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Contrato da Embraer com a Argentina é alvo de suspeita
Reportagem do "La Nación" aponta superfaturamento na venda de 20 aviões
Cada aeronave custou à Aerolíneas Argentinas ao menos US$ 5 mi a mais do que preço de mercado, diz jornal; empresas negam
DE BUENOS AIRES
DA SUCURSAL DO RIO
Há suspeita de superfaturamento na venda de 20 aviões E-190 da Embraer para a Aerolíneas Argentinas por US$ 700
milhões (R$ 1,2 bilhão), dos
quais 85% serão financiados
pelo BNDES, segundo acordo
fechado em maio passado.
A suspeita foi revelada ontem
pelo diário argentino "La Nación". O valor máximo usual de
uma aeronave desse modelo,
que possui 96 lugares, seria de
US$ 30 milhões -US$ 5 milhões a menos do que o estabelecido no contrato entre as
duas empresas.
O sobrepreço teria sido
apontado por Julio Alak, diretor-geral da Aerolíneas durante
as negociações, diz o "La Nación". A advertência de Alak, no
entanto, teria sido ignorada pelo ministro do Planejamento
argentino, Julio de Vido, que
autorizou o contrato, dispensando licitação.
Alak, que deixou a Aerolíneas
e hoje é ministro da Justiça do
governo Cristina Kirchner, defendeu ontem o acerto entre
Embraer e Aerolíneas em declarações para a agência oficial
de notícias Télam.
A Folha tentou ouvir Alak e
De Vido, que não se manifestaram. A Aerolíneas Argentinas
divulgou nota, em que nega irregularidades e classifica de
"estranha" a publicação da reportagem pelo "La Nación" e
sua coincidência com outra, do
diário "Clarín" de ontem, sobre
uma promoção da companhia
aérea para hóspedes do hotel
de luxo Los Sauces, que pertence ao casal Kirchner.
A Aerolíneas Argentinas e
sua subsidiária Austral foram
estatizadas em 2008 por Cristina, que mantém conflituosa relação com a imprensa. Na semana passada, a Aerolíneas
suspendeu a distribuição em
seus voos de jornais do grupo
Clarín, dizendo ser uma medida de "contenção de despesas".
Sobre o contrato com a Embraer, diz a nota da companhia:
"O valor de compra unitário é
de US$ 30,5 milhões. A esse valor somam-se US$ 4,4 milhões
referentes a [itens] opcionais,
que incluem kit de reposição,
configuração do equipamento,
instrução, entretenimento a
bordo (incluindo telas individuais de última geração em todos os assentos), equipamento
externo de partida."
Alak, por sua vez, disse à Télam que "as negociações para a
aquisição dos aviões [da Embraer] foram produto do trabalho em conjunto das equipes de
ambas as companhias, em que
a Aerolíneas logrou importantes descontos em relação ao
preço inicial e uma forma de
pagamento conveniente".
A Embraer, procurada pela
Folha, preferiu manifestar-se
apenas em nota, por meio de
sua assessoria.
"A Embraer não comenta
preços e condições comerciais
constantes em seus contratos,
que estão protegidos por cláusulas de confidencialidade. A
Embraer repudia veementemente especulações sobre a
ocorrência de superfaturamento na condução de seus negócios", afirma o texto.
O BNDES, que detém 5,05%
de participação no capital da
Embraer, informou que o contrato de financiamento de
aviões à Argentina não foi fechado e, portanto, não há como
falar dele em termos de valores,
prazos e taxas. Segundo o banco, se fechado, o contrato "será
em condições de mercado".
A nota da Aerolíneas cita outros casos de compras da Embraer, de "aeronaves similares", por outras companhias.
Os exemplos são: US$ 35 milhões (AeroRepública, Colômbia, abril/2009); US$ 37,5 milhões (AeroMéxico, julho/
2008); US$ 37,4 milhões (Kung
Peng Airlines, China, julho/
2008); US$ 37,5 milhões (Saudi
Arabia's National Air Service,
novembro/2007). A Embraer
não confirmou esses contratos.
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