São Paulo, sexta-feira, 29 de outubro de 2004

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ATA DA DISCÓRDIA

Instituições revisam, para cima, expectativa da Selic ao fim do ano

Para analistas, juros vão a 17,25%

FABRICIO VIEIRA
CÍNTIA CARDOSO
DA REPORTAGEM LOCAL

A ata do Copom (Comitê de Política Monetária) veio dura e pessimista. Após ser conhecido o documento, economistas e analistas passaram a prever que a taxa básica de juros subirá, no mínimo, 0,50 ponto percentual na reunião do Banco Central de novembro.
Muitas instituições financeiras reviram ou estão revisando suas projeções para a taxa básica (Selic) no fim de 2004. Um ponto parece ser consenso: os juros encerrarão o ano acima de 17%.
A taxa básica da economia foi elevada de 16,25% para 16,75% na semana passada.
"A ata deixou claro que a elevação de 0,50 ponto percentual na Selic na semana passada não foi exceção, algo pontual. Uma coisa está clara: os juros continuarão subindo e provavelmente num ritmo mais forte do que o mercado esperava havia pouco tempo", afirma Rodrigo Boulos, economista do banco Santos.
O número de contratos DI -que acompanham os juros interbancários- negociados ontem na BM&F (Bolsa de Mercadorias & Futuros) foi 55% que o registrado no dia anterior. As taxas de todos os contratos DI fecharam em alta.
No contrato mais negociado, com prazo de vencimento em abril de 2005, a taxa saltou de 17,61% para 17,72%. O papel que vence na virada do ano fechou com taxa de 17,23%, contra 17,14% do pregão anterior.
Em pesquisa realizada ontem pela agência Reuters com dez economistas, nove previram alta de 0,5 ponto percentual na Selic no próximo mês.
A Bolsa de Valores de São Paulo fechou com perdas de 1,05%. Juros elevados são negativos para o mercado acionário, pois podem estimular a migração dos investidores para os fundos que acompanham a evolução da taxa Selic. O dólar encerrou o dia em alta de 0,17%. A moeda norte-americana fechou vendida a R$ 2,867.
O que o Banco Central deve aguardar agora é que as expectativas de inflação para 2005 recuem no boletim "Focus" que será divulgado na segunda-feira.
Na avaliação de Roger Scher, diretor para América Latina da agência de classificação de risco Fitch, a preocupação do BC com a inflação é justificável. Segundo Scher, a possibilidade de alta da inflação é muito mais "prejudicial para o crescimento" do que um patamar mais elevado de juros.
"É muito melhor para o crescimento e para a credibilidade do país se o Banco Central mantiver a inflação dentro da meta. Às vezes, ao esperar para ver o que acontece, as coisas podem sair do controle. Aí, seria preciso elevar ainda mais as taxas de juros", afirmou o diretor da Fitch.
Uma importante instituição financeira dos EUA também afirmou ontem, diante de investidores, que o Banco Central deve continuar a elevar juros para tentar conter as expectativas de alta da inflação. Para esse banco, o BC não parece disposto a lançar mão de outros instrumentos como o câmbio ou uma política fiscal mais rígida para debelar pressões inflacionárias.


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