São Paulo, domingo, 29 de agosto de 2004

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Segmento ainda é ignorado no Brasil

DE LONDRES

"No mercado brasileiro, ainda existe muita ignorância a respeito do segmento financeiro islâmico e de seu potencial." A frase é de uma brasileira que entende do assunto: Angela Martins, diretora do Departamento Internacional do ABC Brasil, instituição de capital árabe que opera no país.
Segundo Angela -autora do livro "A Banca Islâmica", que acaba de ser lançado-, a tendência, porém, é que aumente o interesse sobre a sharia (lei islâmica), que orienta os negócios islâmicos à medida que têm crescido as trocas comerciais entre Brasil e os países da Liga Árabe.
"O comércio do Brasil com os 22 países que fazem parte da Liga Árabe, todos muçulmanos, tem crescido fortemente nos últimos anos, principalmente após a visita do presidente Lula, no final do ano passado. Em 2003, o Brasil exportou cerca de US$ 2,7 bilhões e, neste ano, até agora, já passou de US$ 3 bilhões, e parte desse fluxo tem sido financiado por instituições financeiras islâmicas", afirma Angela, que foi a primeira mulher a entrar em um banco na Arábia Saudita, em 2002.
"Eu fui para uma reunião na Arábia Saudita, mas as mulheres são proibidas de entrar em bancos lá. Precisei de uma autorização especial. Fui a primeira mulher a conseguir isso. Não sei se depois tiveram outras", diz ela.

Financiamento
Angela explica que, muitas vezes, instituições financeiras islâmicas sediadas nos países árabes participam das transações com o Brasil porque oferecem financiamento às empresas muçulmanas importadoras dos produtos brasileiros. Para estar de acordo com a sharia, o importador não pode pegar dinheiro emprestado no banco. Então, a instituição compra o produto do exportador e o revende ao comprador.
De acordo com Angela, Londres está na dianteira no desenvolvimento do mercado financeiro islâmico. No Brasil, segundo Angela, há empresas como Sadia e Perdigão que exportam para países árabes e, portanto, possuem unidades que operam de acordo com os mandamentos islâmicos e são até supervisionadas por um fiscal. Ela cita como exemplo o abate de aves, que tem de ser precedido por orações feitas pelo profissional que deve estar voltado para Meca. (EF)


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