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PREVIDÊNCIA E ARTE
Desenho, do patrimônio do instituto, está em parede da presidência, que não foi atingida pelo incêndio
Fogo no INSS poupa obra atribuída a Picasso
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O fogo que destruiu anteontem
parte da sede do INSS (Instituto
Nacional do Seguro Social) em
Brasília poupou uma obra atribuída ao artista espanhol Pablo
Picasso (1881-1973). O quadro,
com o desenho de uma mulher
sentada com braços cruzados, escapou do incêndio que consumiu
seis andares do edifício, aparentemente sem danos.
A obra só não foi destruída porque estava no terceiro andar do
prédio, pendurada em uma parede do gabinete da presidência do
instituto. Dos dez andares, os seis
últimos foram totalmente afetados e setores do quarto foram danificados.
Apesar do suposto valor artístico do quadro, a obra, retirada ontem do prédio que pegou fogo, só
será transferida hoje para o gabinete do ministro da Previdência,
Nelson Machado, segundo informou a assessoria de imprensa do
ministério. Ainda não se sabe
qual será o destino da obra nem se
há outros objetos artísticos de valor no local do incêndio.
Antes do incêndio, a mulher supostamente desenhada por Picasso passava os dias sob luzes fluorescentes e cercada por pilhas de
papel. Fora achada por acaso no
início do ano passado pelo historiador Francisco Azevedo, quando ele tentava recompor o acervo
do INSS. Azevedo procurava por
uma tela de Cândido Portinari e
encontrou a mulher de Picasso.
As principais obras de arte do
INSS faziam parte da coleção particular de Tomás Santa Rosa,
comprada pelo antigo instituto de
Previdência, o Ipase, em 1957, ano
seguinte ao da morte do artista
plástico pernambucano.
O Museu Santa Rosa -destino
original da coleção- foi extinto.
As obras passaram para o também extinto INPS no final dos
anos 60 e viajaram para Brasília já
nos anos 90, quando a direção do
INSS mudou-se para a capital.
Autenticidade
O governo, no entanto, não tem
certeza se dispõe ou não de um
verdadeiro Pablo Picasso. A autenticidade do desenho é questionada, apesar de o historiador
Francisco Azevedo afirmar ter encontrado uma assinatura do artista escondida pela moldura, durante a limpeza da obra.
O desenho é quase idêntico a
uma pintura a óleo do artista espanhol que integra o acervo do
Museu Metropolitan, de Nova
York. A tela, pintada em 1923, retrata uma mulher sentada com
braços cruzados, Sarah Murphy,
uma amiga do artista.
Diante da contestação à autenticidade da obra, depois da publicação de sua descoberta pela Folha,
o Ministério da Previdência ficou
de contratar um especialista para
avaliar o desenho. Mas não há notícia de um novo laudo.
Destino das obras
O fato de o quadro quase ter sido incinerado levantou novamente a discussão sobre o destino
de obras de arte atualmente expostas em gabinetes na Esplanada
dos Ministérios e em outras repartições públicas.
O Banco Central, a Caixa Econômica Federal, o Banco do Brasil, o Palácio do Planalto e os ministérios da Fazenda e das Relações Exteriores, por exemplo,
abrigam em suas dependências
centenas de obras de arte.
Com o objetivo de apurar uma
eventual autoria criminosa do incêndio, a Polícia Federal instaurou ontem um inquérito. Trabalham no caso 11 policiais, sob a
coordenação do delegado Walmir
de Oliveira, diretor-executivo da
PF no Distrito Federal.
(JULIANNA SOFIA)
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