São Paulo, sexta-feira, 29 de junho de 2007

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Rodrigo de Rato anuncia saída do FMI

Nš 1 citou "razões pessoais" para deixar posto antes do fim do mandato, em 2009; decisão pode estar ligada à política espanhola

Diretor já teria tomado decisão havia algum tempo, mas não a divulgou para não coincidir com saída de Wolfowitz do Bird

SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON

Ao chegar para trabalhar na sede do FMI (Fundo Monetário Internacional) na manhã de ontem, em Washington, os funcionários foram surpreendidos por um e-mail que logo seria repassado à imprensa. Dirigido aos membros do comitê executivo, Rodrigo de Rato, o número 1 da instituição, anunciava que deixará o posto de diretor-gerente do FMI após a reunião anual de outubro, abreviando o seu mandato, que venceria apenas em 2009.
No texto, o espanhol de 58 anos afirma que sairá por "razões pessoais", entre eles participar mais de perto da educação de seus filhos. "Profissionalmente, não foi uma decisão fácil, porque tenho a mais alta estima por esta instituição", declara no texto o diretor-gerente, que telefonou ao premiê espanhol, José Luis Rodríguez Zapatero, após informar a sua decisão ao comitê de diretores do FMI.
A decisão surpreendeu mesmo os membros do conselho, mas aparentemente já vinha sendo planejada pelo espanhol. Ele só não a teria anunciado antes para distanciá-la do escândalo que levou à renúncia de Paul Wolfowitz, então presidente da entidade-irmã do FMI, o Bird (Banco Mundial), que deixou o cargo depois de virem à tona denúncias de que favoreceu a namorada.
Rato também queria ver implementada parte importante da reforma estrutural pela qual passa o Fundo, em crise desde que seus principais países-membros devedores pagaram suas dívidas, entre os quais o Brasil, já sob o seu mandato. O início da mudança na divisão de cotas a que tem direito cada país foi anunciada há duas semanas e bem recebida pelos emergentes, entre os quais o Brasil, que faziam mais pressão pelas mudanças.
Na Europa, o ministro alemão das Finanças, Peer Steinbrueck, lamentou "muito" a decisão e disse que a saída de Rato "não facilita a difícil tarefa de reforma do FMI que está diante de nós". Até a conclusão desta edição, a Casa Branca não tinha se manifestado a respeito.
Na Espanha e nos corredores do Fundo, especula-se se o ato estaria ligado ao desejo de volta do ex-ministro da Economia ao cenário político local. Membro desde 1979 do conservador Partido Popular de José María Aznar, Rodrigo Rato tentou ser o nome indicado pelo então premiê para concorrer contra Zapatero; acabou perdendo para Mariano Rajoy.
Ao diário espanhol "El País", Gabriel Elorriag, porta-voz do PP, declarou que o partido o recebia de "braços abertos" e que, "se ele quiser", pode ser um dos candidatos a deputado nas próximas eleições gerais espanholas. Segundo fontes citadas pela imprensa de seu país, porém, Rato teria dito que não voltará "de jeito nenhum" à política e que entre seus planos está uma posição na iniciativa privada.

Sucessão
Em Washington, poucas horas depois do anúncio, foi aberta a bolsa de apostas para a sua sucessão. A Folha ouviu de pessoas que acompanham a instituição de perto que o momento pode ser ideal para que se retome a discussão de acabar com a regra não-escrita de que um europeu deve dirigir o Fundo, enquanto um norte-americano comanda o Banco Mundial, nunca quebrada em seis décadas de existência das instituições multilaterais.
Rodrigo Rato não é o primeiro diretor-gerente do Fundo a não concluir o seu mandato; o espanhol assumiu em 2004, depois de seu antecessor, o hoje presidente da Alemanha, Horst Köhler, também interromper o mandato.


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