São Paulo, domingo, 29 de junho de 2008

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TAM não havia desistido da Varig até a data da venda, afirma sócio

Marco Audi diz que poderia ter vendido a companhia aérea pelo dobro

EM SÃO PAULO
DA REPORTAGEM LOCAL

Leia abaixo trechos da entrevista de Marco Antonio Audi à Folha na última sexta-feira.  

FOLHA - Por que a VarigLog decidiu vender a Varig?
MARCO ANTONIO AUDI
- A gente estava muito apertado, com uma perna no precipício. Uma empresa dessas, se não tiver mais dinheiro, pára. Chegamos à conclusão de que não tínhamos dinheiro, tínhamos de vender. Quatro empresas tinham interesse na Varig: Gol, TAM, LAN Chile e Air Canada.

FOLHA - E por que a Varig foi vendida para a Gol?
AUDI
- A gente tinha de vender para a primeira que pagasse, senão as duas empresas [a Varig e a VarigLog] iriam quebrar. A TAM precisava de mais tempo para estudar seu interesse real ou não, e a Gol estava pronta para pagar. Lap Chan negociou com o Constantino Júnior e disse: "Vamos fechar com a Gol mesmo". Eu falei: "Não, vamos esperar a TAM, a gente vai vender pelo dobro".

FOLHA - E por que não esperaram?
AUDI
- Os caras [a TAM] tinham pedido uma semana. Falei com ele [Lap Chan]: "Me dá R$ 10 milhões que eu sobrevivo esta semana". E ele disse: "Não, vocês se viram". Ainda tentamos conversar com o Júnior, num encontro no hotel Caesar [em São Paulo]. Queríamos convencê-lo a esperar o fim de semana. Ele disse: "Eu não agüento mais essa situação. Ou saio daqui dono da Varig ou vocês nunca mais vão me ver".

FOLHA - Não tinha outra saída?
AUDI
- Faltavam R$ 4 milhões. Era nada perto do faturamento dessas empresas. Mas pegar um empréstimo assim de uma hora para outra não é fácil. A Shell virou e disse: "Se vocês não pagarem até as 3h, vou parar o abastecimento".

FOLHA - O que houve para que Lap Chan optasse por um negócio desvantajoso?
AUDI
- A gente não entende o porquê. Há várias suposições.

FOLHA - A TAM alega ter desistido do negócio...
AUDI
- Até a data da venda, eles [a TAM] não tinham desistido. Antes de anunciar a venda para a Gol, nós nunca tivemos uma negativa da TAM. Os advogados deles participaram [das negociações] naquela semana.

FOLHA - Qual foi a posição do Roberto Teixeira?
AUDI
- Ele teve uma virada súbita. Primeiro ele era contra e, de repente, está abrindo as portas para o comprador da VRG [Audi cita a fotografia de Teixeira ao lado dos donos da Gol no elevador do Palácio do Planalto, no dia da compra da Varig]. Vou deixar para a sua imaginação. Só que ninguém muda de opinião assim se não tiver um grande interesse.

FOLHA - Quando vocês contrataram Teixeira, ele se "vendeu" como alguém capaz de influir em decisões do governo?
AUDI
- A única coisa que ele não me falou é que ele era compadre do Lula. As pessoas até brincam que eu sou mal informado. Fiquei sabendo que ele era parente do Lula três dias depois, quando saiu no jornal.

FOLHA - E o que ele falou?
AUDI
- Ele disse: "Deixa comigo, tenho muita entrada no [setor] regulatório, conheço tudo na Infraero". Esse tipo de coisa ele vendeu". Tanto vendeu que a gente o contratou. Ele vendeu muito bem. Assinei contrato com ele e tinha uma taxa de sucesso. Mas tem uma coisa que preciso falar. O presidente é mais uma vítima do Teixeira, não dá para acusá-lo.

FOLHA - Como assim?
AUDI
- Ele chega num servidor público de segundo escalão e faz aquela pressão. É assim que se faz um tráfico indireto de influência.

FOLHA - O que isso quer dizer?
AUDI
- O tráfico direto é por meio de quem trabalha no governo. A Valeska Teixeira [advogada filha de Roberto Teixeira, afilhada de Lula] age assim: chega perto de um funcionário público e comenta: "Vamos para Brasília e vamos ficar na casa do dindo [Lula]". Imagina para um funcionário público ouvir isso. O cara já fica tremendo.


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