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Captação na Bolsa vai para o bolso de sócios
Ofertas do ano foram de ações de antigos acionistas, que reduziram participações ou saíram das empresas e levaram o dinheiro
Apenas 5% do montante
de ações emitidas neste
ano foi destinado para os planos de investimento das empresas de capital aberto
SAMANTHA LIMA
EM SÃO PAULO
A retomada das ofertas de
ações na Bolsa -os R$ 8,4 bilhões obtidos na abertura de
capital da VisaNet, na semana
passada, são o maior exemplo-
dão a falsa impressão de que o
pregão volta a ser fonte de dinheiro "barato" para empresas
com planos de investimento.
Na verdade, apenas 5% das
ofertas do ano tiveram esse fim.
Esse é o patamar mais baixo
dos últimos cinco anos e contrasta com o recorde de 86%
verificado no ano passado, antes da crise. A captação em que
o dinheiro vai para a empresa
se chama oferta primária, ou
aumento de capital social, e
prevê a emissão de ações novas.
As ofertas primárias de ações
não são necessariamente ofertas iniciais (os famosos IPOs,
de empresas estreantes na Bolsa). Empresas veteranas também fazem oferta primária,
desde que o dinheiro vá para
seu caixa e não para os sócios.
As ofertas deste ano foram
principalmente com ações de
antigos acionistas. Eles aproveitaram a melhora do mercado para reduzir participações
ou até sair das empresas, embolsando o dinheiro, que passa,
portanto, longe do caixa.
Levantamento da Folha no
site da CVM mostra que, em
2005, dos R$ 3,9 bilhões captados no primeiro semestre, 32%
resultaram de operações de aumento de capital -ou seja, direcionados para o caixa das
empresas, disponíveis para investir ou pagar dívida. Estiveram neste caso a Renner, com
captação de R$ 347 milhões, e a
TAM, com R$ 437 milhões.
Em 2006, 37% dos R$ 13 bilhões captados no primeiro semestre foram para as empresas. Em 2007, o frigorífico JBS
e a empresa de logística Log-In,
entre outras, levaram 62% dos
R$ 25 bilhões levantados entre
janeiro e junho.
O recorde de 86% de dinheiro indo para o caixa das empresas no primeiro semestre de
2008, antes do ápice da crise,
foi puxado pelo IPO da OGX. A
empresa de Eike Batista conseguiu R$ 6,7 bilhões para explorar petróleo na bacia de Santos.
Barato e longo prazo
Com o crescimento ano a ano
das novas captações, a Bolsa
consolidava-se como fonte para as empresas obterem recursos a longo prazo.
A Bolsa ainda tem a vantagem de proporcionar dinheiro
"barato" -desde que esteja
num ciclo de valorização das
ações- porque as empresas
não pagam juros, ao contrário
de quando recorrem a bancos.
De R$ 150 bilhões obtidos
com novas ofertas de ações na
Bolsa entre 2005 e hoje, R$ 84
bilhões foram para as empresas
e o restante para os sócios.
Das três empresas que foram
à Bolsa em 2009, só a MRV Engenharia queria dinheiro para
investir. Levantou R$ 595 milhões para construir prédios e
para comprar terrenos.
Além de R$ 8,4 bilhões que os
sócios da VisaNet -Visa Internacional e Itaú, entre outros-
levantaram, o Citigroup vendeu R$ 2,2 bilhões em ações da
Redecard em março.
Para Haroldo Mota, professor da Fundação Dom Cabral,
não é coincidência que as maiores ofertas do ano sejam de empresas de meios de pagamento,
ligadas ao consumo interno no
país. "O mercado interno segurou a economia no período de
crise, o que favorece o cenário
dessas empresas. Os investidores estão atentos a isso."
Em sua opinião, o cenário deve mudar no próximo ano. "O
horizonte da economia vai clarear, e as empresas vão retomar
seus planos de investimento. A
queda de juros baixa o custo
dos empréstimos, mas também
reduz a perspectiva de rentabilidade de quem compra ações."
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