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SALTO NO ESCURO
Baixo nível dos reservatórios faz governo acionar termelétricas; consumidor pode ter que arcar com custo
Falta de água no NE pode elevar conta de luz
HUMBERTO MEDINA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O governo decidiu acionar as
usinas termelétricas do seguro
anti-racionamento no Nordeste
na semana que vem. A decisão foi
tomada para evitar falta de energia, pois os reservatórios das principais hidrelétricas da região estão
com níveis baixos. Isso poderá
significar aumento de tarifa para
os consumidores de energia.
Os reservatórios da região Nordeste, na última quinta-feira, estavam com 14,2% de sua capacidade. Os técnicos do governo já sabem que não haverá água suficiente no mês de dezembro. O nível de risco para que o governo
adote medidas para evitar falta de
energia é 10%. A expectativa é
que, dependendo da quantidade
de chuva a partir de dezembro, o
uso do seguro possa ser interrompido em janeiro.
Pelos cálculos feitos pelo governo, o Nordeste precisa de aproximadamente 500 MW (megawatts) médios, que terão de ser
gerados por usinas termelétricas
(cuja fonte primária de energia é
térmica). A intenção do governo é
aproveitar ao máximo a capacidade das usinas do PPT (Programa
Prioritário de Termeletricidade),
que não fazem parte do seguro.
Essas usinas usam gás e cobram
menos pela energia gerada do que
as integrantes do seguro.
A expectativa é que as usinas do
PPT possam gerar aproximadamente 400 MW médios. Nesse caso, as usinas do seguro teriam que
gerar aproximadamente 100 MW
médios. O que os consumidores
pagam nas contas de luz, a título
de "encargo de capacidade emergencial", serve apenas para custear o aluguel das usinas.
Quando há geração, a regulamentação do seguro prevê que os
consumidores paguem pelo óleo
combustível usado pelas usinas.
Nesse caso, é cobrado novo encargo "de aquisição emergencial"
nas contas de luz. Na geração de
energia do seguro, os consumidores residenciais que consomem
até 350 kWh/mês não pagam o
novo encargo.
Mário Santos, presidente do
ONS (Operador Nacional do Sistema Elétrico), informou que o
uso da energia termelétrica custará entre R$ 12 milhões e R$ 13 milhões na primeira semana. As usinas do PPT vão custar cerca de R$
5 milhões, e o restante será o custo
das usinas do seguro.
"Está valendo a pena estar pagando o seguro, porque agora vamos preventivamente fazer despacho de geração térmica e manter a geração sob controle", disse
o presidente do ONS.
Ele informou ainda que, de
acordo com a previsão dos técnicos, se não houver geração termelétrica, o nível dos reservatórios
iria baixar além da curva de segurança em meados de dezembro.
Ele disse que não há data para terminar a geração termelétrica.
"Todo dia o nível dos reservatórios será avaliado", disse.
Racionamento
O seguro anti-racionamento foi
criado pelo extinto "ministério do
apagão" (Câmara de Gestão da
Crise de Energia Elétrica, GCE),
comandado pelo ex-ministro da
Casa Civil Pedro Parente. Na ocasião, foi a solução encontrada pelo governo para acabar mais cedo,
em fevereiro de 2002, com o racionamento de energia.
O governo então contratou usinas termelétricas emergenciais,
que usam óleo combustível e cobram caro pelo MW gerado. Na
ocasião, a contratação do seguro
foi muito criticada.
Quando o seguro começou a ser
cobrado, custava R$ 0,0049 por
kWh consumido no mês. Em setembro, o valor do seguro foi reajustado em 28,46%. Desde o início
de sua cobrança, em março do
ano passado, esse encargo já acumula reajuste de 73,47%.
Hoje, o consumidor paga R$
0,0085 por kWh consumido no
mês para pagar o aluguel de 57
usinas termelétricas, que podem
gerar cerca de 2.000 MW em caso
de risco de racionamento. Em
uma conta de 500 kWh, R$ 4,25
vão para o pagamento do seguro
(cálculo sem imposto).
O governo teve dificuldades ontem para assumir a responsabilidade por ter acionado as usinas
do seguro. A reunião aconteceu às
11h de ontem no Ministério de
Minas e Energia e não teve participação da ministra Dilma Rousseff. Participaram secretários do
ministério, diretores do ONS e
membros da Aneel.
A notícia só foi divulgada no fim
da tarde, e pela ABPEE (Associação Brasileira dos Produtores de
Energia Emergencial).
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