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OPINIÃO ECONÔMICA
Em defesa do livro
PAULO NOGUEIRA BATISTA JR.
Em editorial recente, intitulado "Livros em baixa", a
Folha comentou o declínio das
vendas de livros no Brasil. Em
2004, a quantidade vendida foi
inferior à de 1991. O brasileiro adquire, em média, apenas 2,5 livros
por ano, incluindo os didáticos.
Lamentável. O livro é insubstituível como instrumento de
transmissão de conhecimento e
valores. As formas alternativas
-artigos, palestras, mesmo aulas- não chegam nem perto. Só
com o livro é que se consegue realmente sustentar e desenvolver argumentos, comprovar ou refutar
teses. É ele que permite lançar
mão, com eficácia, de um recurso
fundamental na educação e no
treinamento: a repetição.
O escritor escolhe o seu ritmo e
segue o seu curso, retomando as
mesmas idéias centrais de diferentes maneiras e abordando-as
de ângulos variados. Assim, ele
vai conquistando o leitor, acostumando-o aos poucos ao seu estilo,
às suas preferências e até às suas
idiossincrasias. Numa coluna de
jornal, também é possível fazê-lo,
mas de forma mais imperfeita,
fragmentária e descontínua.
Dei essa volta e fiz todas essas
considerações de ordem geral,
mas (confesso) o que eu queria
mesmo era falar um pouco do
meu próprio livro! Ele se chama:
"O Brasil e a Economia Internacional: Recuperação e Defesa da
Autonomia Nacional". Foi publicado recentemente e se baseia, em
grande medida, em pesquisas desenvolvidas no Instituto de Estudos Avançados da USP.
Não pense, leitor, que escolhi o
tema da coluna de hoje por razões subalternas, de ordem comercial. Publicar livros desse tipo
não dá dinheiro, pelo menos não
no Brasil. O que se recebe em direitos autorais, ao longo de alguns anos, equivale ao que se ganha com duas ou três palestras,
que demandam infinitamente
menos trabalho. Dinheiro mesmo
só se ganha com best-sellers de
auto-ajuda, filosofia barata, sexo
etc. Com poucas exceções, livros
de economia só proporcionam
rendimento apreciável quando
são de tipo didático, podendo ser
adotados em escolas e universidades.
O meu livro não é didático. Mas
também não é hermético. É um
trabalho de polêmica, como quase tudo que escrevo. De polêmica
contra aqueles que têm outra visão do nosso país, contra os que
aceitam mantê-lo em situação
periférica e dependente e não
compreendem que o Brasil não
cabe no quintal de ninguém. É
uma tentativa de mostrar que
existem maneiras alternativas de
pensar e conduzir a economia do
país e suas relações com o resto do
mundo.
O livro está circulando há alguns meses. Porém só agora farei
o lançamento. Será na segunda-feira que vem, na Livraria Cultura do Conjunto Nacional, na av.
Paulista, a partir das 18h30.
Por que a demora do lançamento? Aconteceu o seguinte: o livro nasceu em meio à crise política. Confesso que fiquei constrangido de ter publicado um livro cuja apresentação, escrita em fevereiro e março, tem como título: "O
Brasil Levanta a Cabeça"...
Mas, depois, o tempo passou e
eu pensei: "O que é isso? O Brasil
vai tirar essa crise de letra". E resolvi fazer a noite de autógrafos.
Faço questão de convidar todos
os leitores desta coluna.
O leitor nem sempre compreende a frustração do escritor. Diferentemente do ator de teatro ou
do músico, o autor de textos não
vê, não ouve, não sente a sua platéia, não capta imediatamente as
suas reações e vibrações e nunca
sabe direito como recebem (se é
que recebem) aquilo que escreve.
É só nas noites de autógrafo que
ele tem a oportunidade, rara, de
um contato direto e imediato com
os seus leitores. Venham, portanto!
Um último comentário: se a remuneração é em geral tão baixa,
por que escrever livros? A razão
fundamental é o desejo de deixar
uma marca. De sobreviver. Não é
por acaso que publicar livros é
freqüentemente comparado a ter
filhos. Todo escritor, mesmo os
mais modestos como eu, pode ter
como insígnia aquele verso quixotesco do grande Ariano Suassuna:
"(...) não vou nunca envelhecer:
com meu Cantar, supero o Desespero
sou contra a Morte e nunca hei
de morrer".
Paulo Nogueira Batista Jr., 50, economista e professor da FGV-EAESP, escreve
às quintas-feiras nesta coluna. É autor
do livro "O Brasil e a Economia Internacional: Recuperação e Defesa da Autonomia Nacional" (Campus/Elsevier, 2005).
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