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VINICIUS TORRES FREIRE
As exportações respiram um pouco
Volume exportado volta a crescer; matérias-primas, bens básicos e combustíveis respondem pela retomada
AS EXPORTAÇÕES voltaram a
dar sinal de vida. Em quase
todas as categorias de análise,
a quantidade de bens exportados pelo país voltou a crescer, comparados
os últimos 12 meses com o período
anterior, chama a atenção Alexandre Schwartsman, economista-chefe do ABN Amro e colunista desta
Folha. Os dados podem estar ligeiramente prejudicados pela greve
dos fiscais da Receita em meados
do ano passado, mas pouco. O crescimento anual da quantidade de
produtos exportados passou de 3%
em janeiro para 6,8% em maio.
O crescimento da quantidade de
exportações vinha caindo desde
maio de 2005, quando ainda corria
a 19% ao ano, queimando o resto do
combustível do real desvalorizado.
A média mensal de crescimento
havia sido de uns 17% nos dois primeiros anos do governo Lula
(2003-2004), caiu para 15% em
2005 e para 5% em 2006 (enquanto a quantidade de importados
cresceu quase 20% no ano passado). O que vinha sustentando o aumento do saldo comercial era o aumento do preço dos produtos.
De onde vem a chiadeira exportadora? Por qualquer critério de
análise dos produtos que o país
vende ao exterior, aproxima-se de
zero o crescimento da quantidade
de exportação na categoria das
mercadorias mais elaboradas (bens
manufaturados em processos industriais mais ou menos complexos), embora quem tenha conseguido manter um pé no mercado
internacional compense a perda
cambial com preços em alta.
No caso dos bens duráveis (de
carros a eletroeletrônicos), houve
apenas uma redução das perdas,
pois a quantidade de bens exportados dessa categoria ainda encolhe a
um ritmo anual de 9%. Mas tais
produtos representam apenas 5%
do valor da pauta de exportações
(embora seus problemas tenham
impacto considerável no emprego).
Quase todo o aumento da quantidade exportada veio, como não poderia deixar de ser, de bens intermediários (insumos industriais,
grosso modo, 64% da pauta de exportações) e de combustíveis, respectivamente responsáveis por
quase dois terços e um terço do aumento de 6,8% do volume de exportação nos últimos 12 meses.
No caso das exportações, esses
são os efeitos evidentes da combinação de produtividade brasileira
em bens "básicos" e matérias-primas e da alta absurda de preços
desses produtos no mercado global, que compensam o câmbio.
Mas, embora estejamos longe do
cenário catástrofe pintado quando
o dólar caía a R$ 2, há problemas de
mais difícil mensuração.
Quantos negócios de exportação
se perderam com o câmbio desfavorável? Quanto investimento deixa de ser feito no país, que se torna
uma plataforma menos interessante de exportação dado o encarecimento do produto nacional? Sim,
ainda há outra perspectiva a complicar a equação, pois certos bens,
como máquinas e equipamentos,
ficam mais baratos, o que pode vir a
aumentar a capacidade produtiva e
a produtividade nacional. De resto,
a exportação de "produtos básicos"
(como álcool, por exemplo) pode
ser um canal de incremento da produção de máquinas, equipamentos
e instalações para essa indústria.
Difícil fechar a conta de perdas e
ganhos.
Não há solução simples para o
problema, muito menos direta, como intervenções variadas sobre o
câmbio. Menos impostos, menos
juros, abertura de mercados, política de inovação e de incremento da
produtividade ajudam. Mas tudo
isso é muito complicado e, no que
depende do governo, não merece
grandes elucubrações, apenas as
políticas tipo remendo e esparadrapo que temos visto.
vinit@uol.com.br
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