|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Rodrigo de Rato anuncia saída do FMI
Nš 1 citou "razões pessoais" para deixar posto antes do fim do mandato, em 2009; decisão pode estar ligada à política espanhola
Diretor já teria tomado decisão havia algum tempo, mas não a divulgou para
não coincidir com saída de Wolfowitz do Bird
SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON
Ao chegar para trabalhar na
sede do FMI (Fundo Monetário Internacional) na manhã de
ontem, em Washington, os funcionários foram surpreendidos
por um e-mail que logo seria repassado à imprensa. Dirigido
aos membros do comitê executivo, Rodrigo de Rato, o número
1 da instituição, anunciava que
deixará o posto de diretor-gerente do FMI após a reunião
anual de outubro, abreviando o
seu mandato, que venceria apenas em 2009.
No texto, o espanhol de 58
anos afirma que sairá por "razões pessoais", entre eles participar mais de perto da educação de seus filhos. "Profissionalmente, não foi uma decisão
fácil, porque tenho a mais alta
estima por esta instituição",
declara no texto o diretor-gerente, que telefonou ao premiê
espanhol, José Luis Rodríguez
Zapatero, após informar a sua
decisão ao comitê de diretores
do FMI.
A decisão surpreendeu mesmo os membros do conselho,
mas aparentemente já vinha
sendo planejada pelo espanhol.
Ele só não a teria anunciado antes para distanciá-la do escândalo que levou à renúncia de
Paul Wolfowitz, então presidente da entidade-irmã do
FMI, o Bird (Banco Mundial),
que deixou o cargo depois de virem à tona denúncias de que favoreceu a namorada.
Rato também queria ver implementada parte importante
da reforma estrutural pela qual
passa o Fundo, em crise desde
que seus principais países-membros devedores pagaram
suas dívidas, entre os quais o
Brasil, já sob o seu mandato. O
início da mudança na divisão de
cotas a que tem direito cada
país foi anunciada há duas semanas e bem recebida pelos
emergentes, entre os quais o
Brasil, que faziam mais pressão
pelas mudanças.
Na Europa, o ministro alemão das Finanças, Peer Steinbrueck, lamentou "muito" a decisão e disse que a saída de Rato
"não facilita a difícil tarefa de
reforma do FMI que está diante de nós". Até a conclusão desta edição, a Casa Branca não tinha se manifestado a respeito.
Na Espanha e nos corredores
do Fundo, especula-se se o ato
estaria ligado ao desejo de volta
do ex-ministro da Economia ao
cenário político local. Membro
desde 1979 do conservador
Partido Popular de José María
Aznar, Rodrigo Rato tentou ser
o nome indicado pelo então
premiê para concorrer contra
Zapatero; acabou perdendo para Mariano Rajoy.
Ao diário espanhol "El País",
Gabriel Elorriag, porta-voz do
PP, declarou que o partido o recebia de "braços abertos" e que,
"se ele quiser", pode ser um dos
candidatos a deputado nas próximas eleições gerais espanholas. Segundo fontes citadas pela
imprensa de seu país, porém,
Rato teria dito que não voltará
"de jeito nenhum" à política e
que entre seus planos está uma
posição na iniciativa privada.
Sucessão
Em Washington, poucas horas depois do anúncio, foi aberta a bolsa de apostas para a sua
sucessão. A Folha ouviu de
pessoas que acompanham a
instituição de perto que o momento pode ser ideal para que
se retome a discussão de acabar com a regra não-escrita de
que um europeu deve dirigir o
Fundo, enquanto um norte-americano comanda o Banco
Mundial, nunca quebrada em
seis décadas de existência das
instituições multilaterais.
Rodrigo Rato não é o primeiro diretor-gerente do Fundo a
não concluir o seu mandato; o
espanhol assumiu em 2004,
depois de seu antecessor, o hoje presidente da Alemanha,
Horst Köhler, também interromper o mandato.
Texto Anterior: Mídia: Jornalistas de "WSJ" protestam contra a venda Próximo Texto: Prazo para receber o abono do PIS termina hoje; 515 mil não sacaram Índice
|