São Paulo, domingo, 29 de setembro de 2002

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ANÁLISE / FRAUDES DO CAPITAL

Escândalos chamuscam os analistas

DO "FINANCIAL TIMES"

A nalistas. Quem precisa deles? Custam muito dinheiro aos bancos, mas os relatórios de pesquisas que produzem são distribuídos gratuitamente. Suas recomendações de "compre, compre, compre" ajudaram a alimentar a alta das Bolsas, mas suas tardias recomendações de venda pouco fizeram para limitar o estrago subsequente.
Seus piores excessos, os elogios de Henry Blodget a empresas de internet que eram verdadeiras arapucas e a recomendação da agora sabidamente fraudulenta WorldCom por Jack Grubman, causaram sérios danos à reputação dessa categoria profissional. Isso se aplica não apenas aos empregadores dos dois profissionais mencionados, o Merrill Lynch e o Citicorp, mas a todos os bancos que trabalham ao mesmo tempo em finanças corporativas, por um lado, e corretagem de ações, pesquisa e assessoria a clientes de varejo, de outro.

Vergonha
Os conflitos de interesse estavam muito presentes quando os analistas ajudaram a promover negócios de fusão e aquisição. Os analistas do Merrill Lynch recebiam formulários solicitando detalhes de seu envolvimento em transações, "com especial atenção" ao papel desempenhado por suas pesquisas na "origem, execução e acompanhamento" de transações.
Que vergonha. Mas será que a atual escassez de transações e de ofertas públicas iniciais de ações não sugere uma solução óbvia? Demitam os analistas e economizem um bom dinheiro.
O problema é que os analistas são necessários. Os bancos que subscrevem uma emissão de ações precisam de uma avaliação sobre a companhia e suas perspectivas, e as empresas cotadas em Bolsa precisam de retornos analíticos. Esse trabalho precisa ser executado por pessoas inteligentes, dotadas de conhecimentos especializados, o que sai caro.

Quem paga?
Mas os grandes grupos que são clientes dos bancos relutam em pagar diretamente pelos custos de análise. Como aconteceu com muita frequência durante os anos de alta do mercado, os lucros recordes que o setor financeiro vinha obtendo foram usados, em parte, para subsidiar esse tipo de serviço.
Com a lucratividade esmagada e com as autoridades federais reerguendo muralhas da China entre os serviços de pesquisa e o financiamento corporativo, todos os bancos precisam repensar seu modelo de negócios. Os que mantiverem seus departamentos de pesquisa deveriam reduzi-los ao modelo tradicional, de "analistas de corretagem".
Os analistas podem se alimentar das correntes de lucros gerados pela corretagem, estimulada pelas suas recomendações de compra e venda. Os custos de seus serviços poderiam ser incluídos em contas detalhadas, enviadas aos clientes corporativos.

Mais por menos
As equipes de pesquisa mantidas pelas instituições financeiras deveriam cobrar diretamente dos clientes por seus serviços. Não deveria ser permitido que seus custos sejam disfarçados em meio a comissões de corretagem.
Alguns dos bancos serviços podem decidir que não vale a pena manter pesquisadores como parte de suas equipes. O futuro desses profissionais pode estar no setor de assessoria aos investidores, nas corretoras, nos fundos de investimento ou em empresas de pesquisa independentes. Haverá menor número deles, milhares deverão perder o emprego, mas já passou a hora de a qualidade vir antes da quantidade nesse ramo de atividade.


Tradução de Paulo Migliacci


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