Diferença é constatada em lojas próximas umas das outras; negociação com fornecedor e concorrência explicam variação, diz consultor

Levantamento, feito pela Folha nesta semana em dois bairros de SP, teve análise da Associação Brasileira de Defesa do Consumidor

FÁTIMA FERNANDES
CLAUDIA ROLLI
DA REPORTAGEM LOCAL

Levantamento feito pela reportagem da Folha com assessoria e análise da Pro Teste (Associação Brasileira de Defesa do Consumidor) mostra que o preço de um produto pode variar até 97% em supermercados e hipermercados localizados em um mesmo bairro.
Essa diferença foi constatada após pesquisa de preços de 16 itens -boa parte deles compõe a cesta básica- em lojas na região de Perdizes (zona oeste de SP) e em lojas localizadas no Jardim Sapopemba (zona leste). Os produtos e as marcas foram sugeridos pela Pro Teste.
Na última segunda, a diferença de preço dos sucrilhos Kellogg's de 300 g (original) em seis lojas visitadas na região de Perdizes era de R$ 2,34. O maior preço -de R$ 6,82- foi verificado no Pastorinho na esquina da ruas Dr. Franco da Rocha e João Ramalho.
O menor preço, de R$ 4,48, foi constatado em dois locais, empatados: no CompreBem, que fica a poucos quarteirões de distância, na rua Turiaçu, e no Wal-Mart, localizado na esquina das avenidas Pacaembu e Marquês de São Vicente. A diferença entre o maior e o menor preço foi de 52%.
No Jardim Sapopemba, a maior diferença de preço, de R$ 0,93, foi registrada no preço do papel higiênico Neve (pacote com quatro rolos de 30 metros). No supermercado Dia (da rede Carrefour) da av. Sapopemba, esse produto custava R$ 2,65 na tarde da última terça. No Wal-Mart/Todo Dia (rua Benedito Jacinto Mendes), R$ 3,58. A diferença de preço chegou a 35%.
Por que os preços de um mesmo produto podem variar tanto de uma loja próxima a outra? Negociação com os fornecedores, custo de operação, políticas de preços e promoções, concorrência e renda do consumidor definem, principalmente, o valor dos produtos nos supermercados e nos hipermercados, segundo Nelson Barrizzelli, consultor de varejo.
"A diferença de preço de um produto mesmo em loja bem próxima uma da outra vai sempre existir. Se uma loja coloca o preço de um sabonete bem baixo ou a preço de custo, provavelmente compensa essa perda no preço de outro sabonete. Se o consumidor quiser comprar todos os produtos da sua lista com o menor preço, certamente vai ter de gastar tempo para ir a vários supermercados no mesmo dia", afirma Barrizzelli.
O item que apresentou maior diferença de preço -de 97%- na lista de produtos sugerida pela Pro Teste foi o sabonete Lux Suave (90 gramas).
No Pão de Açúcar (rua Cardoso de Almeida), esse produto custava R$ 0,75 na última segunda. No Sonda (av. Francisco Matarazzo), R$ 0,65. No Carrefour (marginal Tietê), R$ 0,58. No Pastorinho, R$ 0,57. No CompreBem (rua Turiaçu), R$ 0,55. E, no Wal-Mart (av. Pacaembu), R$ 0,38.
A diferença de preço de um mesmo produto constatada no levantamento é grande o suficiente para levar o consumidor a pesquisar antes de fazer a compra do mês, diz Cristiane Souza, coordenadora de estudos de mercado da Pro Teste.
Se adquirisse 8 produtos da lista de 16 itens considerada pela Folha, o consumidor pagaria, na última segunda, R$ 12,46 no CompreBem e R$ 14,75 no Pastorinho, por exemplo. Foram considerados oito itens porque estavam à venda nos seis supermercados da região de Perdizes.
"A diferença é de R$ 2,29 numa compra de oito itens. Só que uma compra para o mês tem mais ou menos cem itens. Se pesquisar, o consumidor pode economizar perto de R$ 30 no mês. Isso fazendo uma conta bem simples. Por isso, o consumidor precisa ter amor pelas moedinhas, como o Tio Patinhas, principalmente agora, com a alta mais acentuada de preços de alguns alimentos."
A coordenadora de estudos de mercado da Pro Teste diz que a diferença de preço de um mesmo produto em regiões mais ricas é geralmente maior do que em regiões mais pobres, como constata a pesquisa.


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