|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Banco público ganha espaço de privado
Em outubro, carteira de crédito de instituições estatais cresce 5,2%, contra 1,8% de privadas, receosas com a crise
Pressionados por Lula, bancos públicos, com 35% do total do crédito no país, elevam atuação, como na operação Caixa-Petrobras
NEY HAYASHI DA CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Sob pressão do presidente
Lula para irrigarem o crédito
no país após o congelamento do
mercado na crise, os bancos públicos foram os que puxaram a
expansão do crédito ocorrida
no mês passado, quando as instituições financeiras privadas
adotaram uma posição mais
cautelosa e passaram a fazer
fortes restrições à liberação de
novos financiamentos.
Segundo dados do Banco
Central, o volume de empréstimos oferecidos pelos bancos
controlados pelo governo cresceu quase duas vezes mais do
que no setor privado ao longo
de outubro.
No mês passado, o tamanho
das carteiras de crédito dos
bancos públicos cresceu 5,2%
na comparação com setembro,
enquanto no mesmo período a
expansão observada nas instituições privadas ficou em 1,8%.
Os bancos públicos respondem por pouco mais de um terço (35%) dos financiamentos
fornecidos pelo sistema financeiro e são liderados por Banco
do Brasil, Caixa Econômica Federal e BNDES. Mesmo não
tendo a maior fatia do mercado,
sua atuação foi decisiva para fazer com que o volume de crédito disponível no país chegasse a
um valor equivalente a 40,2%
do PIB (Produto Interno Bruto), o maior nível já registrado
desde o início da série estatística do BC, em 1994.
Para Carlos Thadeu de Freitas, economista da CNC (Confederação Nacional do Comércio) e ex-diretor do BC, é normal que, em momentos de crise, os bancos públicos atuem
para tentar normalizar a situação. "Está sobrando dinheiro
no mercado, principalmente
nos grandes bancos, mas ele
não está chegando às mãos de
quem precisa. É importante
que os bancos públicos preencham esse vazio", afirma.
Freitas diz que, nas atuais
circunstâncias, o setor financeiro pode preferir usar seus
recursos para aplicar em títulos
do governo federal em vez de
emprestar ao setor privado,
mas essa opção não faria sentido a um banco público, que já
tem como controlador o próprio governo.
"Os bancos públicos estão fazendo o mesmo que o Fed (o BC
americano) está fazendo nos
Estados Unidos, que é injetar
dinheiro no mercado. Por causa de restrições da legislação
brasileira, o BC do Brasil tem
uma atuação limitada nesses
casos, e o papel acaba sendo
exercido pelos bancos públicos", diz o economista.
Para Alex Agostini, economista-chefe da Austin Ratings,
a atuação mais forte dos bancos
públicos "é momentânea" e deve durar enquanto as condições
de mercado não se normalizam. Ele diz que as instituições
financeiras podem assumir riscos um pouco maiores em suas
operações porque contam com
garantias maiores do que as que
existem entre as instituições
privadas. "O suporte do banco
público é o Tesouro Nacional,
se ele precisar reforçar o caixa,
pode recorrer ao governo", diz.
Isso não significa, argumenta, que a maior concessão de
empréstimos possa colocar em
risco a saúde financeira dos
bancos públicos. Agostini cita o
empréstimo de R$ 2 bilhões da
Caixa para a Petrobras como
exemplo disso, já que se trata
de uma operação fechada com
uma empresa reconhecidamente sólida e que deve trazer
lucros ao banco estatal.
Os números do BC mostram
que a carteira de crédito dos
bancos públicos cresceu mais
do que a de bancos privados em
todos os segmentos analisados,
com destaque para a indústria,
o setor de serviços e as operações com pessoas físicas.
Texto Anterior: Mercado Aberto Próximo Texto: Frase Índice
|