São Paulo, quarta-feira, 29 de setembro de 2004

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TRABALHO

Em agosto, mais da metade dos trabalhadores do setor estendeu a jornada; desemprego em SP é o menor do governo Lula

Indústria eleva hora extra e gera pouca vaga

MAELI PRADO
DA REPORTAGEM LOCAL

Em agosto, 50,6% dos trabalhadores assalariados na indústria da região metropolitana de São Paulo fizeram hora extra, ante 40,5% em julho. É o maior percentual desde fevereiro de 2003, mostra a Pesquisa de Emprego e Desemprego, divulgada ontem pela Fundação Seade e pelo Dieese.
No mesmo período, a indústria gerou apenas 4.000 vagas, ou seja, um crescimento de 0,3%. O que, segundo especialistas, sugere que, em vez de contratar, as empresas intensificaram as horas extras (jornada acima de 44 horas por semana) para se ajustar ao aquecimento da economia. Em julho, a indústria não gerou vagas.
"No momento em que não está muito claro se a recuperação vai se manter, você ajusta a princípio a produção com horas extras. As empresas fazem isso sempre que podem", diz Anselmo Luis dos Santos, economista e pesquisador do Cesit (Centro de Estudos Sindicais e de Economia do Trabalho), da Unicamp.
O movimento também ocorreu no comércio, setor que eliminou 22 mil ocupações: o percentual de trabalhadores que fizeram hora extra passou de 55,1% em julho para 60,8% no mês passado. Em serviços, que foi o setor que mais gerou vagas, houve apenas uma variação, de 35,1% para 35,8%.
A taxa de desemprego, segundo a pesquisa Seade/Dieese, recuou de 18,5% para 18,3% no mês passado. É o menor índice de desemprego do governo Lula.
A redução no contingente de desempregados, no entanto, foi de apenas 9.000 pessoas no mês passado: apesar dos 68 mil postos de trabalho gerados em agosto, 59 mil pessoas passaram a procurar emprego, ou seja, entraram na PEA (População Economicamente Ativa), que é a soma de todos os que estão no mercado de trabalho, empregados ou não.
"Existe um certo otimismo que induziu as pessoas a procurar emprego", explica Clemente Ganz Lúcio, diretor técnico do Dieese. "Essa quantidade [9.000 a menos] é interior às registradas em meses anteriores", diz.
O número de ocupados cresceu principalmente em serviços (53 mil vagas geradas) e outros setores (33 mil postos de trabalho), categoria no qual se destacaram os serviços domésticos.
O assalariado com carteira de trabalho teve queda de 0,2% em julho sobre junho, e o sem carteira, de 1,3%. O de autônomos subiu 3,2%. A estimativa é que o total de desempregados na Grande São Paulo seja de 1,845 milhão.
Após dois meses consecutivos de alta, a renda média do trabalhador recuou em julho na comparação com junho: passou de R$ 1.012 para R$ 1.008.
"A baixa qualidade do emprego que está sendo criado pode ter causado essa queda", diz o diretor adjunto de Produção e Análise de Dados da Fundação Seade, Sinésio Pires Ferreira.
Isso pode ser notado, diz ele, porque, apesar de a renda média por trabalhador ter caído, a massa salarial ficou praticamente estável: ou seja, mais pessoas foram contratadas por salários menores. Segundo Ganz, a expectativa é que neste mês aconteça uma redução mais acentuada no desemprego: "Especialmente a partir do quatro trimestre a taxa deve cair".


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