São Paulo, quinta-feira, 29 de setembro de 2005

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OPINIÃO ECONÔMICA

Em defesa do livro

PAULO NOGUEIRA BATISTA JR.

Em editorial recente, intitulado "Livros em baixa", a Folha comentou o declínio das vendas de livros no Brasil. Em 2004, a quantidade vendida foi inferior à de 1991. O brasileiro adquire, em média, apenas 2,5 livros por ano, incluindo os didáticos.
Lamentável. O livro é insubstituível como instrumento de transmissão de conhecimento e valores. As formas alternativas -artigos, palestras, mesmo aulas- não chegam nem perto. Só com o livro é que se consegue realmente sustentar e desenvolver argumentos, comprovar ou refutar teses. É ele que permite lançar mão, com eficácia, de um recurso fundamental na educação e no treinamento: a repetição.
O escritor escolhe o seu ritmo e segue o seu curso, retomando as mesmas idéias centrais de diferentes maneiras e abordando-as de ângulos variados. Assim, ele vai conquistando o leitor, acostumando-o aos poucos ao seu estilo, às suas preferências e até às suas idiossincrasias. Numa coluna de jornal, também é possível fazê-lo, mas de forma mais imperfeita, fragmentária e descontínua.
Dei essa volta e fiz todas essas considerações de ordem geral, mas (confesso) o que eu queria mesmo era falar um pouco do meu próprio livro! Ele se chama: "O Brasil e a Economia Internacional: Recuperação e Defesa da Autonomia Nacional". Foi publicado recentemente e se baseia, em grande medida, em pesquisas desenvolvidas no Instituto de Estudos Avançados da USP.
Não pense, leitor, que escolhi o tema da coluna de hoje por razões subalternas, de ordem comercial. Publicar livros desse tipo não dá dinheiro, pelo menos não no Brasil. O que se recebe em direitos autorais, ao longo de alguns anos, equivale ao que se ganha com duas ou três palestras, que demandam infinitamente menos trabalho. Dinheiro mesmo só se ganha com best-sellers de auto-ajuda, filosofia barata, sexo etc. Com poucas exceções, livros de economia só proporcionam rendimento apreciável quando são de tipo didático, podendo ser adotados em escolas e universidades.
O meu livro não é didático. Mas também não é hermético. É um trabalho de polêmica, como quase tudo que escrevo. De polêmica contra aqueles que têm outra visão do nosso país, contra os que aceitam mantê-lo em situação periférica e dependente e não compreendem que o Brasil não cabe no quintal de ninguém. É uma tentativa de mostrar que existem maneiras alternativas de pensar e conduzir a economia do país e suas relações com o resto do mundo.
O livro está circulando há alguns meses. Porém só agora farei o lançamento. Será na segunda-feira que vem, na Livraria Cultura do Conjunto Nacional, na av. Paulista, a partir das 18h30.
Por que a demora do lançamento? Aconteceu o seguinte: o livro nasceu em meio à crise política. Confesso que fiquei constrangido de ter publicado um livro cuja apresentação, escrita em fevereiro e março, tem como título: "O Brasil Levanta a Cabeça"...
Mas, depois, o tempo passou e eu pensei: "O que é isso? O Brasil vai tirar essa crise de letra". E resolvi fazer a noite de autógrafos. Faço questão de convidar todos os leitores desta coluna.
O leitor nem sempre compreende a frustração do escritor. Diferentemente do ator de teatro ou do músico, o autor de textos não vê, não ouve, não sente a sua platéia, não capta imediatamente as suas reações e vibrações e nunca sabe direito como recebem (se é que recebem) aquilo que escreve. É só nas noites de autógrafo que ele tem a oportunidade, rara, de um contato direto e imediato com os seus leitores. Venham, portanto!
Um último comentário: se a remuneração é em geral tão baixa, por que escrever livros? A razão fundamental é o desejo de deixar uma marca. De sobreviver. Não é por acaso que publicar livros é freqüentemente comparado a ter filhos. Todo escritor, mesmo os mais modestos como eu, pode ter como insígnia aquele verso quixotesco do grande Ariano Suassuna:
"(...) não vou nunca envelhecer:
com meu Cantar, supero o Desespero
sou contra a Morte e nunca hei de morrer".


Paulo Nogueira Batista Jr., 50, economista e professor da FGV-EAESP, escreve às quintas-feiras nesta coluna. É autor do livro "O Brasil e a Economia Internacional: Recuperação e Defesa da Autonomia Nacional" (Campus/Elsevier, 2005).
E-mail - pnbjr@attglobal.net


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