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Argentinos aceitam "tribunal" e decisão que vier a ser tomada
CLÓVIS ROSSI
do Conselho Editorial
O governo argentino aceita não
apenas o MSC (Mecanismo de
Solução de Controvérsias), como
também a decisão final a ser tomada pelos árbitros do comitê a
ser criado para tentar resolver a
pendência com o Brasil.
O mecanismo é uma espécie de
"tribunal" em que as partes designam cada uma o seu perito e escolhem também um árbitro neutro,
que pode ou não ser de um país
do próprio Mercosul, o conglomerado que reúne, além dos dois
países em conflito, o Paraguai e o
Uruguai.
Mas, até se chegar ao MSC, há
alguns passos prévios. O primeiro
deve ser dado quarta-feira, em
princípio, em Montevidéu, em
reunião do GMC (Grupo Mercado Comum), instância técnica.
A data só não está definitivamente confirmada porque há gestões para que se reúna igualmente
o Conselho do Mercosul, formado pelos ministros e, como tal,
uma instância política.
O representante brasileiro, o
embaixador José Alfredo Graça
Lima, já comunicou a seu par argentino, Jorge Campbell, que,
nessa reunião, será invocado o artigo 2 do chamado Protocolo de
Brasília. É o item que dá 15 dias de
prazo para que as partes tentem
resolver a pendência em conversas bilaterais.
Cotas
O recurso brasileiro refere-se
especificamente à imposição de
cotas para a importação de tecidos do Brasil (e também da China
e do Paquistão).
Mas o contencioso com a Argentina passou a ser mais amplo
depois que o governo argentino
decidiu impor salvaguardas generalizadas para defender seus produtores.
O argumento que o governo argentino vai usar, para justificar as
medidas protecionistas, é o de
que, em um mecanismo de integração como o Mercosul, uma
desvalorização da moeda de um
parceiro acaba por desempenhar
na prática o papel de uma tarifa
de importação.
Ocorre que uma desvalorização
provoca o que os economistas
chamam de mudança dos preços
relativos.
Importar um litro de leite da Argentina custava, antes da desvalorização do real, digamos, US$ 1,
que correspondia, então, a R$ 1,2.
Agora, o importador brasileiro
gasta R$ 1,8 para fazer idêntica
importação.
"Tarifa" cambial
Pelos cálculos argentinos, mesmo descontado o período em que
a moeda brasileira esteve sobrevalorizada, a desvalorização significou, na prática, uma tarifa de
10% para comprar produtos argentinos.
As salvaguardas seriam uma espécie de compensação para essa
suposta tarifa, embora os argentinos sejam os primeiros a admitir
que desvalorizações não são compensáveis, em política comercial.
O Brasil ouvira idêntico argumento já em janeiro, no auge da
crise cambial. Concordou então
em fazer uma ou outra concessão,
mas acha que salvaguardas e cotas, como os argentinos adotaram
agora, "é introduzir cláusulas para escapar ao livre comércio, que é
o objetivo dos dois governos", como diz Graça Lima.
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