São Paulo, quarta-feira, 29 de dezembro de 2004

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CONSUMO

Por notar ambiente propício à recomposição de lucro de empresas, equipe econômica diz que redobrará cuidados

Margem de lucro recorde preocupa o BC

ADRIANA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL

Há um ambiente mais propício e uma "pressão latente" pela recomposição ou ampliação das margens de lucro das empresas, e, nesse cenário, a equipe econômica precisa ter "atenção redobrada às tendências de repasse de aumentos de preços ao longo da cadeia produtiva".
A afirmação, presente no "Relatório de Inflação" do Banco Central do quarto trimestre -apresentado ao mercado ontem-, traz à tona a questão do processo de retomada das margens do varejo e de setores produtivos em 2005. No relatório anterior, de setembro, a instituição já havia levantado essa questão.
Levantamento feito pela consultoria Economática, a pedido da Folha, mostra em que nível está a margem líquida das empresas na área do comércio e no setor industrial e de serviços. Essa margem (taxa média) passou de 7,81% em 2003 para 9,31% em 2004 (segundo dados anualizados até setembro).
É a maior taxa da história. Já a margem Ebitda (valor antes de juros, impostos, amortização e depreciação) cresceu de 16,40% para 18,61% no período.
Entram nessa contagem 224 companhias que publicam dados financeiros pois têm ações na Bolsa de Valores -estão excluídos da análise os bancos, a Petrobras e a Eletrobrás.
Nos balanços financeiros, para explicar as altas nas margens, as empresas de bens duráveis, por exemplo, citam a redução nos custos de produção. Já as companhias da área de varejo fazem referências à necessidade de um aumento futuro nas margens de lucro dos produtos que vende para recompor perdas antigas.
O BC afirma ainda que, com essa possibilidade de obter maiores margens, as empresas não podem se dar ao luxo de dar reajustes salariais mais "generosos" aos empregados. Isso seria uma atitude equivocada e em nada ajudaria na manutenção da estabilidade inflacionária.
Economistas, porém, discordam de que houve ou de que haverá espaço para uma recomposição "pura e simples" das margens das companhias em 2004 e em 2005, como decorrência do aumento na demanda do mercado interno. Ou de que existe uma tendência generalizada para aumentos reais nos salários.

Consumo e reajustes
Momentos de atividade econômica mais acelerada -e, portanto, de maior consumo- abrem possibilidades para que as empresas repassem ao mercado eventuais pressões sobre seus custos. Elas se sentem mais confortáveis para promover reajustes, porque há mais gente comprando, e podem manter seus ganhos.
A questão é que os economistas acreditam que a alta inflacionária está muito mais relacionada a pressões nas tarifas públicas (energia, água, telefonia etc.), ao sobe-e-desce dos preços agrícolas e aos choques de oferta do que com a recomposição de margens das indústrias.
O BC não chega a comparar as questões no relatório. Apenas faz as considerações.
"Há um crescimento no consumo, porém ainda lento e em certos casos menor do que o esperado. Não é possível afirmar que tivemos ou devemos ter um restabelecimento acentuado nas margens das empresas", afirma o economista Fabio Silveira, sócio-diretor da MS Consult.
Para Fernando Exel, presidente da Economática, é difícil afirmar que houve uma depreciação das margens em geral, pois há setores que conseguiram manter ganhos elevados nos últimos anos.

Reajustes salariais
O BC ainda faz menção aos riscos de reajustes salariais reais (acima da inflação), que podem comprometer a estabilidade econômica. Informa que "é importante alertar para que, num ambiente propício à recomposição de margens, os reajustes salariais não sejam concedidos na presunção de que a política monetária acomodará esse repasse".
Ou seja, a instituição questiona a posição de uma empresa em conceder reajuste ao empregado acreditando que, como haverá mesmo inflação, o valor será corroído.
Os bancários já negociaram em novembro aumentos salariais com ganhos reais que variam de 1,7% a 5,7%. Os trabalhadores dos setores de máquinas e eletrônicos em São Paulo pediram um índice de reajuste real de 4%.

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