São Paulo, quarta-feira, 29 de agosto de 2007

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Mercados globais voltam a ter dia de perdas; Bolsa cai 2,7%

Dados ruins nos EUA interrompem recuperação; dólar sobe 2,6% e supera R$ 2

Estrangeiros voltam a sair do Brasil para aplicações mais seguras, após texto do Fed não atenuar temores sobre o mercado americano

FABRICIO VIEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

Os mercados financeiros globais tiveram novo dia de perdas ontem após a recuperação dos últimos dias. Novamente, sinais de que a economia dos EUA pode ser afetada mais fortemente pela crise no setor de crédito foram a maior fonte de turbulência global.
No Brasil, o dólar subiu 2,61% e voltou a fechar acima de R$ 2. A Bovespa, após sete pregões de alta, recuou 2,70%. Já o risco-país subiu 3,5%, a 207 pontos. Desde o começo da crise, em 24 de julho, o Ibovespa, principal índice da Bolsa, tem perdas de 11%. No ano, porém, acumula alta de 16,13%.
A Bolsa de Nova York viu seu principal índice, o Dow Jones, cair 2,10%. E a Bolsa eletrônica Nasdaq perdeu 2,37%.
"Apesar de os últimos dias terem sido favoráveis, era ilusão imaginar que a crise estava se dissipando. O mercado segue muito sensível e temeroso, e os investidores sabem que a qualquer momento ainda podem aparecer problemas em fundos ou mesmo instituições, que ainda não se manifestaram", afirma Newton Rosa, economista-chefe da Sul América Investimentos.
O dia já começou fraco ontem, com a divulgação de indicador mostrando queda na confiança do consumidor americano. Á tarde, a divulgação da ata referente à última reunião do Fed (o banco central dos EUA) empurrou os mercados um pouco mais para baixo.
Apesar de a reunião do Fed ter ocorrido no dia 7 de agosto, dois dias antes do agravamento da crise, os investidores contavam com um texto mais claro na ata, que mostrasse que os juros americanos estão muito perto de serem reduzidos. Mas isso não ocorreu.
Como a inflação segue como o principal foco da atenção do Fed, a sexta-feira tende a ser o dia mais agitado da semana. Além da divulgação do PCE (índice de gastos pessoais dos americanos), o preferido nas análises do Fed, o presidente da autoridade monetária americana, Ben Bernanke, fará um discurso muito aguardado.
O tom no mercado acionário europeu foi o mesmo. A Bolsa de Londres perdeu 1,9%, e a de Frankfurt caiu 0,74%.
Na América Latina, houve quedas mais pesadas que a vivida pela Bovespa. A Bolsa de Buenos Aires fechou com desvalorização de 4,36%. A do México recuou 3,13%.
Para colaborar com os negócios ruins, o Merrill Lynch rebaixou sua recomendação para os papéis de três gigantes financeiros dos EUA Lehman Brothers, Bear Stearns e Citigroup, em conseqüência de suas exposições aos problemas no mercado de dívida.
O mercado global enfrenta, desde o final de julho, perdas relevantes decorrentes do temor dos investidores do contágio da crise do segmento de crédito habitacional americano de alto risco (os que carregam menos garantias). Temendo quebras ou calotes de fundos ou instituições financeiras, os investidores passaram a se desfazer de ações e títulos mais arriscados, como os de países emergentes, para fazer caixa e aplicar em papéis do Tesouro dos EUA, mais seguros.
Os investidores estrangeiros, que tinham voltado a demonstrar maior apetite para adquirir ações brasileiras nos últimos dias, destacaram-se ontem na ponta de compra. O saldo das operações feitas com capital externo na Bolsa no mês, que estava negativo em R$ 2,14 bilhões no dia 15, tinha melhorado e passado a ser negativo em R$ 1,26 bilhão no dia 23.
"Vimos estrangeiros voltando a sair com mais força hoje [ontem], o que pressiona a cotação do dólar", avalia Mário Battistel, diretor da corretora Novação. "Mas, como nossos juros seguem em níveis absurdos, uma atenuação da crise vai trazer de volta muito capital externo, o que deve empurrar o dólar novamente para perto de R$ 1,90." Com a cotação de ontem (R$ 2,002), o dólar acumula apreciação de 6,32% no mês.


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