|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
BC reduz previsão de PIB de 4% para 3,5%
Estimativa diverge da Fazenda e do Planejamento, que vêem expansão de 4%, e do mercado financeiro, que espera 3%
Diretor do BC diz que diferenças "são fatos da vida'; desempenho fraco da agricultura e da indústria seguram a economia
NEY HAYASHI DA CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O Banco Central reduziu de
4% para 3,5% sua estimativa
para o crescimento esperado
para a economia brasileira neste ano. De acordo com o BC, a
expansão do segundo trimestre
ficou abaixo do esperado e, por
isso, foi preciso revisar as contas para todo o ano de 2006.
O novo número diverge das
previsões do mercado financeiro (média de 3,09%) e de outras
áreas do governo: Fazenda e
Planejamento dizem que esperam alta de 4% do PIB.
Ao anunciar a nova estimativa, porém, o diretor de Política
Econômica do BC, Afonso Bevilaqua, minimizou a discrepância com os números do Planejamento, anunciados na segunda-feira. "A interpretação
dos indicadores é diferente para cada analista. São fatos da vida essas diferenças", disse.
Segundo o diretor do BC, o
ministério apenas reduziu em
0,5 ponto percentual -de 4,5%
para 4%- sua estimativa para o
crescimento deste ano, do mesmo jeito que o BC fez -de 4%
para 3,5%-, devido ao fraco desempenho da economia no segundo trimestre deste ano.
Já o ministro da Fazenda,
Guido Mantega, repetiu ontem
sua previsão de 4% para o PIB e
disse que "é natural que o BC
seja mais conservador" (leia
texto na pág. B3).
Mantega e o presidente do
BC, Henrique Meirelles, travam uma disputa por poder na
área econômica e, segundo a
Folha apurou, ambos desejam
ocupar a Fazenda num eventual segundo mandato de Lula.
Juros
Bevilaqua também negou
que o crescimento deste ano vá
ser mais fraco do que o esperado devido a uma eventual demora do BC em reduzir os juros. "É maior do que o crescimento médio registrado na última década, mas é menor do
que aquele que todos nós nesta
sala e fora desta sala gostaríamos que fosse", disse o diretor
do BC.
A taxa Selic, hoje em 14,25%
ao ano, tem sido reduzida pelo
BC desde setembro do ano passado, quando estava em
19,75%. Ainda assim, a queda
dos chamados juros reais
-descontada a inflação- foi
mais moderada. Juros altos inibem o consumo e os investimentos.
Nas contas do BC, os juros
reais se encontram, hoje, em
cerca de 9,1% -considerando
as projeções do mercado financeiro para os juros e para a inflação nos próximos 12 meses.
Entre janeiro e setembro deste
ano, a taxa real média foi de
10%, enquanto a média entre
2004 e 2005 foi de 11,5%.
De qualquer forma, Bevilaqua diz que o corte nos juros
feito até agora ainda não surtiu
efeito por completo na economia, o que abriria a possibilidade de um desempenho melhor
de agora em diante.
Entre os motivos do crescimento mais fraco do segundo
trimestre, o diretor do BC
apontou, entre outros, a Copa
do Mundo -que fez com que
muitas empresas interrompessem suas atividades em dias de
jogos do Brasil- e a greve dos
fiscais da Receita Federal -que
teria atrapalhado o fluxo de comércio exterior no país.
Boa parte da revisão feita pelo BC se deve a uma redução na
estimativa de crescimento da
indústria, que caiu de 5,4% para 4%. O setor responde por
cerca de 35% do PIB do país.
Outro setor que deve segurar
o PIB é o do agronegócio. O BC
citou o fraco desempenho das
produções de leite e de aves como o fator que mais pesou na
revisão das projeções. Pelos novos cálculos, o setor deve crescer 3% neste ano, e não 3,6%,
como anteriormente previsto.
Texto Anterior: Mercado Aberto Próximo Texto: Mantega diz que não foi "avisado" da previsão do BC Índice
|