São Paulo, sexta-feira, 29 de setembro de 2006

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BC reduz previsão de PIB de 4% para 3,5%

Estimativa diverge da Fazenda e do Planejamento, que vêem expansão de 4%, e do mercado financeiro, que espera 3%

Diretor do BC diz que diferenças "são fatos da vida'; desempenho fraco da agricultura e da indústria seguram a economia


NEY HAYASHI DA CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O Banco Central reduziu de 4% para 3,5% sua estimativa para o crescimento esperado para a economia brasileira neste ano. De acordo com o BC, a expansão do segundo trimestre ficou abaixo do esperado e, por isso, foi preciso revisar as contas para todo o ano de 2006.
O novo número diverge das previsões do mercado financeiro (média de 3,09%) e de outras áreas do governo: Fazenda e Planejamento dizem que esperam alta de 4% do PIB.
Ao anunciar a nova estimativa, porém, o diretor de Política Econômica do BC, Afonso Bevilaqua, minimizou a discrepância com os números do Planejamento, anunciados na segunda-feira. "A interpretação dos indicadores é diferente para cada analista. São fatos da vida essas diferenças", disse.
Segundo o diretor do BC, o ministério apenas reduziu em 0,5 ponto percentual -de 4,5% para 4%- sua estimativa para o crescimento deste ano, do mesmo jeito que o BC fez -de 4% para 3,5%-, devido ao fraco desempenho da economia no segundo trimestre deste ano.
Já o ministro da Fazenda, Guido Mantega, repetiu ontem sua previsão de 4% para o PIB e disse que "é natural que o BC seja mais conservador" (leia texto na pág. B3).
Mantega e o presidente do BC, Henrique Meirelles, travam uma disputa por poder na área econômica e, segundo a Folha apurou, ambos desejam ocupar a Fazenda num eventual segundo mandato de Lula.

Juros
Bevilaqua também negou que o crescimento deste ano vá ser mais fraco do que o esperado devido a uma eventual demora do BC em reduzir os juros. "É maior do que o crescimento médio registrado na última década, mas é menor do que aquele que todos nós nesta sala e fora desta sala gostaríamos que fosse", disse o diretor do BC.
A taxa Selic, hoje em 14,25% ao ano, tem sido reduzida pelo BC desde setembro do ano passado, quando estava em 19,75%. Ainda assim, a queda dos chamados juros reais -descontada a inflação- foi mais moderada. Juros altos inibem o consumo e os investimentos.
Nas contas do BC, os juros reais se encontram, hoje, em cerca de 9,1% -considerando as projeções do mercado financeiro para os juros e para a inflação nos próximos 12 meses. Entre janeiro e setembro deste ano, a taxa real média foi de 10%, enquanto a média entre 2004 e 2005 foi de 11,5%.
De qualquer forma, Bevilaqua diz que o corte nos juros feito até agora ainda não surtiu efeito por completo na economia, o que abriria a possibilidade de um desempenho melhor de agora em diante.
Entre os motivos do crescimento mais fraco do segundo trimestre, o diretor do BC apontou, entre outros, a Copa do Mundo -que fez com que muitas empresas interrompessem suas atividades em dias de jogos do Brasil- e a greve dos fiscais da Receita Federal -que teria atrapalhado o fluxo de comércio exterior no país.
Boa parte da revisão feita pelo BC se deve a uma redução na estimativa de crescimento da indústria, que caiu de 5,4% para 4%. O setor responde por cerca de 35% do PIB do país.
Outro setor que deve segurar o PIB é o do agronegócio. O BC citou o fraco desempenho das produções de leite e de aves como o fator que mais pesou na revisão das projeções. Pelos novos cálculos, o setor deve crescer 3% neste ano, e não 3,6%, como anteriormente previsto.


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