São Paulo, sexta-feira, 29 de junho de 2007

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Estabilidade do Real era falsa, diz Coutinho

Presidente do BNDES afirma que verdadeiro equilíbrio da economia veio em 2005, com a melhoria das contas externas

PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO

O presidente do BNDES, Luciano Coutinho, disse ontem que a estabilidade proporcionada pelo Plano Real "foi extremamente precária" e "vulnerável" às crises cambiais que culminavam em pressões inflacionárias e, conseqüentemente, em aumento da taxa de juros.
Diante de tal cenário, diz, a economia estava "incapacitada para o crescimento".
Para Coutinho, a "verdadeira" estabilização da economia brasileira ocorreu a partir de 2005, com o crescimento das exportações, do saldo do balanço de pagamentos e das reservas internacionais.
"Esse crescimento, depois de 2005, solidificou de tal forma o balanço, aumentou as reservas, reduziu a vulnerabilidade externa e, finalmente, estabilizou verdadeiramente a economia brasileira." Segundo ele, o Plano Real proporcionou "quase uma falsa estabilização".
Na avaliação do presidente do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), a estabilização pós-Real era "vulnerável às crises cambiais, que se traduziam em desvalorização abruptas do câmbio com impactos inflacionários". Para conter a alta dos preços, o governo era obrigado "a subir as taxas de juros para neutralizar esses impactos inflacionários e derrubava a economia", afirmou. "Portanto, a economia era incapacitada para o crescimento porque a estabilidade era muito precária."
Com o maior ingresso de dólares no país especialmente por conta da alta nas exportações, diz, uma estabilidade "definitiva" foi conquistada só em 2005.
"Só podemos afirmar que a estabilização definitiva da economia veio em 2005, quando a robustez cambial brasileira viabilizou uma estabilização da taxa de câmbio e um horizonte de médio prazo [de estabilidade] em relação à inflação e à taxa de câmbio. A possibilidade de surpresas inflacionárias inesperadas a partir de depreciações cambiais abruptas é página virada", observou.
Para Gustavo Franco, ex-presidente do Banco Central e um dos mentores do Real, a declaração de Coutinho "é infeliz, arrogante e pretensiosa". "Parece-me uma tentativa de "apropriação indébita" do Plano Real pelo PT", disse.
Segundo Franco, o PT manteve a política econômica de Fernando Henrique Cardoso por "incapacidade de pensar em nada melhor" e teve êxito "principalmente em decorrência de uma conjuntura extremamente favorável".
Em 1995, o superávit do balanço de pagamentos (conta que registra todas as transações econômico-financeiras realizadas pelo Brasil com o resto do mundo) era de US$ 12,9 bilhões. Foi se deteriorando com o regime de câmbio fixo adotado pelo Real, que resultou na acumulação de déficits na balança comercial por causa do crescimento das importações e da redução das exportações.
O déficit do balanço de pagamentos atingiu R$ 7,8 bilhões em 1999, ano em que se adotou o câmbio flutuante. No ano de 2001, o saldo voltou a ser positivo (US$ 3,3 bilhões), mas se ampliou nos últimos dois anos e chegou a US$ 30,6 bilhões em 2006. Ao mesmo tempo, a folga das contas externas permitiu ao governo acumular reservas internacionais, que passaram de US$ 37,8 bilhões em 2002 para US$ 85,8 bilhões em 2006.
Engordadas em parte pelas compras de dólares do Banco Central para conter a valorização do real, as reservas internacionais chegam a US$ 145,5 bilhões e se aproximam da dívida externa total de longo prazo do país (US$ 147,8 bilhões).


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