São Paulo, sábado, 29 de novembro de 2008

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Lojas ampliam desconto na "Sexta-Feira Negra" nos EUA

Filas no comércio popular e lojas caras vazias marcam início da temporada de compras

Bolsas de grifes como Prada e Donna Karan são vendidas por preço até 60% menor; vendedor do Wal-Mart morre pisoteado

ANDREA MURTA
DE NOVA YORK

O início da temporada tradicional de compras de Natal nos EUA ontem encheu lojas de consumidores ávidos por descontos: foi a "Black Friday" ("Sexta-Feira Negra"), quando são oferecidas as maiores promoções do ano logo após o feriado de Ação de Graças. Mas, se a crise econômica não impediu a visita aos shoppings, levou as famílias a cortar os gastos, em um quadro já desanimador para o comércio.
Em Manhattan, o cenário era de muita gente nas ruas e poucas sacolas nas mãos. "Estou gastando 50% menos", disse a capelã Sharon, 46, cujas compras na loja Macy's foram afetadas por perdas em aplicações financeiras. "Não compro nada antes de pensar se posso."
Segundo lojistas locais, a tendência é generalizada. "A loja está cheia, mas o pessoal só olha e sai sem comprar", disse um vendedor de relógios da Macy's que pediu para não ser identificado.
A situação das lojas populares era um pouco melhor. A Old Navy da praça Herald, famosa pelos suéteres de US$ 20, tinha filas que iam de um lado a outro da loja (que ocupa a largura de um quarteirão).
O desespero por descontos chegou a causar a morte de um vendedor do Wal-Mart em Valley Stream (Estado de Nova York) ontem. O homem, de 34 anos, morreu pisoteado quando a multidão invadiu a loja em busca dos descontos. Uma mulher grávida de 28 anos e três outros clientes também ficaram feridos e foram levados para hospitais da região.
Em anos anteriores, a temporada iniciada na "Black Friday" foi responsável em média por 40% dos lucros anuais dos comerciantes. O período de 2008, após um ano difícil, poderá definir a sobrevivência -ou falência- de muitos, e a expectativa é que os cortes de preço continuem por semanas.
Para a estação de compras como um todo, a previsão do Centro de Pesquisas do Standard & Poor's era de queda de 5% nos lucros. O centro chamou a temporada de "a mais dramática em décadas".
O temor fez os descontos aumentarem. Na elegante Bergdorf Goodman, na 5ª Avenida, cortes de até 60% em bolsas de grifes como Prada e Donna Karan, cujo preço normal fica acima dos US$ 1.000, deixaram corredores cheios.
Mas nem sapatilhas Chanel de US$ 675 saindo por US$ 405 foram suficientes.
"Essa crise matou minha vontade de gastar", afirmou uma senhora de Boston que não quis dar o nome.
Outras lojas caras dos arredores tiveram desempenho ainda pior. Na Escada, por volta das 12h, não havia nenhum comprador. O mesmo acontecia na Jimmy Choo, na rua 51.
Os turistas também reclamavam da crise. As brasileiras Anair, 57, e Nicole, 37, de Joinville, agendaram a viagem quando o dólar custava R$ 1,70. Hoje, com a moeda a R$ 2,30, o dinheiro para compras ficou mais curto. E, para elas, havia ainda outra dificuldade: o desconforto por gastar em Nova York em meio à tragédia em Santa Catarina. "Pelo menos meu marido cancelou a festa de Natal da empresa. Sinto-me um pouco melhor", afirmou Anair.


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