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Erro em tarifa de energia racha governo
Em audiência de CPI, agência e ministério não se entendem sobre quem deverá reparar falha que impôs cobrança maior ao consumidor
Clima foi de constrangimento; para presidente da comissão, se tivesse ocorrido um prejuízo às distribuidoras, "o problema já estaria resolvido"
HUMBERTO MEDINA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O Ministério de Minas e
Energia e a Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica) se
desentenderam, publicamente,
sobre de quem é a responsabilidade por reparar o erro que tem
feito com que o consumidor pague tarifas de energia acima do
necessário. Ambos reconheceram que há prejuízo a ser reparado, mas ninguém quis assumir a correção.
O desentendimento ocorreu
em audiência pública da CPI
das Tarifas, na Câmara, causou
constrangimento e irritou o
presidente da comissão, deputado Eduardo da Fonte (PP-PE). "É lamentável que a corda
arrebente sempre do lado mais
fraco. Se fosse um prejuízo às
distribuidoras, já estaria resolvido", afirmou. Nova reunião
foi marcada para hoje, na sede
do Ministério de Minas e Energia, com o objetivo de tentar resolver o impasse.
Durante a audiência, o diretor-geral da Aneel, Nelson
Hubner, reconheceu que há
perdas, decorrentes do fato de
o ganho das distribuidoras com
o crescimento do mercado (aumento do consumo de energia)
não ter sido dividido com o
consumidor. Mas disse que a
agência não pode fazer nada, a
menos que os ministérios de
Minas e Energia e da Fazenda
mudem uma portaria interministerial que estabelece regras
adotadas no reajuste.
"O que a Aneel não pode fazer é passar por cima de leis e
regulamentos", afirmou o diretor-geral da agência. Ele disse
que a Aneel detectou o problema em 2007, quando informou
o Ministério de Minas e Energia. No fim de 2008, o TCU
(Tribunal de Contas da União),
após analisar o reajuste da Celpe (distribuidora de Pernambuco), avaliou as perdas em R$
1 bilhão por ano para os consumidores brasileiros.
Correção do problema
O secretário de Energia do
Ministério de Minas e Energia,
Josias Araújo, também reconheceu a perda. Mas ele não
apenas afirmou que a agência
tinha e tem todas as condições
de corrigir o problema como
disse que isso já deveria ter sido
feito há mais tempo, para evitar
perdas maiores ao consumidor
e a criação de um passivo.
"Uma vez identificado o problema, a agência tinha que ter
tomado providências imediatas. A decisão tem que ser tomada no momento certo", disse. "Não é necessário reeditar
portaria", afirmou.
À medida que a divergência
de versões foi ficando mais explícita, a audiência foi ganhando um tom quase jocoso. Hubner disse que o Ministério de
Minas e Energia precisa informar oficialmente à agência que
não considera necessário fazer
nenhuma modificação legal para que o erro seja corrigido.
Como Araújo, representante
do ministério, estava sentado à
mesma mesa e havia acabado
de afirmar que essa era a sua
opinião, o presidente da CPI
imediatamente questionou
Hubner se ele já se considerava,
então, informado. O diretor-geral da Aneel respondeu que
não, porque era necessário uma
comunicação oficial.
Par ou ímpar
Houve descontentamento
generalizado entre os congressistas, que passaram a classificar a reunião e o desentendimento entre os órgãos como
"acareação" e "briga de vizinhos". Chegou a haver a sugestão de que Hubner e Araújo decidissem no par ou ímpar a forma de evitar mais prejuízos ao
consumidor.
A decisão sobre a necessidade de uma modificação de critérios definidos por meio de
portaria interministerial pode
definir se há ou não direito ao
que já foi pago indevidamente
pelos consumidores. Uma nova
portaria indica uma nova política, que passa a ser cumprida a
partir daquele momento pela
agência reguladora. Nesse caso,
não há pagamento de passivo.
Se ficar decidido que a portaria não precisa ser reeditada, fica claro que a Aneel interpretou incorretamente a legislação
em vigor, o que dá direito ao recebimento de um passivo pelos
consumidores.
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