São Paulo, sexta-feira, 29 de outubro de 2004

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MOEDA

Exportadores pedem política de desvalorização do real, mas ministro da Fazenda diz que sistema seguirá inalterado

Pressionado, Palocci nega alterar câmbio

GUILHERME BARROS
EDITOR DO PAINEL S.A.

O ministro da Fazenda, Antonio Palocci, garantiu que o governo não vai fazer populismo cambial com a moeda no Brasil. Ele fez a afirmação durante reunião do CNDI (Conselho Nacional de Desenvolvimento Industrial) realizada na quarta-feira, em Brasília. "Não me peçam para mexer no câmbio", disse Palocci.
Palocci disse que "se for feita uma análise da política cambial do governo Lula, e dos resultados da conta externa, é uma conclusão evidente que o sistema de câmbio flutuante [cotação do real ante o dólar é determinada pelo mercado] tem sido útil para o equilíbrio econômico brasileiro".
Ele deu essa resposta ao ser perguntado pelo empresário Jorge Gerdau Johannpeter, do grupo Gerdau, um dos maiores exportadores do país, se não seria necessária uma mexida no câmbio para melhorar a competitividade dos produtos brasileiros.
Segundo Palocci deixou entender, o governo não iria alterar a política cambial nem para agradar os exportadores e nem para ajudar no controle da inflação.
O CNDI é formado pelos empresários Gerdau, Osmar Zogbi, Luiz Carlos Delben Leite, Armando Monteiro (CNI), Maurício Botelho (Embraer), Eugênio Staub (Gradiente) e pelos ministros Palocci, Alfredo Nascimento (Transportes), Luiz Fernando Furlan (Desenvolvimento).
O problema é que as queixas de empresários e de economistas em relação ao câmbio estão cada vez maior. Em palestra no 28º Encontro Anual da Anpocs (Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Ciências Sociais), realizada em Caxambu (MG),na quarta-feira, o economista Yoshiaki Nakano disse que a economia brasileira ensaiou uma mudança radical, mas que está sendo abortada em razão da valorização do real em relação ao dólar.
De acordo com Nakano, desde 1999, quando ocorreu a desvalorização, o país vem mudando seu modo de inserção na economia mundial, de uma integração quase que exclusivamente financeira para uma estratégia de crescimento de exportações. A valorização do real, a seu ver, diminui a competitividade do país e segura os novos investimentos programados para a indústria.
O economista Antônio Corrêa de Lacerda, da PUC-SP e presidente da Sobeet (Sociedade Brasileira para Estudos de Empresas Transacionais e de Globalização Econômica), diz que bastava o governo não ter promovido os recentes aumentos de juros que o câmbio iria se ajustar naturalmente. Ele considera um risco o dólar, hoje, estar abaixo de R$ 3. Ele acha que, para manter a competitividade dos produtos brasileiros, o câmbio deveria estar na faixa entre R$ 3,10 a R$ 3,20.
Lacerda estranha também o fato de o governo ter parado de recomprar os títulos cambiais. Segundo ele, isso não só ajudaria no processo de ajuste cambial como também colaboraria também para engordar as reservas.
Os industriais também começam a sentir na própria carne. Segundo Carlos Brigagão, presidente da Calçados Sândalo, que exporta desde 1971, não se concebe que que a cotação do real frente ao dólar oscile tanto. Em março de 2002, o dólar estava cotado a R$ 2,33. Em julho de 2002, a R$ 3,10. Em maio de 2003, a R$ 2,98. Em maio de 2004, a R$ 3,10. Hoje, está abaixo de R$ 3,00. "Um dos piores reflexos dessa oscilação diz respeito à composição de custos, que é feita em real com venda em dólar", diz ele.


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