|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
FONTE ALTERNATIVA
Mais barato e menos poluente, combustível ganha espaço, mas cresce pouco entre veículos comerciais pesados
Frota de caminhão e ônibus a gás não avança
JANAÍNA LEITE
DA REPORTAGEM LOCAL
Sucesso entre veículos leves, o
gás natural veicular (GNV) não
pegou no caso de ônibus e caminhões. Com isso, o governo termina 2004 distante de atingir dois
objetivos na área de infra-estrutura -baratear o custo do transporte urbano e reduzir a poluição
nas grandes cidades.
"Não é fácil desbancar um sistema arraigado na gestão das empresas. Quando o paradigma muda, alguns atores trocam de papel
e têm de rever sua forma de lucrar", avalia o diretor de Gás e
Energia da Petrobras, Ildo Sauer.
De acordo com o IBP (Instituto
Brasileiro de Petróleo e Gás), nos
primeiros 20 dias de dezembro,
12.633 táxis e carros de passeio foram convertidos para o GNV.
A expectativa é que, até o dia 31,
o número aumente para algo em
torno dos 18.943 casos de novembro. Esse total representou o melhor do ano. "Chegaremos a 820,6
mil veículos em 2004 e a 1 milhão
ainda no primeiro semestre do
próximo ano", acredita o coordenador do comitê de gás natural
veicular do IBP, Rosalino Fernandes. O instituto não tem levantamento sobre veículos pesados.
De acordo com a ANP (Agência
Nacional do Petróleo), em novembro o preço médio do litro da
gasolina vendida no país chegou a
R$ 2,19. No mesmo período, a
mesma medida de óleo diesel,
principal combustível dos veículos pesados, foi comercializada a
cerca de R$ 1,41. O GNV ficou
mais em conta, saindo a R$ 1,08.
No primeiro semestre deste
ano, o governo anunciou um
compromisso da Petrobras. A estatal garantiria que o preço do gás
natural direcionado ao transporte
urbano de passageiros não ultrapassaria, nos próximos dez anos,
55% do valor do diesel.
Para acelerar o uso do GNV, a
Petrobras faz um esforço coordenado com fabricantes de ônibus e
componentes mecânicos para desenvolvê-lo. Cientistas e técnicos
da empresa, aliados ao setor privado, buscam três tipos de motores a gás natural veicular.
O primeiro, feito com a empresa
argentina Tomasetto Achile, é o
motor "ottorizado" -tecnologia
reversível, que permite a reconversão posterior ao diesel. Em teste desde 26 de novembro, em um
ônibus que percorre a linha entre
as cidades gaúchas de Porto Alegre e Alvorada, o novo motor só
deve receber o carimbo de aprovação depois de abril de 2005.
Até lá, continua apenas o protótipo de um motor que demandaria investimentos de R$ 40 mil dos
proprietários de ônibus, explica o
diretor da Petrobras.
O segundo modelo a ser avaliado é desenvolvido em Resende
(RJ), numa parceria da estatal
com a Volkswagen. A idéia é um
ciclo híbrido de injeção, que dispensaria a vela de ignição. Ainda
não houve prospecção do custo.
Por fim, a filial brasileira da
Mercedes-Benz voltou a fabricar
modelos inteiramente impulsionados a GNV. Voltados ao transporte de pequeno curso, esses
ônibus são bem vistos pelos ambientalistas. Lançam menos poluentes. O problema, para os empresários, é o custo salgado.
"A frota de ônibus na Grande
São Paulo bate, mais ou menos,
em 12 mil unidades. Só na capital,
alcança 8.000. Do total, a parcela
movida a gás natural veicular, infelizmente, é ínfima", diz o secretário de Meio Ambiente do Estado de São Paulo, José Goldenberg.
Segundo ele, o custo médio de
um ônibus a diesel fica em torno
de R$ 140 mil, ante R$ 180 mil do à
GNV. Fontes do setor de transportes, no entanto, relatam que o
preço alcança até R$ 250 mil.
Defensor do GNV, Goldenberg
lembra que a lei municipal 12.140
determina, desde 5 de julho de
1996, que a frota de transporte
paulistana teria de ser convertida
ao gás. Não passa de letra morta.
Empresários da área de gás dizem
que, até agora, apenas 90 ônibus
teriam sido convertidos ao GNV.
Os principais motivos para resultados tão pífios estão em duas
das três pontas interessadas na
mudança do sistema -empresas
de transporte e governo federal.
Os empresários não vêem motivo para gastar tanto com ônibus,
porque há um mercado secundário da frota. Depois de alguns
anos de uso, os veículos são repassados para companhias menores.
A maioria da frota sucateada de
São Paulo vai para o interior do
país. Os ônibus do Rio seguem
para África e América Central.
"Todos levam em conta o valor
residual dos veículos, porque ele
será revendido mais adiante. Se o
motor é puramente a gás, o mercado comprador fica restrito", explica o consultor David Zylbersztajn, ex-presidente da ANP.
O governo, por sua vez, encontra dificuldades em ofertar crédito
para o investimento na frota de
GNV. Os bancos consideram que
a linha do BNDES é barata e de
prazo curto, além de se recusarem
em arcar com o risco de crédito,
uma vez que boa parte das companhias de transporte tem uma ficha creditícia questionável.
"A falta de fomento atrasa tudo,
fica muito difícil explicar à matriz
atrasos no cronograma. Eles [a
matriz] perguntam: "Não há uma
lei ordenando a conversão?" Respondo que sim, mas que ela não é
cumprida", diz David Lasevitch,
diretor-geral da Iqara, o braço nacional da British Gas para a área.
Texto Anterior: Crédito: Procon aponta queda no juro ao consumidor Próximo Texto: Aviação: Ocean Air se associa a peruanos para criar nova companhia aérea Índice
|