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análise
O problema de Lula se chama salário mínimo
GUSTAVO PATU
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A contabilidade pode separar benefícios previdenciários e assistenciais, urbanos
e rurais, mas nenhuma manobra estatística solucionará
o problema básico do presidente Lula: sua intenção de
elevar os investimentos federais demanda, em todas as
contas, reduzir os reajustes
do salário mínimo em seu segundo mandato.
É verdade, como disse o
presidente, que o déficit da
previdência urbana é inferior ao provocado pelas aposentadorias rurais; até outubro, foram, neste ano, R$
14,4 bilhões e R$ 23 bilhões,
respectivamente. Também é
verdade que a previdência
rural, ao permitir o pagamento de benefícios sem
contribuição comprovada, se
confunde com a assistência
social pura e simples.
Conceitos e critérios à parte, ambas têm seus benefícios vinculados ao salário
mínimo, assim como os benefícios assistenciais criados
pela Loas (Lei Orgânica da
Assistência Social), a renda
mensal vitalícia, o abono salarial e o seguro-desemprego
-uma soma que representa,
no Orçamento de 2007, 47%
de todas as despesas não-financeiras da União.
Essa proporção, crescente
nos últimos anos, torna praticamente impossível conceder aumentos politicamente
vistosos para o mínimo e, ao
mesmo tempo, cumprir a
meta de segurar as despesas
correntes (pessoal, custeio
administrativo e programas
sociais) para abrir mais espaço para os investimentos.
Só há três opções para
compatibilizar os dois objetivos, todas problemáticas. A
primeira é reduzir o superávit primário, ou seja, a parcela da arrecadação destinada
ao abatimento da dívida pública. A segunda é uma reforma da Previdência. A última,
elevar mais uma vez a carga
tributária.
A redução do superávit teria boa repercussão política e
má repercussão no mercado,
por comprometer o controle
da dívida pública e, possivelmente, a queda dos juros. A
reforma da Previdência que
desvinculasse os benefícios
previdenciários do salário
mínimo seria louvada pelo
mercado e um desastre político. Elevar impostos é rechaçado pelos dois lados.
Não por acaso, o Executivo
já reduziu sua proposta de
reajuste do mínimo para modestos 5% em 2007. Mais
complicado será manter essa
estratégia até o final do mandato.
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