São Paulo, quinta-feira, 29 de dezembro de 2005

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PREVIDÊNCIA E ARTE

Desenho, do patrimônio do instituto, está em parede da presidência, que não foi atingida pelo incêndio

Fogo no INSS poupa obra atribuída a Picasso

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O fogo que destruiu anteontem parte da sede do INSS (Instituto Nacional do Seguro Social) em Brasília poupou uma obra atribuída ao artista espanhol Pablo Picasso (1881-1973). O quadro, com o desenho de uma mulher sentada com braços cruzados, escapou do incêndio que consumiu seis andares do edifício, aparentemente sem danos.
A obra só não foi destruída porque estava no terceiro andar do prédio, pendurada em uma parede do gabinete da presidência do instituto. Dos dez andares, os seis últimos foram totalmente afetados e setores do quarto foram danificados.
Apesar do suposto valor artístico do quadro, a obra, retirada ontem do prédio que pegou fogo, só será transferida hoje para o gabinete do ministro da Previdência, Nelson Machado, segundo informou a assessoria de imprensa do ministério. Ainda não se sabe qual será o destino da obra nem se há outros objetos artísticos de valor no local do incêndio.
Antes do incêndio, a mulher supostamente desenhada por Picasso passava os dias sob luzes fluorescentes e cercada por pilhas de papel. Fora achada por acaso no início do ano passado pelo historiador Francisco Azevedo, quando ele tentava recompor o acervo do INSS. Azevedo procurava por uma tela de Cândido Portinari e encontrou a mulher de Picasso.
As principais obras de arte do INSS faziam parte da coleção particular de Tomás Santa Rosa, comprada pelo antigo instituto de Previdência, o Ipase, em 1957, ano seguinte ao da morte do artista plástico pernambucano.
O Museu Santa Rosa -destino original da coleção- foi extinto. As obras passaram para o também extinto INPS no final dos anos 60 e viajaram para Brasília já nos anos 90, quando a direção do INSS mudou-se para a capital.

Autenticidade
O governo, no entanto, não tem certeza se dispõe ou não de um verdadeiro Pablo Picasso. A autenticidade do desenho é questionada, apesar de o historiador Francisco Azevedo afirmar ter encontrado uma assinatura do artista escondida pela moldura, durante a limpeza da obra.
O desenho é quase idêntico a uma pintura a óleo do artista espanhol que integra o acervo do Museu Metropolitan, de Nova York. A tela, pintada em 1923, retrata uma mulher sentada com braços cruzados, Sarah Murphy, uma amiga do artista.
Diante da contestação à autenticidade da obra, depois da publicação de sua descoberta pela Folha, o Ministério da Previdência ficou de contratar um especialista para avaliar o desenho. Mas não há notícia de um novo laudo.

Destino das obras
O fato de o quadro quase ter sido incinerado levantou novamente a discussão sobre o destino de obras de arte atualmente expostas em gabinetes na Esplanada dos Ministérios e em outras repartições públicas.
O Banco Central, a Caixa Econômica Federal, o Banco do Brasil, o Palácio do Planalto e os ministérios da Fazenda e das Relações Exteriores, por exemplo, abrigam em suas dependências centenas de obras de arte.
Com o objetivo de apurar uma eventual autoria criminosa do incêndio, a Polícia Federal instaurou ontem um inquérito. Trabalham no caso 11 policiais, sob a coordenação do delegado Walmir de Oliveira, diretor-executivo da PF no Distrito Federal.
(JULIANNA SOFIA)


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