|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Patronato deixa Codefat após ação de Lupi
Confederações empresariais abandonam órgão após manobra de ministro para eleger presidente e ameaçam ir à Justiça
Eleito ganhou registro de líder de confederação empresarial do próprio Lupi e comandará patrimônio de R$ 158 bi em ano eleitoral
JULIANNA SOFIA
MARTA SALOMON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Depois de 19 anos, as quatro
maiores confederações de empresários do país -CNI, CNA,
CNC e CNIF- abandonaram
ontem o Codefat (Conselho
Deliberativo do Fundo de Amparo ao Trabalhador) em reação à manobra promovida pelo
ministro Carlos Lupi (Trabalho) para controlar o conselho
em 2010, ano eleitoral.
As grandes entidades patronais ameaçam agora ir à Justiça
reclamar a falta de representatividade do conselho, responsável pela gestão de um patrimônio de R$ 158 bilhões.
A manobra de Lupi, antecipada pela Folha, resultou na
eleição de Luigi Nese, presidente da Confederação Nacional de Serviços, que recentemente recebeu o registro sindical do próprio ministro Lupi e
cuja representatividade é contestada pelos representantes
patronais mais antigos.
O órgão colegiado é composto por 18 representantes do governo, dos empresários e dos
trabalhadores. A presidência
do conselho é rotativa, havendo alternância das bancadas na
ocupação do cargo. Nos últimos anos, a tradição era a bancada da vez decidir internamente o nome do novo presidente, evitando votação.
Por esse "acordo de cavalheiros", o presidente eleito para o
próximo biênio seria um conselheiro da CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária
do Brasil). A Folha apurou que
nas últimas semanas Lupi decidiu lançar um outro candidato
com o objetivo de evitar que a
confederação -presidida pela
senadora de oposição Kátia
Abreu (DEM-TO)- passasse a
comandar o Codefat.
"A ingerência do ministro
Lupi resulta numa temeridade.
Ministro patrocinar sindicato
chapa-branca é uma volta ao
passado", disse a senadora, que
confirma estudos da CNA, ao
lado das demais grandes confederações patronais, de recorrer
à Justiça.
"Foi uma atitude infantil",
reagiu Luigi Nese. Ele antecipou sua proposta para tentar
reverter o déficit bilionário do
Fundo de Amparo ao Trabalhador, de R$ 3,5 bilhões neste
ano e de R$ 8 bilhões em 2010:
reduzir encargos sobre as folhas de salários como forma de
estimular a criação de empregos e reduzir os gastos com seguro-desemprego, atualmente
o principal gasto do fundo.
Rabo preso
Nese insistiu em descaracterizar o resultado de ontem como vitória do ministro do PDT.
"Lupi me deu o registro sindical, mas não tenho rabo preso."
Conselheiros relataram que
Lupi teria telefonado para vários integrantes pedindo votos
para Nese. A CNS e a CNTur
(Confederação Nacional do Turismo) foram incluídas no Codefat em abril, por obra do ministro.
Além delas, duas entidades
sindicais e dois representantes
do governo também passaram
a fazer parte do conselho. A nova composição foi necessária
porque, desde o reconhecimento das centrais sindicais em
2008, houve ampliação do número de entidades consideradas legais no país. Para manter
a paridade de assentos, as demais bancadas ganharam também novos representantes.
Na ocasião, Lupi chegou a
propor ao presidente Lula o fim
da presidência rotativa. A ideia
era delegar o comando do Codefat ao ministro do Trabalho.
A proposta foi rechaçada.
Lupi negou ontem interferência na sucessão e afirmou
desconhecer o acordo fechado.
Em entrevista antes da decisão
das confederações de abandonar o conselho, ele declarou
que não trabalhou por nenhuma candidatura. "Qualquer que
seja o resultado, eu não participei, eu não votei. Respeitarei
qualquer decisão", disse Lupi.
Em nota, as quatro confederações afirmaram que não reconhecem a legitimidade na escolha da CNS pelo Ministério
do Trabalho e acusaram Lupi
de desrespeitar o "princípio ético da imparcialidade". "A interferência nesse processo agride
o princípio democrático que
garantiu o equilíbrio e a harmonia na convivência entre as
bancadas representadas."
Com a saída das quatro confederações, o Codefat levou a
votação o nome de Nese, que foi
eleito por 12 votos. Houve duas
abstenções -dos ministérios
da Previdência e da Agricultura. Segundo Nese, a retirada das
entidades não é um problema,
pois elas podem ser substituídas por outras "ávidas" por
uma vaga no conselho.
"Não existia acordo. Se conto
com a simpatia do ministro?
Você precisa perguntar a ele. O
que aconteceu foi que as entidades não concordaram com
um processo conduzido democraticamente", disse Nese.
Texto Anterior: Incentivo: Brasil poderia ampliar alívio fiscal, diz FMI Próximo Texto: Órgão tem orçamento de R$ 43 bi Índice
|