São Paulo, segunda-feira, 29 de junho de 2009

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Captação na Bolsa vai para o bolso de sócios

Ofertas do ano foram de ações de antigos acionistas, que reduziram participações ou saíram das empresas e levaram o dinheiro

Apenas 5% do montante de ações emitidas neste ano foi destinado para os planos de investimento das empresas de capital aberto

SAMANTHA LIMA
EM SÃO PAULO

A retomada das ofertas de ações na Bolsa -os R$ 8,4 bilhões obtidos na abertura de capital da VisaNet, na semana passada, são o maior exemplo- dão a falsa impressão de que o pregão volta a ser fonte de dinheiro "barato" para empresas com planos de investimento. Na verdade, apenas 5% das ofertas do ano tiveram esse fim.
Esse é o patamar mais baixo dos últimos cinco anos e contrasta com o recorde de 86% verificado no ano passado, antes da crise. A captação em que o dinheiro vai para a empresa se chama oferta primária, ou aumento de capital social, e prevê a emissão de ações novas.
As ofertas primárias de ações não são necessariamente ofertas iniciais (os famosos IPOs, de empresas estreantes na Bolsa). Empresas veteranas também fazem oferta primária, desde que o dinheiro vá para seu caixa e não para os sócios.
As ofertas deste ano foram principalmente com ações de antigos acionistas. Eles aproveitaram a melhora do mercado para reduzir participações ou até sair das empresas, embolsando o dinheiro, que passa, portanto, longe do caixa.
Levantamento da Folha no site da CVM mostra que, em 2005, dos R$ 3,9 bilhões captados no primeiro semestre, 32% resultaram de operações de aumento de capital -ou seja, direcionados para o caixa das empresas, disponíveis para investir ou pagar dívida. Estiveram neste caso a Renner, com captação de R$ 347 milhões, e a TAM, com R$ 437 milhões.
Em 2006, 37% dos R$ 13 bilhões captados no primeiro semestre foram para as empresas. Em 2007, o frigorífico JBS e a empresa de logística Log-In, entre outras, levaram 62% dos R$ 25 bilhões levantados entre janeiro e junho.
O recorde de 86% de dinheiro indo para o caixa das empresas no primeiro semestre de 2008, antes do ápice da crise, foi puxado pelo IPO da OGX. A empresa de Eike Batista conseguiu R$ 6,7 bilhões para explorar petróleo na bacia de Santos.

Barato e longo prazo
Com o crescimento ano a ano das novas captações, a Bolsa consolidava-se como fonte para as empresas obterem recursos a longo prazo.
A Bolsa ainda tem a vantagem de proporcionar dinheiro "barato" -desde que esteja num ciclo de valorização das ações- porque as empresas não pagam juros, ao contrário de quando recorrem a bancos.
De R$ 150 bilhões obtidos com novas ofertas de ações na Bolsa entre 2005 e hoje, R$ 84 bilhões foram para as empresas e o restante para os sócios.
Das três empresas que foram à Bolsa em 2009, só a MRV Engenharia queria dinheiro para investir. Levantou R$ 595 milhões para construir prédios e para comprar terrenos.
Além de R$ 8,4 bilhões que os sócios da VisaNet -Visa Internacional e Itaú, entre outros- levantaram, o Citigroup vendeu R$ 2,2 bilhões em ações da Redecard em março.
Para Haroldo Mota, professor da Fundação Dom Cabral, não é coincidência que as maiores ofertas do ano sejam de empresas de meios de pagamento, ligadas ao consumo interno no país. "O mercado interno segurou a economia no período de crise, o que favorece o cenário dessas empresas. Os investidores estão atentos a isso."
Em sua opinião, o cenário deve mudar no próximo ano. "O horizonte da economia vai clarear, e as empresas vão retomar seus planos de investimento. A queda de juros baixa o custo dos empréstimos, mas também reduz a perspectiva de rentabilidade de quem compra ações."


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