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Petrobras terá de elevar preço do gás, afirmam especialistas
Nova diretora precisa desestimular consumo e gerar folga para atender termelétricas
Maria das Graças Foster tem a vantagem de ser
mais alinhada ao governo do que seu antecessor,
Ildo Sauer, afirmam analistas
PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO
A engenheira química Maria
das Graças Foster assumiu nesta semana a diretoria de Gás e
Energia da Petrobras com dois
nós a serem desatados: o preço
do gás e o suprimento do insumo para geração de energia elétrica. A seu favor, dizem especialistas, pesa um maior alinhamento com o governo do que o
seu antecessor, Ildo Sauer.
Não quer dizer, porém, que a
tarefa seja fácil, avaliam. De cara, ela terá de elevar o preço do
gás com o objetivo de desestimular seu consumo veicular e
industrial, especialmente para
gerar uma "folga" a fim de atender às termelétricas.
Terá ainda de assegurar o
fornecimento de gás a todas as
térmicas que hoje estão sem
contrato de compra do produto. As usinas são indispensáveis
para evitar um novo apagão até
2010, quando os projetos de
novas hidrelétricas começarão
a deslanchar.
Para Edmar Almeida, do
Grupo de Economia da Energia
da UFRJ, em todo o governo
Luiz Inácio Lula da Silva a política de preços no gás foi "errática". Inicialmente, houve uma
"promoção" do gás a fim de expandir o consumo e viabilizar o
preenchimento da capacidade
ociosa do gasoduto Bolívia-Brasil. É que a estatal, trazendo
ou não o gás, pagava do mesmo
modo pelo "duto cheio".
"Os preços caíram, e a sinalização era para consumir mais
gás", diz Almeida. Isso ocorreu
em 2003 e nos anos seguintes,
quando os reajustes do produto
ficaram congelados.
Na época da definição do novo modelo para o setor elétrico,
diz, a previsão é que as hidrelétricas dariam conta do abastecimento e não seria necessária
uma grande complementação
com termelétricas.
A estratégia, porém, deu errado, e a Petrobras teve de mudar de atitude, subir o preço do
gás e desestimular o consumo.
Ainda assim, o ex-diretor Sauer
sempre se mostrou contrário a
assegurar o suprimento de
100% das térmicas, como defendem a Aneel e setores do governo -em especial a ministra
Dilma Rousseff (Casa Civil),
desafeto do ex-diretor.
Agora, Almeida afirma que é
preciso definir uma nova fórmula de preço e criar regras claras, que assegurem "o mínimo
de previsibilidade". A definição, de acordo com ele, deve ser
feita em conjunto entre o governo e a Petrobras.
Segundo Marco Tavares, sócio da consultoria Gás Energy,
a escassez no suprimento de
gás se agravou com a crise da
Bolívia -a estatal previa aumentar as importações de 30
milhões para 45 milhões de
metros cúbicos/dia, idéia abandonada após a nacionalização.
Gás liqüefeito
Tavares também compartilha da opinião de que o preço do
gás subirá inevitavelmente. Até
porque o GNL (Gás Natural Liqüefeito), a ser importado a
partir do próximo ano, tem um
custo muito maior, especialmente quando comprado no
mercado spot e destinado às
térmicas -ou seja, unidades
com consumo flexível, já que
elas só geraram energia quando
a produção das hidrelétricas
não era suficiente.
Pelas contas de Tavares, a Petrobras só tem contrato de 12
milhões de metros cúbicos de
gás com as usinas, o que corresponde a 2.000 MW. Deve chegar a 2012 com um volume de
20 milhões -3.500 MW. As cifras são inferiores à demanda
das termelétricas -de 6.000
MW atualmente e de 8.000
MW em 2010.
Para Adriano Pires, do CBIE,
o ex-diretor Sauer privilegiou
corretamente a venda do produto para as indústrias e acertou ao discordar do governo na
garantia de suprimento às térmicas. Na sua visão, ele tentou
assegurar a rentabilidade da
companhia e evitou perdas
com o deslocamento do gás para termelétricas.
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