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RECEITA ORTODOXA
Banco reduz para 2,6% projeção de crescimento para este ano, que em dezembro de 2004 também era de 4%
BC projeta aumento do PIB de 4% em
2006
SHEILA D"AMORIM
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Em um ano marcado por muita
polêmica dentro do governo sobre a melhor forma de manter os
índices de preço sob controle, o
Brasil terá mais inflação e menos
crescimento do que previsto pela
própria equipe econômica.
As projeções do Banco Central,
divulgadas ontem no relatório trimestral de inflação, mostram que,
em 2005, o IPCA, índice referência para o sistema de metas do governo, ficará em 5,7%, acima dos
5,3% projetados pelo BC em dezembro do ano passado.
Enquanto isso, o crescimento
da economia previsto pelo Banco
Central para este ano é de apenas
2,6%, bem abaixo dos 4% estimados no relatório divulgado pela
instituição no final do ano passado, quando o PIB brasileiro cresceu 4,9%.
Para 2006, ano da eleição presidencial, o cenário traçado pelos
diretores do Banco Central para a
inflação é mais otimista do que o
elaborado pelos analistas do mercado financeiro. O mercado projeta um IPCA de 4,9%, acima do
centro da meta fixada em 4,5%. Já
o BC prevê uma taxa abaixo disso,
de 3,8% no ano.
Crescimento
No caso do crescimento econômico, o BC prevê um crescimento
em 2006 de 4%, um número mais
otimista do que os 3,5% esperados pelos analistas do mercado.
Mas abaixo da expectativa lançada nesta semana pelo ministro
Antonio Palocci Filho (Fazenda),
de que o país terá no próximo ano
crescimento perto de 4,9%.
Os dados do relatório, apresentados pelo diretor de Política Econômica do BC, Afonso Bevilaqua,
ajudam ainda a reforçar as críticas
feitas por integrantes do próprio
governo à política econômica. Isso porque os resultados mostram
que a política de juros altos praticada ao longo deste ano serviu
muito mais para frear o crescimento econômico do que para reduzir a inflação.
No final do ano passado, os modelos técnicos do BC apontavam
que seria possível, com juros menores e taxa de câmbio bem mais
elevada do que agora, chegar a um
IPCA de 5,3% no final de 2005,
com a economia crescendo 4%.
O que aconteceu na prática, no
entanto, foi bem diferente. Ao
longo de 2005, os juros que estavam em 17,75% em dezembro de
2004 foram elevados sob o argumento de que era preciso conter
as pressões inflacionárias. A taxa
de juros começou 2005 em
18,25% ao ano e chegou a 19,75%
em setembro, caindo depois gradualmente até os atuais 18%.
A taxa de câmbio, que puxa a inflação para cima quando o dólar
se valoriza e encarece os importados, manteve-se bem abaixo dos
R$ 2,75 usados como parâmetro
na projeção feita no final de 2004.
Com isso, ao longo de 2005, ela
contribuiu para segurar o IPCA.
Mesmo assim, a inflação ficou
acima do previsto, e o impacto
maior dos juros foi no setor produtivo, com uma forte desaceleração da atividade. No terceiro trimestre houve retração de 1,2% da
economia, segundo dados preliminares do IBGE. O saldo final
em 2005 será um crescimento de
apenas 2,6%, nas projeções do
BC.
"Isso mostra o erro da política
monetária. O que distorceu a inflação em relação à meta não foram fatores afetados pela taxa de
juros. O BC não soube avaliar isso
e só ficou preocupado com o valor
nominal da inflação", critica o
economista-chefe da corretora Liquidez, Marcelo Voss. "Com isso,
ele sacrificou 1,4 ponto percentual
de crescimento da economia e
não teve nenhum ganho de inflação em relação às estimativas do
final de 2004", critica.
Bevilaqua defende a política implementada pelo BC argumentando que o resultado do PIB neste ano foi muito afetado pela retração verificada no terceiro trimestre. O recuo, segundo ele, se
deu porque a indústria estava
com excesso de estoques e reduziu o ritmo de produção nesse período. Além disso, houve também
uma quebra de safra no setor agrícola, e a crise política refletiu negativamente nas expectativas dos
empresários.
"Isso interrompeu a série de oito trimestres consecutivos de
crescimento que começou em
2003", reconheceu o diretor do
BC. "Mas vemos para a frente aumento do emprego, da massa salarial, dos indicadores de confiança e os efeitos da flexibilização da
política monetária. Tudo isso deve fazer com que a retomada do
quarto trimestre deste ano continue em 2006."
Com relação à inflação, ele diz
que o valor final foi maior do que
o esperado devido aos índices recentes dos meses de outubro e novembro, que foram pressionados,
entre outras coisas, pelo reajuste
dos combustíveis.
Para o ano que vem, Beviláqua
diz que, a exemplo do que aconteceu em 2004, quando a taxa de expansão do PIB foi maior do que a
projetada, o crescimento estimado em 4% pode ser maior, mas
sugeriu que o próprio ministro
Palocci explicasse porque falou de
uma taxa mais elevada. "Nada impede que isso aconteça [um crescimento maior]. O BC quer que o
crescimento se aproxime das estimativas do Palocci. Agora, tem
que perguntar ao ministro Palocci
porque ele está com projeção
maior", afirmou.
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