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Receita busca evitar perda na exportação
Regulamentação do pacote cambial terá dispositivos para impedir que empresas deixem de pagar IR sobre serviços no exterior
Imposto será recolhido na hora em que o pagamento for feito, mesmo que os
recursos para isso estejam depositados fora do país
LEANDRA PERES
SUCURSAL DE BRASÍLIA
O governo vai incluir na regulamentação do pacote cambial normas para evitar uma
perda de arrecadação de R$
930 milhões com o recolhimento do IRRF (Imposto de
Renda Retido na Fonte) pago
sobre serviços contratados no
exterior, além de fechar brechas que atualmente facilitam a
sonegação.
Uma instrução normativa da
Receita Federal estabelecerá
que o IR -hoje cobrado sempre
que uma remessa é feita ao exterior para quitar serviços-
continuará sendo recolhido no
momento em que o pagamento
for feito, mesmo que os recursos para isso estejam depositados fora do país.
Entre os serviços que a empresa pode contratar no exterior estão assessoria e consultoria, pagamentos de honorários, assistência técnica, royalties e até juros.
Essa mudança na regra de recolhimento do IR tornou-se
necessária depois que o governo autorizou as empresas a
manter até 30% das receitas
com exportações depositados
em contas no exterior. A regra
atual exige que todo o dinheiro
recebido nas vendas externas
seja transformado em reais e
entre no país.
"Vamos aproveitar a regulamentação para aperfeiçoar e
modernizar os controles e fazer
frente à internacionalização e à
maior abertura cambial da economia", explicou o secretário
de Política Econômica do Ministério da Fazenda, Júlio Sérgio Gomes de Almeida.
A interpretação do governo é
que o Imposto de Renda no
Brasil é cobrado em bases universais e não se restringe a operações feitas no território nacional. Assim, se a empresa que
está pagando pelo serviço é residente no país, isso basta para
que o tributo seja devido.
A arrecadação do IR sobre remessas ao exterior foi de R$
6,184 bilhões no ano passado. A
estimativa da equipe econômica é que cerca de 15% desse valor corresponda ao recolhimento sobre pagamento de serviços no exterior.
O imposto cobrado nessas
operações é de 15%, mas, se a
remessa for feita para um paraíso fiscal, a taxa é de 25%.
Planejamento tributário
O pagamento do IR sobre
serviços contratados no exterior é hoje alvo de um tipo de
planejamento tributário que o
governo pretende restringir
ainda mais na regulamentação
do pacote cambial.
A operação tem como base
um empréstimo feito pela empresa no Brasil a uma companhia do mesmo grupo no exterior. Com o dinheiro recebido,
essa empresa paga o serviço
contratado originalmente pela
companhia brasileira e foge do
pagamento do IR.
Rastreamento
Hoje, porém, a Receita consegue rastrear esse tipo de operação a partir do pagamento da
CPMF que incide sobre a remessa dos recursos para o exterior. Com a flexibilização das
regras cambiais e a suspensão
da cobrança da CPMF sobre o
dinheiro que ficará no exterior,
o governo perderá o controle
sobre o uso desses recursos.
Para evitar que as empresas
usem essa brecha para fugir do
pagamento o IR, o governo
considerará essas operações ilícitas. Na prática, isso quer dizer
que, se a Receita pegar esse tipo
de operação, não precisará demonstrar a intenção de burlar o
fisco porque a triangulação estará proibida.
Além disso, as empresas serão obrigadas a declarar à Receita Federal o destino do dinheiro deixado no exterior.
Com esse documento, o governo terá uma espécie de "confissão de culpa" das empresas. Caso o que foi declarado não corresponda à realidade, a Receita
pode multar o contribuinte.
Colaborou SHEILA D'AMORIM ,
da Sucursal de Brasília
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