São Paulo, quarta-feira, 29 de dezembro de 2004

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RECEITA ORTODOXA

Banco Central projeta desaceleração da economia com alta dos juros, mas ainda vê inflação acima da meta em 2005

PIB não crescerá no último trimestre, diz BC

NEY HAYASHI DA CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A economia deve encerrar o último trimestre do ano com crescimento zero em relação ao trimestre anterior, de acordo com estimativa divulgada ontem pelo Banco Central. A desaceleração que já começa a ser observada fará com que o país cresça, em 2005, menos do que em 2004.
Confirmada essa projeção, o PIB (Produto Interno Bruto) registrará, nas contas do BC, uma expansão de 5% neste ano, taxa que recuará para 4% no ano que vem. No terceiro trimestre, houve um crescimento de 1% em relação aos trimestre anterior.
A alta dos juros é um dos motivos que explicam o freio na economia, já que, para o BC, é preciso conter o crescimento para debelar pressões inflacionárias.
O diretor de Política Econômica do BC, Afonso Bevilaqua, disse que o ritmo de crescimento da economia é um dos principais obstáculos para o controle da inflação. A elevação da taxa Selic -que passou, em sucessivas altas, de 16% ao ano em setembro para 17,75% neste mês- tem como objetivo frear essa expansão.
"O ideal para sustentar o crescimento, no longo prazo, é manter a inflação sob controle", afirmou Bevilaqua. Segundo o BC, a permanência dos juros em 17,75% até o final de 2005 faria com que a inflação do período, medida pelo IPCA, ficasse em 5,3% -acima, portanto, da meta de 5,1%.
Num cenário em que a Selic caia para 15,5% ao ano e a cotação do dólar suba para R$ 3, a alta dos preços seria de 6,3%. Todas essas projeções constam do Relatório de Inflação, documento publicado a cada três meses pelo BC sobre a situação da economia.
Com a inflação projetada acima das metas, a tendência é que os juros continuem subindo. A ata da última reunião do Copom (Comitê de Política Monetária do BC), divulgada na semana passada, já apontava a possibilidade de novos aumentos.
Para o BC, a aceleração da inflação é conseqüência do forte crescimento da economia. "No ambiente interno, os maiores riscos [à estabilidade dos preços] estão associados às incertezas quanto à ampliação da capacidade produtiva da economia para atender à maior demanda por bens e serviços proporcionada pelo forte crescimento observado recentemente", diz o documento.
Em outras palavras, a economia estaria crescendo num ritmo excessivamente alto, o que aumentaria o risco de as empresas não conseguirem produzir o suficiente para atender o maior nível de consumo da população. Um cenário como esse significaria mais espaço para reajuste de preços, pressionando a inflação.
O aumento de juros é o instrumento usado pelo BC para reverter essa situação: ao conter o crescimento da economia, a medida reduziria as pressões.

Críticas
Tanto no governo como no setor privado, o BC tem sido criticado. Segundo as críticas, os ganhos que a alta dos juros proporcionam para o controle da inflação não compensam os custos impostos ao crescimento econômico.
Na visão do BC, porém, o controle da inflação é o fator que irá sustentar o crescimento ao longo dos anos. "A desaceleração no ritmo de expansão da economia contribui para a sustentabilidade do processo de crescimento", diz o relatório -ou seja, para o BC, frear a expansão da economia é preciso para garantir a continuidade dessa expansão.
Bevilaqua negou que pretenda pedir demissão por causa dessas críticas e usou os números do PIB para rebatê-las. "Você olhe para os dados de 2004 e tire suas próprias conclusões", disse o diretor do BC a jornalistas.
Confirmadas as projeções do BC, o Brasil terá, em 2004, a maior taxa de crescimento desde 1994, quando, impulsionada pelo Plano Real, a economia teve uma expansão de 5,85%. Esses números, de acordo com Bevilaqua, mostram os bons resultados alcançados pela política econômica do governo.
Em setembro, o BC projetava em 4,4% o crescimento deste ano. A estimativa foi modificada depois que o IBGE divulgou números revisados do PIB, mostrando uma expansão de 0,5% em 2003, no lugar da retração de 0,2%.

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