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RETOMADA?
Ritmo de expansão é o maior desde outubro de 2002, mas número de pessoas ocupadas cai 0,2%, afirma Fiesp
Indústria paulista cresce 6% em setembro
JOSÉ ALAN DIAS
DA REPORTAGEM LOCAL
A indústria do Estado de São
Paulo encerrou o mês de setembro com o maior ritmo de atividade em um ano. Em contrapartida,
o número de pessoas empregadas
manteve-se praticamente estável.
A melhora da produção só foi assegurada porque as empresas recorreram a um expediente habitual em uma economia em compasso de espera: aumentaram o
número de horas trabalhadas.
Em síntese: pelo menos em setembro, a maior produção não
ajudou a derrubar o desemprego
na indústria paulista.
A produção industrial no Estado cresceu 6% no mês passado,
comparada à de agosto. O resultado é o melhor desde os 6,7% registrados em outubro de 2002. E
também o melhor desempenho
para um mês de setembro desde a
implantação do Real, em 1994. Na
outra margem, o total de pessoal
ocupado teve variação negativa
de 0,2% -o que, estatisticamente, é considerado estabilidade.
Os dados de setembro levaram a
Fiesp (Federação das Indústrias
do Estado de São Paulo), responsável pela apuração do indicador,
a revisar as estimativas de desempenho da indústria no ano. Em
vez de uma queda de 1% a até
1,5% -com base nos números
colhidos até agosto-, a entidade
agora admite que o setor pode encerrar 2003 ""estável" ou, no máximo, com uma redução de 1%" sobre 2002. No acumulado de janeiro a setembro, o INA (Indicador
do Nível de Atividade) está estável
-até agosto, a queda era de 0,8%.
As vendas reais (descontada a
inflação) cresceram 5,7% em
comparação com as de agosto -e
4,4% com as de setembro de 2002.
O aumento da atividade, pelo
terceiro mês seguido, sustentou-se em três fatores: as exportações
(via setor de alimentos), a produção de bens duráveis para o mercado doméstico (leia-se a indústria automobilística) e o deslocamento da produção para atender
a demanda de final de ano. ""As
empresas deslocaram a produção
para diminuir o risco de ter encalhe", diz Clarice Messer, diretora
da Fiesp. ""Normalmente, existe
um limite máximo para que se
atrase a produção [de final de
ano], e esse limite se encerrou em
setembro. Significa que a indústria se prepara para oferecer produtos, mas não que haverá garantia de demanda."
Dos 11 setores considerados pela Fiesp na pesquisa nenhum
apresentou variação negativa na
atividade em setembro em relação a agosto. Destaque para o de
metalurgia, cuja atividade cresceu
3,4% entre agosto e setembro, impulsionado pela indústria automobilística. Favorecida pela redução do IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados), a indústria
automotiva registrou expansão
de 27% nas vendas internas em
setembro, acompanhada por alta
de 22% na produção.
A indústria de material plástico
teve acréscimo de 2,4% (de setembro para agosto), mas, na
comparação com setembro de
2002, o resultado foi pior, em
4,2%. ""Essa indústria se beneficiou da melhora no setor automotivo porque fornece componentes
para montadoras e fábricas de autopeças", diz Clarice.
No setor de alimentos, a produção aumentou 5,6% de agosto para setembro -e 5,5% se comparado setembro deste ano com setembro do ano passado. ""Não por
aumento da demanda interna, e
sim amparada nas exportações",
diz a diretora da Fiesp, em alusão
à alta de 18% nas exportações gerais brasileiras no acumulado até
setembro.
Mais horas trabalhadas
Segundo a Fiesp, o total de horas
trabalhadas no setor industrial
aumentou 4,2% em setembro,
sempre em comparação com
agosto. Ante setembro do ano
passado, o aumento foi de 3,7%.
No último dia 15, outro levantamento divulgado pela Fiesp apontava que entre agosto e setembro
tinham sido criados 4.383 postos
de trabalho na indústria paulista,
o que significava uma expansão
de 0,29% no número de vagas. Os
dados não são conflitantes com a
variação negativa de 0,2% no total
de pessoal ocupado.
Explica-se: o primeiro indicador não considera os efeitos sazonais (elementos característicos de
cada época do ano). No segundo,
esse ajuste está feito: ou seja, o número de pessoas contratadas em
setembro deste ano acabou sendo
menor do que o histórico para esse mês nos anos anteriores.
Em períodos como o que atravessa a economia brasileira -de
uma expectativa, ainda não confirmada, de retomada de consumo- as empresas seguem a seguinte lógica: primeiro aumentam o número de horas trabalhadas (ou deixam de demitir). Em
um segundo estágio, contratam
temporários. E apenas em uma
etapa seguinte, confirmada a retomada, passam ao emprego com
carteira registrada. ""A criação de
empregos no final do ano será ligada a contratações temporárias", comentou Clarice.
A agravante é que, segundo a diretora da Fiesp, a expansão da atividade industrial (e consequentemente no nível de emprego) nos
próximos meses dependerá de
dois fatores: aumento de renda e
melhoria das condições de crédito. ""Há uma melhora no crédito,
inegável, ainda que localizada no
setor de bens duráveis", comenta,
em alusão aos programas de financiamento do governo.
Clarice mostrou-se cética sobre
o aumento de renda como instrumento para fomentar o consumo:
"Temos um constrangimento
muito forte na renda, mesmo
considerando que algumas categorias terão dissídio neste final de
ano e haverá um incremento (de
renda) por conta do 13º salário."
De acordo com a economista, o
desempenho da produção industrial registrado em setembro deve
se repetir em outubro e, ""com
sorte, respingar em novembro".
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