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São Paulo, segunda-feira, 29 de setembro de 2003

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FIM DO SUFOCO?

Atividade parou de cair, mas sinais são contraditórios e se confundem com reação sazonal do segundo semestre

Retomada ainda é frágil, dizem economistas

Jorge Araújo/ Folha Imagem
Brinquedos para o Dia das Crianças na linha de montagem da Grow


FÁTIMA FERNANDES
DA REPORTAGEM LOCAL

Apesar do aumento nas vendas de alguns setores da indústria e do comércio verificado a partir de julho, ainda há dúvidas se o país já iniciou o processo de retomada. O que empresários e economistas têm certeza é que a economia brasileira chegou ao fundo do poço há dois meses e "parou de cair".
Os dados que mostram recuperação nas vendas e na produção, dizem, ainda são frágeis, contraditórios e se confundem com o período sazonal de reaquecimento da atividade econômica, que ocorre no segundo semestre.
A indústria de papelão ondulado -considerada um dos principais termômetros da economia- começou a se recuperar em julho, quando as vendas cresceram 3,74% sobre junho. Em agosto, houve aumento de 4,03% sobre julho. A expectativa para este mês é de uma expansão de mais 3%.
"O que parece é que o pior já passou. Mas não dá para dizer que essa recuperação vai se sustentar. De janeiro a agosto, vendemos 15% menos do que em igual período de 2002", diz Paulo Sérgio Peres, presidente da Associação Brasileira do Papelão Ondulado .
Empresários e economistas sentiram o gosto da recuperação em julho, quando alguns setores registraram alta de até 10% nas vendas em relação ao mês anterior. "Mas depois fomos verificar que isso aconteceu por causa de promoções para desova de estoques. A produção não subiu, por enquanto", diz Clarice Messer, diretora da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo).
Na sua análise, é precipitado e irresponsável "ler nos dados o que eles não dizem". A Fiesp, que há dois meses previa para este ano uma queda de 1% na produção da indústria paulista, estima agora uma queda de 1,5%.
"De fato não há nenhum sinal de recuperação da economia, mas isso não significa que não virá", afirma Júlio Sérgio Gomes de Almeida, diretor-executivo do Iedi (Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial).
O aumento das importações nas primeiras três semanas de setembro foi mais um indicador positivo para a economia. A média diária, de US$ 214 milhões, foi 25% maior do que a de igual período de agosto e 13% maior do que a de igual período do ano passado.
"Esse é um sinal de reação, mas pode ser apenas reflexo do fim da greve dos funcionários da Receita Federal e do início do plantio da safra agrícola", diz José Augusto de Castro, diretor da Associação de Comércio Exterior do Brasil.
O desemprego elevado e a queda na renda ainda assustam. Em agosto, a taxa de desemprego voltou a subir, chegou a 13%, segundo o IBGE. E a renda caiu 13,8% na comparação com igual mês do ano passado. Por essa razão, na análise de alguns economistas, as medidas do governo para estimular a produção podem resultar apenas numa bolha de consumo.
"Para que a retomada seja firme, o aumento no consumo tem de ser seguido pelo investimento. Enquanto o governo só priorizar a estabilidade, e não o crescimento, ninguém investe", afirma Fernando Sarti, economista do Núcleo de Economia Industrial e da Tecnologia da Unicamp.
O Iedi confirma o desânimo dos empresários. Os grupos reunidos no instituto, diz Gomes de Almeida, entendem que parou de evoluir a recessão, mas que ainda não há sinais de recuperação. Antes de deslanchar os investimentos os empresários querem ver a diminuição da ociosidade das fábricas -ao redor de 20%, em média.

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