São Paulo, sexta-feira, 29 de outubro de 2004

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MEMÓRIA

Casimiro Montenegro Filho, que fundou ITA e CTA, faria cem anos

Aviador pioneiro é homenageado

RICARDO BONALUME NETO
DA REPORTAGEM LOCAL

Um importante mas pouco conhecido pioneiro da aviação brasileira, o brigadeiro Casimiro Montenegro Filho (1904-2000), vai ser homenageado hoje em São José dos Campos (97 km a nordeste de São Paulo), no centenário do seu nascimento.
Entre os pioneiros brasileiros, Alberto Santos-Dumont (1873-1932) dispensa apresentações; mesmo o "padre voador" Bartolomeu de Gusmão (1685-1724) passou a ser mais conhecido depois que foi retratado pelo Prêmio Nobel de Literatura português José Saramago no livro "Memorial do Convento".
Já o brigadeiro Montenegro costuma ser mais conhecido apenas pelo pessoal ligado diretamente à aviação, apesar de seu papel fundamental para desenvolver as bases da atual indústria aeronáutica no país.
O brigadeiro foi o criador do ITA (Instituto Tecnológico de Aeronáutica) e do CTA (Centro Técnico Aeroespacial), duas instituições fundamentais para o avanço brasileiro na área, hoje refletido no sucesso comercial da Embraer.
No CTA, foi desenvolvido o primeiro avião importante da moderna indústria aeronáutica brasileira, o bimotor Bandeirante, cujo protótipo voou em outubro de 1968. No ano seguinte, foi fundada a Embraer (Empresa Brasileira de Aeronáutica), controlada pela União, que passou a fabricá-lo. A Embraer foi privatizada em 1994.
Às 10h, há uma cerimônia militar na direção do CTA em homenagem ao brigadeiro, que é o patrono da engenharia aeronáutica. Às 14h, haverá sessão solene da congregação do ITA em homenagem ao centenário do nascimento do brigadeiro Montenegro, em que serão feitos depoimentos sobre sua vida.
Está prevista também a inauguração de estátua e monumento ao pioneiro em praça ao lado da entrada do CTA. A estátua foi financiada pelos ex-alunos agregados na Associação dos Engenheiros do ITA, presidida por Ozires Silva, que foi também o primeiro diretor da Embraer.
E, às 20h, o escritor Fernando Morais fala sobre a biografia do brigadeiro que está escrevendo, patrocinado pela Embraer e pela Fundação Casimiro Montenegro Filho.
"O brigadeiro Montenegro, o almirante Álvaro Alberto, são figuras que precisam ser resgatadas", diz o ministro da Ciência e Tecnologia, Eduardo Campos (o almirante foi fundador do CNPq, Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico).
"Eles tiveram que vencer barreiras para alicerçar o sistema de ciência e tecnologia de hoje, sua atuação desafia a nova geração a pensar estrategicamente", afirma o ministro, que foi convidado para a cerimônia, mas cuja presença em São José ainda não está confirmada.
"Ele se confunde com a própria história da aviação brasileira", declara o diretor-geral do CTA, major-brigadeiro-do-ar Adenir Siqueira Viana.
Casimiro Montenegro Filho nasceu em Fortaleza (CE) e entrou na Escola Militar no Rio em 1923. Teve papel decisivo na consolidação do Correio Aéreo Nacional. Fez o primeiro vôo do Rio de Janeiro a São Paulo levando uma carta em 1931.
Formou-se em engenharia na Escola Técnica do Exército (hoje Instituto Militar de Engenharia, IME) em 1938. Depois da criação da FAB (Força Aérea Brasileira) em 1941, durante a Segunda Guerra, começou a se dedicar ao fomento da indústria aeronáutica no Brasil. O primeiro e fundamental passo para que ela germinasse foi a criação de instituição de ensino especializada, que viria a ser o ITA.
Montenegro visitaria os EUA em 1945 para obter subsídios para a criação da escola de engenharia aeronáutica. A escola brasileira surgiu com ajuda do prestigiado MIT, Instituto de Tecnologia de Massachusetts.
"Era uma figura ímpar, com uma visão extraordinária", diz o reitor do ITA, Michal Gartenkraut. Para o reitor, Montenegro foi responsável por um novo modelo educacional, comum hoje, mas revolucionário à época -baseado em cooperação internacional, busca pela excelência, associação entre ensino e pesquisa, regime de tempo integral e dedicação exclusiva.


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