportação de "produtos básicos" (como álcool, por exemplo) pode ser um canal de incremento da produção de máquinas, equipamentos e instalações para essa indústria.
Difícil fechar a conta de perdas e ganhos.
Não há solução simples para o problema, muito menos direta, como intervenções variadas sobre o câmbio. Menos impostos, menos juros, abertura de mercados, política de inovação e de incremento da produtividade ajudam. Mas tudo isso é muito complicado e, no que depende do governo, não merece grandes elucubrações, apenas as políticas tipo remendo e esparadrapo que temos visto.


vinit@uol.com.br

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