São Paulo, domingo, 29 de setembro de 2002

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Para empresários, estrago já está feito

DA REPORTAGEM LOCAL

A ansiedade do mercado criada pela alta do dólar e as eleições pode diminuir nesta semana se ficar mais claro se haverá ou não segundo turno. Essa é a análise de empresários ouvidos pela Folha. Ainda assim, na opinião deles, o estrago está feito.
A indústria eletroeletrônica suspendeu compra e venda na semana passada devido à oscilação brusca do dólar, informa Paulo Saab, presidente da Eletros (Associação Nacional dos Fabricantes de Produtos Eletroeletrônicos). "A situação é tão absurda que ninguém consegue negociar."
De janeiro até julho, diz, o aumento de custos das indústrias chegou a 30%, principalmente em razão da elevação do dólar, mas o repasse para os preços foi da ordem de 8%. "E não estamos nem levando em conta o aumento da cotação da moeda norte-americana dos últimos dias. É uma insanidade o que está acontecendo com o dólar. Não dá para prever mais nada neste momento", diz Saab.
Na semana passada, segundo fabricantes do setor, foram liberados poucos lotes de insumos nos portos do país, o que deve acontecer também nesta semana.
Isso porque, quando as empresas desembaraçam os produtos, elas precisam pagar por eles pela cotação do dólar médio da semana. Como a moeda norte-americana disparou nas últimas semanas, elas acabaram atrasando o desembaraço das mercadorias nos portos na tentativa de minimizar o aumento de custos.

Redução nas previsões
Os fabricantes do setor eletroeletrônico começaram o ano com previsão de produzir entre 6% e 8% mais do que em 2001. No meio do ano reduziram a estimativa para 3% a 3,5% e, logo depois, para 1% a 1,5%. "Não sabemos mais o que vai acontecer. As encomendas para o final de ano nem começaram ainda", afirma.
A mesma situação vive a indústria de alimentos. A Adria, por exemplo, informa que as vendas para o final do ano foram postergadas para depois das eleições. "Está tudo meio nebuloso", afirma Antonio Zambelli, diretor de marketing da Perdigão, que esteve em contato com fornecedores no Rio na semana passada.
No setor de bebidas, porém, há alguns empresários mais otimistas. "Achamos que podemos vender nos próximos dias o que já havíamos planejado", afirma Augusto César Parada, diretor-superintendente da Kaiser. A cervejaria comercializa entre 23% e 24% de suas vendas entre novembro e dezembro.

Termômetro
A indústria de embalagens, considerada termômetro da atividade industrial, mantém a previsão de produzir 1,5% mais neste ano sobre 2001, mas chegou a projetar crescimento de 2,1%.
"Apesar de a maior parte das matérias-primas ser produzida no país, elas são commodities, como a celulose e as resinas plásticas. E, nesse cenário de desaquecimento, é difícil repassar aumento de preços", diz Luciana Pellegrino, diretora-executiva da Abre (Associação Brasileira da Indústria de Embalagem).
Fábio Silveira, economista da MB Associados, diz que existe uma inflação de custos em vários setores da economia -da indústria de embalagens até a de cosméticos. Isso, somado ao fato de a economia estar retraída, pode resultar numa redução acentuada na produção neste final de ano, quando as fábricas deveriam estar operando a pleno vapor.

Costume
O Brasil, na análise de Gilberto Dupas, presidente do Instituto de Estudos Econômicos e Internacionais, se acostumou a trabalhar com produtos importados. Em 90, os artigos estrangeiros representavam 6% do que era consumido no país. Dez anos depois, esse percentual estava em 22%. No setor de bens duráveis, informa, esse percentual subiu de 9% para 45% no período.
Essa elevação do dólar tem levado alguns setores a buscar o caminho inverso: a troca de produtos importados por nacionais, como no caso de alguns componentes para o setor de telecomunicações.

Papel e celulose
Para Bernardo Szpigel, diretor financeiro da Companhia Suzano e da BahiaSul, as empresas vão apresentar prejuízos contábeis no terceiro trimestre com a alta do dólar, mas o dinheiro no caixa deverá até aumentar por causa das exportações.
O dólar valorizado teve impacto negativo no balanço das empresas, apesar de o pagamento das dívidas ser parcelado por vários anos. Ao mesmo tempo, as empresas melhoram seus ganhos com o aumento da receita com as vendas externas. "Com a desvalorização do real, o resultado pode ser ruim, mas a geração de dinheiro em caixa melhora", diz o diretor da Suzano e da BahiaSul. (FF)


Colaboraram Adriana Mattos e László Varga, da Reportagem Local, e Guilherme Barros, editor do Painel S.A.


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