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RECEITA ORTODOXA
Banco Central projeta desaceleração da economia com alta dos juros, mas ainda vê inflação acima da meta em 2005
PIB não crescerá no último trimestre, diz BC
NEY HAYASHI DA CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A economia deve encerrar o último trimestre do ano com crescimento zero em relação ao trimestre anterior, de acordo com estimativa divulgada ontem pelo
Banco Central. A desaceleração
que já começa a ser observada fará com que o país cresça, em 2005,
menos do que em 2004.
Confirmada essa projeção, o
PIB (Produto Interno Bruto) registrará, nas contas do BC, uma
expansão de 5% neste ano, taxa
que recuará para 4% no ano que
vem. No terceiro trimestre, houve
um crescimento de 1% em relação
aos trimestre anterior.
A alta dos juros é um dos motivos que explicam o freio na economia, já que, para o BC, é preciso
conter o crescimento para debelar
pressões inflacionárias.
O diretor de Política Econômica
do BC, Afonso Bevilaqua, disse
que o ritmo de crescimento da
economia é um dos principais
obstáculos para o controle da inflação. A elevação da taxa Selic
-que passou, em sucessivas altas, de 16% ao ano em setembro
para 17,75% neste mês- tem como objetivo frear essa expansão.
"O ideal para sustentar o crescimento, no longo prazo, é manter
a inflação sob controle", afirmou
Bevilaqua. Segundo o BC, a permanência dos juros em 17,75%
até o final de 2005 faria com que a
inflação do período, medida pelo
IPCA, ficasse em 5,3% -acima,
portanto, da meta de 5,1%.
Num cenário em que a Selic caia
para 15,5% ao ano e a cotação do
dólar suba para R$ 3, a alta dos
preços seria de 6,3%. Todas essas
projeções constam do Relatório
de Inflação, documento publicado a cada três meses pelo BC sobre a situação da economia.
Com a inflação projetada acima
das metas, a tendência é que os juros continuem subindo. A ata da
última reunião do Copom (Comitê de Política Monetária do BC),
divulgada na semana passada, já
apontava a possibilidade de novos aumentos.
Para o BC, a aceleração da inflação é conseqüência do forte crescimento da economia. "No ambiente interno, os maiores riscos
[à estabilidade dos preços] estão
associados às incertezas quanto à
ampliação da capacidade produtiva da economia para atender à
maior demanda por bens e serviços proporcionada pelo forte
crescimento observado recentemente", diz o documento.
Em outras palavras, a economia
estaria crescendo num ritmo excessivamente alto, o que aumentaria o risco de as empresas não
conseguirem produzir o suficiente para atender o maior nível de
consumo da população. Um cenário como esse significaria mais
espaço para reajuste de preços,
pressionando a inflação.
O aumento de juros é o instrumento usado pelo BC para reverter essa situação: ao conter o crescimento da economia, a medida
reduziria as pressões.
Críticas
Tanto no governo como no setor privado, o BC tem sido criticado. Segundo as críticas, os ganhos
que a alta dos juros proporcionam para o controle da inflação
não compensam os custos impostos ao crescimento econômico.
Na visão do BC, porém, o controle da inflação é o fator que irá
sustentar o crescimento ao longo
dos anos. "A desaceleração no ritmo de expansão da economia
contribui para a sustentabilidade
do processo de crescimento", diz
o relatório -ou seja, para o BC,
frear a expansão da economia é
preciso para garantir a continuidade dessa expansão.
Bevilaqua negou que pretenda
pedir demissão por causa dessas
críticas e usou os números do PIB
para rebatê-las. "Você olhe para
os dados de 2004 e tire suas próprias conclusões", disse o diretor
do BC a jornalistas.
Confirmadas as projeções do
BC, o Brasil terá, em 2004, a maior
taxa de crescimento desde 1994,
quando, impulsionada pelo Plano
Real, a economia teve uma expansão de 5,85%. Esses números, de
acordo com Bevilaqua, mostram
os bons resultados alcançados pela política econômica do governo.
Em setembro, o BC projetava
em 4,4% o crescimento deste ano.
A estimativa foi modificada depois que o IBGE divulgou números revisados do PIB, mostrando uma expansão de 0,5% em 2003, no lugar da retração de 0,2%.
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