|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
CONSUMO
Por notar ambiente propício à recomposição de lucro de empresas, equipe econômica diz que redobrará cuidados
Margem de lucro recorde preocupa o BC
ADRIANA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL
Há um ambiente mais propício
e uma "pressão latente" pela recomposição ou ampliação das
margens de lucro das empresas, e,
nesse cenário, a equipe econômica precisa ter "atenção redobrada
às tendências de repasse de aumentos de preços ao longo da cadeia produtiva".
A afirmação, presente no "Relatório de Inflação" do Banco Central do quarto trimestre -apresentado ao mercado ontem-,
traz à tona a questão do processo
de retomada das margens do varejo e de setores produtivos em
2005. No relatório anterior, de setembro, a instituição já havia levantado essa questão.
Levantamento feito pela consultoria Economática, a pedido da
Folha, mostra em que nível está a
margem líquida das empresas na
área do comércio e no setor industrial e de serviços. Essa margem (taxa média) passou de
7,81% em 2003 para 9,31% em
2004 (segundo dados anualizados
até setembro).
É a maior taxa da história. Já a
margem Ebitda (valor antes de juros, impostos, amortização e depreciação) cresceu de 16,40% para
18,61% no período.
Entram nessa contagem 224
companhias que publicam dados
financeiros pois têm ações na Bolsa de Valores -estão excluídos
da análise os bancos, a Petrobras e
a Eletrobrás.
Nos balanços financeiros, para
explicar as altas nas margens, as
empresas de bens duráveis, por
exemplo, citam a redução nos
custos de produção. Já as companhias da área de varejo fazem referências à necessidade de um aumento futuro nas margens de lucro dos produtos que vende para
recompor perdas antigas.
O BC afirma ainda que, com essa possibilidade de obter maiores
margens, as empresas não podem
se dar ao luxo de dar reajustes salariais mais "generosos" aos empregados. Isso seria uma atitude
equivocada e em nada ajudaria na
manutenção da estabilidade inflacionária.
Economistas, porém, discordam de que houve ou de que haverá espaço para uma recomposição "pura e simples" das margens
das companhias em 2004 e em
2005, como decorrência do aumento na demanda do mercado
interno. Ou de que existe uma
tendência generalizada para aumentos reais nos salários.
Consumo e reajustes
Momentos de atividade econômica mais acelerada -e, portanto, de maior consumo- abrem
possibilidades para que as empresas repassem ao mercado eventuais pressões sobre seus custos.
Elas se sentem mais confortáveis
para promover reajustes, porque
há mais gente comprando, e podem manter seus ganhos.
A questão é que os economistas
acreditam que a alta inflacionária
está muito mais relacionada a
pressões nas tarifas públicas
(energia, água, telefonia etc.), ao
sobe-e-desce dos preços agrícolas
e aos choques de oferta do que
com a recomposição de margens
das indústrias.
O BC não chega a comparar as
questões no relatório. Apenas faz
as considerações.
"Há um crescimento no consumo, porém ainda lento e em certos casos menor do que o esperado. Não é possível afirmar que tivemos ou devemos ter um restabelecimento acentuado nas margens das empresas", afirma o economista Fabio Silveira, sócio-diretor da MS Consult.
Para Fernando Exel, presidente
da Economática, é difícil afirmar
que houve uma depreciação das
margens em geral, pois há setores
que conseguiram manter ganhos
elevados nos últimos anos.
Reajustes salariais
O BC ainda faz menção aos riscos de reajustes salariais reais
(acima da inflação), que podem
comprometer a estabilidade econômica. Informa que "é importante alertar para que, num ambiente propício à recomposição
de margens, os reajustes salariais
não sejam concedidos na presunção de que a política monetária
acomodará esse repasse".
Ou seja, a instituição questiona
a posição de uma empresa em
conceder reajuste ao empregado
acreditando que, como haverá
mesmo inflação, o valor será corroído.
Os bancários já negociaram em
novembro aumentos salariais
com ganhos reais que variam de
1,7% a 5,7%. Os trabalhadores dos
setores de máquinas e eletrônicos
em São Paulo pediram um índice
de reajuste real de 4%.
Texto Anterior: Mercado eleva projeção de juros Próximo Texto: Frase Índice
|