São Paulo, terça-feira, 29 de setembro de 2009

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Banco nos EUA lucra com operação de risco

Ganho do 2º trimestre é o 6º maior desde ao menos 1996 com operação, que é considerada uma das principais culpadas pela crise

Mercado de derivativos é altamente concentrado, com 97% das operações nas mãos de cinco grandes bancos norte-americanos

JANAINA LAGE
DE NOVA YORK

Os bancos comerciais americanos divulgaram ganhos de US$ 5,2 bilhões no segundo trimestre em operações com derivativos, aplicações especulativas que resultaram em prejuízo para essas instituições na crise financeira que se agravou a partir de setembro do ano passado.
Os derivativos foram apontados como um dos fatores responsáveis pela crise. Na época, grandes empresas brasileiras apresentaram perdas gigantescas em operações com esses instrumentos financeiros, e a conclusão de analistas era que não havia informação suficiente para os acionistas identificarem os riscos embutidos nas operações.
Os contratos usam como referência outros ativos, como a cotação de moedas, o preço do petróleo no mercado futuro ou taxas de juros. O objetivo desse tipo de operação é muitas vezes se proteger contra uma eventual perda motivada pela variação do ativo. Companhias aéreas, por exemplo, costumam fazer operações para se protegerem da eventual variação do preço do petróleo, já que o combustível chega a representar um terço de seus custos.
Nos EUA, o número de bancos comerciais que relataram operações com derivativos chegou a 1.110 no segundo trimestre. Na comparação com o período anterior, mais 47 bancos passaram a operar com esses instrumentos.
Na prática, no entanto, trata-se de um mercado altamente concentrado. Cinco instituições financeiras de grande porte representam 97% do volume de derivativos: JPMorgan Chase, Goldman Sachs, Bank of America, Citigroup e Wells Fargo. A lista reúne alguns dos bancos que mais receberam ajuda do governo americano durante a crise.
Apesar da concentração acentuada, a agência do governo afirma que, por se tratar de um mercado de operações complexas, requer experiência e ferramentas que poucas instituições têm.
No primeiro trimestre, os ganhos com este tipo de operação chegaram a US$ 9,8 bilhões, mas tratava-se de um resultado recorde e a expectativa era de ganhos mais moderados para o período de abril a junho. Na prática, houve queda de 47% no segundo trimestre.
"Depois de um primeiro trimestre tão forte, esperávamos um declínio sazonal nos ganhos, e isso ocorreu", afirma Kathryn Dick, representante da Controladoria para Crédito e Risco de Mercado da agência do Tesouro. Ainda assim, o resultado do segundo trimestre foi o sexto maior já verificado desde que a agência começou a coleta de dados, em 1996.
De abril a junho, a exposição ao risco nessas operações caiu 20%, e hoje soma US$ 555 bilhões. "Temos visto redução da exposição ao risco nos dois últimos trimestres, apesar disso, sob qualquer padrão, os níveis de exposição seguem elevados", disse Kathryn Dick.
O relatório da agência mostra que o volume de derivativos garantidos por bancos comerciais americanos aumentou 1%, o equivalente a US$ 1,5 trilhão no segundo trimestre, e chegou a US$ 203,5 trilhões.


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