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MOEDA
Exportadores pedem política de desvalorização do real, mas ministro da Fazenda diz que sistema seguirá inalterado
Pressionado, Palocci nega alterar câmbio
GUILHERME BARROS
EDITOR DO PAINEL S.A.
O ministro da Fazenda, Antonio
Palocci, garantiu que o governo
não vai fazer populismo cambial
com a moeda no Brasil. Ele fez a
afirmação durante reunião do
CNDI (Conselho Nacional de Desenvolvimento Industrial) realizada na quarta-feira, em Brasília.
"Não me peçam para mexer no
câmbio", disse Palocci.
Palocci disse que "se for feita
uma análise da política cambial
do governo Lula, e dos resultados
da conta externa, é uma conclusão evidente que o sistema de
câmbio flutuante [cotação do real
ante o dólar é determinada pelo
mercado] tem sido útil para o
equilíbrio econômico brasileiro".
Ele deu essa resposta ao ser perguntado pelo empresário Jorge
Gerdau Johannpeter, do grupo
Gerdau, um dos maiores exportadores do país, se não seria necessária uma mexida no câmbio para
melhorar a competitividade dos
produtos brasileiros.
Segundo Palocci deixou entender, o governo não iria alterar a
política cambial nem para agradar os exportadores e nem para
ajudar no controle da inflação.
O CNDI é formado pelos empresários Gerdau, Osmar Zogbi,
Luiz Carlos Delben Leite, Armando Monteiro (CNI), Maurício Botelho (Embraer), Eugênio Staub
(Gradiente) e pelos ministros Palocci, Alfredo Nascimento
(Transportes), Luiz Fernando
Furlan (Desenvolvimento).
O problema é que as queixas de
empresários e de economistas em
relação ao câmbio estão cada vez
maior. Em palestra no 28º Encontro Anual da Anpocs (Associação
Nacional de Pós-Graduação e
Pesquisa em Ciências Sociais),
realizada em Caxambu (MG),na
quarta-feira, o economista Yoshiaki Nakano disse que a economia brasileira ensaiou uma mudança radical, mas que está sendo
abortada em razão da valorização
do real em relação ao dólar.
De acordo com Nakano, desde
1999, quando ocorreu a desvalorização, o país vem mudando seu
modo de inserção na economia
mundial, de uma integração quase que exclusivamente financeira
para uma estratégia de crescimento de exportações. A valorização do real, a seu ver, diminui a
competitividade do país e segura
os novos investimentos programados para a indústria.
O economista Antônio Corrêa
de Lacerda, da PUC-SP e presidente da Sobeet (Sociedade Brasileira para Estudos de Empresas
Transacionais e de Globalização
Econômica), diz que bastava o governo não ter promovido os recentes aumentos de juros que o
câmbio iria se ajustar naturalmente. Ele considera um risco o
dólar, hoje, estar abaixo de R$ 3.
Ele acha que, para manter a competitividade dos produtos brasileiros, o câmbio deveria estar na
faixa entre R$ 3,10 a R$ 3,20.
Lacerda estranha também o fato
de o governo ter parado de recomprar os títulos cambiais. Segundo ele, isso não só ajudaria no
processo de ajuste cambial como
também colaboraria também para engordar as reservas.
Os industriais também começam a sentir na própria carne. Segundo Carlos Brigagão, presidente da Calçados Sândalo, que exporta desde 1971, não se concebe
que que a cotação do real frente ao
dólar oscile tanto. Em março de
2002, o dólar estava cotado a R$
2,33. Em julho de 2002, a R$ 3,10.
Em maio de 2003, a R$ 2,98. Em
maio de 2004, a R$ 3,10. Hoje, está
abaixo de R$ 3,00. "Um dos piores
reflexos dessa oscilação diz respeito à composição de custos, que
é feita em real com venda em dólar", diz ele.
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