|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Estabilidade do Real era falsa, diz Coutinho
Presidente do BNDES afirma que verdadeiro equilíbrio da economia veio em 2005, com a melhoria das contas externas
PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO
O presidente do BNDES, Luciano Coutinho, disse ontem
que a estabilidade proporcionada pelo Plano Real "foi extremamente precária" e "vulnerável" às crises cambiais que culminavam em pressões inflacionárias e, conseqüentemente,
em aumento da taxa de juros.
Diante de tal cenário, diz, a
economia estava "incapacitada
para o crescimento".
Para Coutinho, a "verdadeira" estabilização da economia
brasileira ocorreu a partir de
2005, com o crescimento das
exportações, do saldo do balanço de pagamentos e das reservas internacionais.
"Esse crescimento, depois de
2005, solidificou de tal forma o
balanço, aumentou as reservas,
reduziu a vulnerabilidade externa e, finalmente, estabilizou
verdadeiramente a economia
brasileira." Segundo ele, o Plano Real proporcionou "quase
uma falsa estabilização".
Na avaliação do presidente
do BNDES (Banco Nacional de
Desenvolvimento Econômico e
Social), a estabilização pós-Real era "vulnerável às crises
cambiais, que se traduziam em
desvalorização abruptas do
câmbio com impactos inflacionários". Para conter a alta dos
preços, o governo era obrigado
"a subir as taxas de juros para
neutralizar esses impactos inflacionários e derrubava a economia", afirmou. "Portanto, a
economia era incapacitada para o crescimento porque a estabilidade era muito precária."
Com o maior ingresso de dólares no país especialmente por
conta da alta nas exportações,
diz, uma estabilidade "definitiva" foi conquistada só em 2005.
"Só podemos afirmar que a
estabilização definitiva da economia veio em 2005, quando a
robustez cambial brasileira viabilizou uma estabilização da taxa de câmbio e um horizonte de
médio prazo [de estabilidade]
em relação à inflação e à taxa de
câmbio. A possibilidade de surpresas inflacionárias inesperadas a partir de depreciações
cambiais abruptas é página virada", observou.
Para Gustavo Franco, ex-presidente do Banco Central e
um dos mentores do Real, a declaração de Coutinho "é infeliz,
arrogante e pretensiosa". "Parece-me uma tentativa de
"apropriação indébita" do Plano
Real pelo PT", disse.
Segundo Franco, o PT manteve a política econômica de
Fernando Henrique Cardoso
por "incapacidade de pensar
em nada melhor" e teve êxito
"principalmente em decorrência de uma conjuntura extremamente favorável".
Em 1995, o superávit do balanço de pagamentos (conta
que registra todas as transações econômico-financeiras
realizadas pelo Brasil com o
resto do mundo) era de US$
12,9 bilhões. Foi se deteriorando com o regime de câmbio fixo
adotado pelo Real, que resultou
na acumulação de déficits na
balança comercial por causa do
crescimento das importações e
da redução das exportações.
O déficit do balanço de pagamentos atingiu R$ 7,8 bilhões
em 1999, ano em que se adotou
o câmbio flutuante. No ano de
2001, o saldo voltou a ser positivo (US$ 3,3 bilhões), mas se
ampliou nos últimos dois anos
e chegou a US$ 30,6 bilhões em
2006. Ao mesmo tempo, a folga
das contas externas permitiu
ao governo acumular reservas
internacionais, que passaram
de US$ 37,8 bilhões em 2002
para US$ 85,8 bilhões em 2006.
Engordadas em parte pelas
compras de dólares do Banco
Central para conter a valorização do real, as reservas internacionais chegam a US$ 145,5 bilhões e se aproximam da dívida
externa total de longo prazo do
país (US$ 147,8 bilhões).
Texto Anterior: Frases Próximo Texto: BNDES espera superar meta de empréstimo Índice
|