São Paulo, sábado, 29 de setembro de 2007

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Petrobras terá de elevar preço do gás, afirmam especialistas

Nova diretora precisa desestimular consumo e gerar folga para atender termelétricas

Maria das Graças Foster tem a vantagem de ser mais alinhada ao governo do que seu antecessor, Ildo Sauer, afirmam analistas

PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO

A engenheira química Maria das Graças Foster assumiu nesta semana a diretoria de Gás e Energia da Petrobras com dois nós a serem desatados: o preço do gás e o suprimento do insumo para geração de energia elétrica. A seu favor, dizem especialistas, pesa um maior alinhamento com o governo do que o seu antecessor, Ildo Sauer.
Não quer dizer, porém, que a tarefa seja fácil, avaliam. De cara, ela terá de elevar o preço do gás com o objetivo de desestimular seu consumo veicular e industrial, especialmente para gerar uma "folga" a fim de atender às termelétricas.
Terá ainda de assegurar o fornecimento de gás a todas as térmicas que hoje estão sem contrato de compra do produto. As usinas são indispensáveis para evitar um novo apagão até 2010, quando os projetos de novas hidrelétricas começarão a deslanchar.
Para Edmar Almeida, do Grupo de Economia da Energia da UFRJ, em todo o governo Luiz Inácio Lula da Silva a política de preços no gás foi "errática". Inicialmente, houve uma "promoção" do gás a fim de expandir o consumo e viabilizar o preenchimento da capacidade ociosa do gasoduto Bolívia-Brasil. É que a estatal, trazendo ou não o gás, pagava do mesmo modo pelo "duto cheio".
"Os preços caíram, e a sinalização era para consumir mais gás", diz Almeida. Isso ocorreu em 2003 e nos anos seguintes, quando os reajustes do produto ficaram congelados.
Na época da definição do novo modelo para o setor elétrico, diz, a previsão é que as hidrelétricas dariam conta do abastecimento e não seria necessária uma grande complementação com termelétricas.
A estratégia, porém, deu errado, e a Petrobras teve de mudar de atitude, subir o preço do gás e desestimular o consumo. Ainda assim, o ex-diretor Sauer sempre se mostrou contrário a assegurar o suprimento de 100% das térmicas, como defendem a Aneel e setores do governo -em especial a ministra Dilma Rousseff (Casa Civil), desafeto do ex-diretor.
Agora, Almeida afirma que é preciso definir uma nova fórmula de preço e criar regras claras, que assegurem "o mínimo de previsibilidade". A definição, de acordo com ele, deve ser feita em conjunto entre o governo e a Petrobras.
Segundo Marco Tavares, sócio da consultoria Gás Energy, a escassez no suprimento de gás se agravou com a crise da Bolívia -a estatal previa aumentar as importações de 30 milhões para 45 milhões de metros cúbicos/dia, idéia abandonada após a nacionalização.

Gás liqüefeito
Tavares também compartilha da opinião de que o preço do gás subirá inevitavelmente. Até porque o GNL (Gás Natural Liqüefeito), a ser importado a partir do próximo ano, tem um custo muito maior, especialmente quando comprado no mercado spot e destinado às térmicas -ou seja, unidades com consumo flexível, já que elas só geraram energia quando a produção das hidrelétricas não era suficiente.
Pelas contas de Tavares, a Petrobras só tem contrato de 12 milhões de metros cúbicos de gás com as usinas, o que corresponde a 2.000 MW. Deve chegar a 2012 com um volume de 20 milhões -3.500 MW. As cifras são inferiores à demanda das termelétricas -de 6.000 MW atualmente e de 8.000 MW em 2010.
Para Adriano Pires, do CBIE, o ex-diretor Sauer privilegiou corretamente a venda do produto para as indústrias e acertou ao discordar do governo na garantia de suprimento às térmicas. Na sua visão, ele tentou assegurar a rentabilidade da companhia e evitou perdas com o deslocamento do gás para termelétricas.


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